Pequim diz "não" a pedido de Trump para investigar o clã Biden

por RTP
Tom Brenner, Reuters

A diplomacia chinesa acaba de fazer saber a Washington que Pequim não tem qualquer desejo de se intrometer na política interna norte-americana. O Presidente Donald Trump lançou um pedido público às autoridades chinesas para que investigassem Joe Biden, seu provável concorrente democrata nas Presidenciais de 2020. A resposta foi “não”.

“Não queremos meter-nos no meio da política dos Estados Unidos”, afirmou um diplomata chinês quando confrontado com o pedido do Presidente Trump a Pequim para que investigue o candidato presidencial Joe Biden e o seu filho Hunter Biden a propósito dos negócios da família na China.

Na leitura da CNN, porém, não há nesta resposta meramente um desejo de evitar a entrada na confusão em que pode tornar-se a campanha eleitoral para a eleição do presidente no próximo ano. É, antes de tudo, o cumprimento de uma premissa da diplomacia chinesa que vem de há décadas.

Ao impor-se o princípio da não-interferência nas questões e escolhas políticas de países terceiros, Pequim está a resguardar um cenário de reciprocidade em que não admite que do exterior alguém possa imiscuir-se nas suas decisões, como agora com Hong Kong, por exemplo.

Mas o Presidente Trump não viu qualquer problema no pedido de ajuda a um país terceiro para resolver um problema que a sua candidatura poderá vir a enfrentar e, durante um contato com os media nos jardins da Casa Branca, deixou um pedido aberto às autoridades chinesas – referindo que a situação dos Biden na China era ainda “mais grave” do que na Ucrânia – para que investigassem Joe Biden e o filho relativamente a negócios em terras do gigante asiático.

Esta declaração está a ser vista como prova de que Trump deixou de tentar preservar os valores mais básico da democracia americana e a reações no Twitter surgiram dos lugares mais insuspeitos. “O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a usar o poder da sua Administração para interferir nas eleições de 2020”, acusa a MSNBC.

A estação faz notar que esta é a admissão na primeira pessoa das acusações que estão a fundamentar o inquérito lançado dela presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, com vista ao processo de impeachment do Presidente.

A estação norte-americana aponta ainda um outro episódio com base na informação de duas fontes que estarão a par de um telefonema do Presidente Trump para o seu homólogo chinês, Xi Jinping: Trump terá prometido manter-se quieto em relação à situação em Hong Kong em troca de um avanço nas relações comerciais entre os dois gigantes mundiais. A reação manteve-se também aqui: as negociações não se mexeram.

Não sendo líquido que os chineses não mexam os seus pauzinhos na orientação de algumas questões em determinados países, é no entanto apontado um erro de estratégia a Trump quando procura a interferência de Pequim em questões que podem mexer com o futuro político de Washington.

A CNN lembra como, na mecânica do Conselho de Segurança, a China procura afastar-se das questões dos Direitos Humanos e enquadrar as questões o mais possível segundo os objectivos do desenvolvimento económico.

No mês passado, Pequim fez questão de reafirmar claramente o seu posicionamento nas Nações Unidas: “Para que as relações entre a China e os Estados Unidos permaneçam estáveis, é muito importante que nos respeitemos mutuamente no que diz respeito à soberania [territorial] de cada um, modelo social e de desenvolvimento, e procurar não impor ao outro a vontade de cada um”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi.

“A China nunca irá interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos e acreditamos que os americanos são capazes de resolver os seus próprios problemas. Da mesma forma, esperamos que os Estados Unidos tratem a China da mesma maneira e que não interfiram nos assuntos internos da China”, clarificou Wang Yi, o que parece por si esvaziar de sentido o pedido lançado por Trump.
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