Pelo segundo dia consecutivo, milhares de peruanos preencheram as ruas de Lima para contestar o perdão concedido ao antigo Presidente Alberto Fujimori, internado com problemas cardíacos. Polícia e manifestantes voltaram a defrontar-se durante a última noite na capital daquele país sul-americano.
“Fora, fora PPK”, gritaram os peruanos que na noite de segunda-feira quiseram, tal como na véspera, contestar a amnistia, empregando o acrónimo do Presidente.
Fujimori foi internado no sábado com arritmia e tensão arterial baixa. Diante da clínica onde se encontra o antigo Chefe de Estado estiveram centenas de apoiantes, que festejaram a libertação. As autoridades têm procurado vedar o local às manifestações de sinal contrário, sucedendo-se as cargas policiais e os lançamentos de granadas de gás lacrimogéneo.
Presidente do Peru de 1990 a 2000, Alberto Fujimori, de 79 anos e origem japonesa, foi condenado, entre outros crimes, por ter orquestrado o assassinato de 25 pessoas - cometido por um esquadrão da morte durante o combate à guerrilha maoista do Sendero Luminoso. Emanuel Boavista - RTP
As últimas sondagens indicam que 65 por cento dos peruanos viam com bons olhos a concessão de uma amnistia ao antigo Presidente.
“Uma ofensa às vítimas”
Entre os manifestantes estiveram representantes e familiares de vítimas das políticas “antiterroristas” de Alberto Fujimori.
“Faz tudo parte de um jogo político, as razões de saúde não são claras. Estamos aqui para denunciar este perdão ilegal, pois ele não corresponde à gravidade dos delitos sancionados”, clamava ontem Gisella Ortiz, porta-voz de um grupo de famílias, citada pela France Presse.
Na mesma linha, Paulo Abrão, secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, recorreu à rede social Twitter para condenar o que considerou ser “uma decisão política que ignora a proporção entre a amnistia e a gravidade dos crimes contra a humanidade”.
Indultar a #Fujimori, habiendo la opción de trasladarlo a un hospital, personalmente me parece acto político que ignora la proporción entre el perdón de la pena y la gravedad de los delitos de lesahumanidad. Una ofensa a las victimas. No es reconciliación. Es simples impunidad.
— Paulo Abrāo (@PauloAbrao) 25 de dezembro de 2017
“É uma ofensa às vítimas. Não é uma reconciliação. É simplesmente impunidade”, reforçou.
PPK sob pressão
Pablo Kuczynski invocou uma recomendação médica para perdoar Alberto Fujimori, numa decisão tomada 72 horas depois de ter ele mesmo sobrevivido a um processo de destituição no Parlamento.
O atual Presidente peruano foi acusado de ter mentido sobre as suas ligações à brasileira Odebrecht, que reconheceu ter pago quase cinco milhões de dólares a empresas ligadas a Pedro Pablo Kuczynski quando este era ministro, de 2004 a 2013.
O processo de destituição “por incapacidade moral” chegou à fase de votação na passada quinta-feira. Eram necessários 87 votos numa câmara de 130 legisladores para que o Presidente caísse. Mas a moção não foi além dos 79 sufrágios a favor. Dezanove deputados votaram contra e 21 abstiveram-se.
A votação acabou por expor a linha de fratura no seio da Fuerza Popular. O maior partido da oposição assiste a uma luta interna de poder entre a filha de Alberto Fujimori, Keiko, e o irmão, Kenji, que se juntou a outros nove deputados da sua força política na abstenção.
c/ agências internacionais
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