Polícia saudita fez desaparecer familiares de exilado para obrigá-lo a regressar

por RTP
Reuters

Saad al-Jabri está exilado no Canadá desde 2017 e, para o pressionar a voltar ao reino, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman está a usar a sua família como refém. Dois filhos e um irmão do ex-agente dos serviços de inteligência estão desaparecidos e "incontactáveis".

Desempenhou funções importantes na luta contra a Al Qaeda e na coordenação de segurança com os Estados Unidos: Saad Aljabri foi um dos principais funcionários dos serviços de inteligência da Arábia Saudita, durante o reinado do ex-príncipe herdeiro e ministro do Interior, Mohamed bin Nayef.

Mas desde a ascenção de Mohamed bin Salman, em 2017, que Aljabri vive exilado no Canadá. Embora ande a resistir à crescente pressão do príncipe herdeiro para regressar à Arábia Saudita, o ex-agente tem enfrentado frequentes ameaças do reino.

Desta vez os alvos foram dois dos seus filhos, que ficaram na Arábia Saudita, e o seu irmão: foram presos pelas forças de segurança sauditas e estão desaparecidos e incontactáveis desde março.

"Faz semanas que não sabemos onde eles estão", disse ao New York Times Khalid Aljabri, um filho de Saad que também mora no Canadá.

"Eles foram levados das suas camas. Eu nem sei se estão vivos ou mortos", acrescentou.

Os dois únicos filhos de Saad que ficaram em Riad - Omar, de 21 anos, e Sarah, de 20 anos - foram presos no dia 16 de março, numa operação na casa onde viviam. Desde junho de 2017, quando Mohamed bin Salman ascendeu ao trono, os filhos de Aljabri ficaram proibidos de sair do país, viram as contas bancárias serem congeladas e foram instruídos para convencer o pai a regressar à Arábia Saudita.

Na semana passada, um irmão de Saad foi adicionado à lista de detenções do príncipe herdeiro.

De acordo com o jornal norte-americano, as autoridades sauditas não confirmaram as detenções e os funcionários da Embaixada saudita em Washington não quiseram comentar.
Saad é pressionado por príncipe herdeiro
Tanto Khalid Aljabri como ex-funcionários dos Estados Unidos que trabalharam com Saad consideram que o príncipe Mohammed, conhecido pelas iniciais MBS, quer forçar Aljabri a retornar à Arábia Saudita porque receia deixar em liberdade alguém que tenha acesso a tanta informação secreta, como um ex-agente dos serviços de inteligência do país.

"A questão mais ampla é que MBS está nervoso por ter alguém que está fora de seu controlo", disse Gerald M. Feierstein, vice-presidente sénior do Instituto do Médio Oriente em Washington, que trabalhou com Aljabri enquanto embaixador dos Estados Unidos no Iémen.

Aljabri conhecia em primeira mão várias questões sensíveis quando esteve o serviço ao reino e possivelmente saberia "onde estão os corpos enterrados", ou até saberia informações pouco lisonjeiras sobre o príncipe Mohammed, disse ainda Feierstein.

Bruce Riedel, ex-funcionário da CIA afirmou ao NYT que o sistema de segurança do Ministério do Interior era como um tesouro com os segredos do reino, incluindo as atividades de membros da família real, esquemas de corrupção e crimes.

"Os arquivos deles serão o catálogo de todos os incidentes desagradáveis, desde o verdadeiramente ilegal até ao apenas embaraçoso", disse Riedel.

No entanto, há quem afirme que as autoridades sauditas o querem de regresso ao reino por alegadas acusações de corrupção, embora as autoridades nunca tenham revelado tal acusação contra Aljabri.

Formado em computação e doutorado na área da inteligência artificial, Saad chegou a general e a ter um cargo no Ministério do Interior. Mas em setembro de 2015, após uma reunião em Washington com o então diretor da CIA John Brennan, da qual Bin Salman não teria sido informado, Saad foi demitido por decreto real, já em consequência dos confrontos com o primo Bin Nayef.

Aljabri nunca expressou publicamente não ser a favor do príncipe Mohammed, mas era um forte aliado do principal rival, o príncipe Mohammed bin Nayef. É sabido que o príncipe MBS tem perseguido críticos e rivais, tanto no país como no exterior, incluindo o escritor e jornalista Jamal Khashoggi, morto após publicar colunas de opinião críticas ao príncipe Mohammed no Washington Post.

Mesmo o príncipe Mohammed bin Nayef, que liderava o Ministério do Interior, foi detido em março, alegadamente porque criticou a governação do príncipe herdeiro.
Tópicos
pub