Pelo menos nove mil rohingyas morreram no Estado de Rakhine, na Birmânia (Myanmar), entre 25 de agosto e 24 de setembro, segundo investigações dos Médicos Sem Fronteiras em acampamentos de refugiados no Bangladesh, divulgou hoje a organização.
Segundo os MSF, os resultados dos estudos mostram que "os rohingyas foram alvo" de violência generalizada.
Os resultados indicam também que "a violência generalizada que começou a 25 de agosto, quando os militares da Birmânia, a polícia e milícias locais lançaram `operações de varredura` em Rakhine, em resposta aos ataques do Exército de Salvação Arakan Rohingya".
Desde então, mais de 647.000 rohingyas fugiram da Birmânia para Bangladesh.
"Nós encontrámo-nos e falámos com sobreviventes da violência em Mianmar, que agora estão abrigados em acampamentos superlotados e insalubres no Bangladesh", disse o médico Sidney Wong, diretor médico dos MSF.
"O que descobrimos foi assombroso, tanto pelo número de pessoas que relataram que um membro da família morreu devido à violência, como por causa das formas terríveis pelas quais elas disseram que os parentes foram mortos ou gravemente feridos. O pico das mortes coincide com o lançamento das mais recentes `operações de varredura` das forças de segurança de Mianmar, na última semana de agosto", disse Wong.
No início de novembro, a MSF realizou seis estudos retrospetivos de mortalidade em diferentes setores dos acampamentos de refugiados em Cox`s Bazar, no Bangladesh, na fronteira com a Birmânia.
A população total das áreas abrangidas pelas investigações foi de 608.108 pessoas, 503.698 haviam fugido da Birmânia após o dia 25 de agosto e 100.464 eram crianças menores de 5 anos.
A taxa geral de mortalidade de pessoas nas famílias investigadas, no período entre 25 de agosto e 24 de setembro, foi de oito em cada 10 mil pessoas por dia.
Isso equivale à morte de 2,26% (entre 1,87% e 2,73%) da população estudada. Se essa proporção for aplicada à população total que chegou desde 25 de agosto aos campos cobertos pelas investigações, isso sugere que entre 9.425 e 13.759 rohingya morreram nos primeiros 31 dias após o início da violência, incluindo pelo menos 1.000 crianças menores de cinco anos.
No geral, os tiros foram a causa em 69% das mortes relacionadas com a violência, seguidos de pessoas queimadas até morrerem nas suas casas (9%) e espancadas até a morte (5%).
Entre as crianças com idade inferior a cinco anos, mais de 59% das que foram mortas durante esse período foram alvo de tiros, 15% foram queimadas até a morte em casa, 7% foram espancadas até a morte e 2% morreram devido a explosões de minas terrestres.
"O número de mortes provavelmente está subestimado, já que não estudamos em todos os acampamentos de refugiados em Bangladesh, e porque as investigações não contabilizam as famílias que nunca chegaram a sair de Mianmar", afirmou Sidney Wong.
"As pessoas ainda estão a fugir de Mianmar para o Bangladesh e aqueles que conseguem atravessar a fronteira ainda relatam ter sido vítimas de violência nas últimas semanas", acrescentou Wong.
Para os Médicos Sem Fronteiras, a assinatura de um acordo entre os Governos de Mianmar e o Bangladesh para o retorno dos refugiados é prematura.
"Os rohingyas não devem ser forçados a retornarem e sua segurança e direitos precisam de ser garantidos antes que tais planos possam ser seriamente considerados", vincam os MSF.
Em meados de agosto, o Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA) atacou posições das forças de segurança birmanesas e esses ataques desencadearam uma repressão devastadora pelo exército e polícia, forçando os rohingyas, uma minoria muçulmana, a fugir do estado birmanês de Rakhine para o Bangladesh.