Polícias suspensos. Homem de origem hispânica morre ao ser detido nos EUA

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Imagens de vídeo, divulgadas esta semana pelo Departamento da Polícia de Alameda, na Califórnia, mostram a detenção de um homem hispano-americano que acabou por morrer depois de ter sido imobilizado de barriga para baixo durante cinco minutos. O incidente e a morte de Mario Arenales Gonzalez, de 26 anos, estão a ser investigados, tendo sido suspensos os agentes envolvidos.

No passado dia 19 de abril, Mario Arenales Gonzalez morreu sob custódia policial depois de ter sido imobilizado por três agentes, de bruços, durante cinco minutos. A Polícia do Condado de Alameda, no Estado da Califórnia, divulgou na terça-feira as imagens captadas pelas camâras incorporadas no equipamento policial e dois áudios relativos à interação com o homem hispânico de 26 anos.

As imagens mostram as interações iniciais com a vítima, a tentativa de detenção e a imobilização quando Gonzalez tentou resitir, ficando depois sem sentidos. Embora tenham sido iniciadas as medidas de primeiros socorros imediatamente, o homem acabou por morrer.

Para além das imagens de vídeo, a polícia de Alameda divulgou ainda duas gravações de áudio de telefonemas anteriores à detenção, realizados por duas pessoas a denunciar um homem hispânico, que mais tarde foi identificado como Mario Arenales Gonzalez.

Uma das pessoas diz que Gonzalez estava alcoolizado na rua, perto de um parque, e a outra afirma que o homem estava a falar sozinho junto do seu quintal, mas sublinha: "Ele não está a fazer nada de mal. A minha mulher é que está assustada".

Como em ambas as denúncias foi descrito que o homem possuía duas cestas de compras, a polícia começou por contactar lojas na zona para saber se tinha havido algum relato de assalto, como se ouve no vídeo.



Chegando ao local, um dos polícias tenta falar com Gonzalez, perguntando-lhe como se chama, se conhece o Condado de Alameda e se está a pensar em fazer mal a si próprio ou a outra pessoa. Mas, nas várias tentativas dos agentes, que tentaram manter a conversa para conseguir saber o nome do homem,  Gonzalez mostrou estar a ter dificuldades em responder.

Entretanto, aproxima-se outro agente e, como revela o vídeo, tenta explicar a Mario que precisam de o identificar.

"Temos de o identificar, para saber com quem estamos a falar, para termos a certeza de que não tem mandados de busca ou algo parecido. Diga-nos o que vai fazer, diga-nos que não vai andar aí a beber nos parques. E depois vai cada um à sua vida", disse o polícia.

"Vamos ao parque?", respondeu Mario Arenales Gonzalez, demonstrando manter dificuldade em continuar uma conversa.

Os dois agentes pedem, então, a identificação ao homem e dizem-lhe para manter as mãos fora dos bolsos. Gonzalez ignorou e tentou resistir e os agentes acabaram por usar força física para o tentar imobilizar.

"Por favor, pode pôr a sua mão atrás das costas e parar de resistir?", ouve-se o segundo polícia a dizer enquanto tentam detê-lo.

À semelhança do que aconteceu com George Floyd, os agentes conseguem imobilizar Gonzalez de barriga para baixo, na posição de decúbito ventral, na qual o homem permaneceu durante cinco minutos. Quando finalmente o conseguem algemar, o primeiro agente questiona o que devem fazer, visto que ele continua a resistir, e se o devem manter preso.

"Está tudo bem, Mario", disse. "Nós vamos cuidar de si".

Os agentes tentam mantê-lo a falar, continuando a fazer perguntas enquanto o detêm, mas o homem começa a mostrar dificuldade em respirar. Um terceiro polícia aproxima-se e questiona os colegas se não o deviam pôr de lado.

"Não quero perder controlo", ouve-se o segundo agente a responder. "Não estamos sequer a fazer peso no peito dele, nada".

Perante os pedidos de Gonzalez, o primeiro agente tenta mudar a sua posição e ouve-se o segundo a repetir: "Não, não, não. Sem peso, sem peso, sem peso". Segundos depois apercebem-se que o homem deixou de responder.
Ficou "sem sentidos quase imediatamente"
O vídeo mostra Mario Arenales Gonzalez a perder os sentidos de repente, depois de ter sido algemado e de ter tentado resistir, e a ser imediatamente socorrido pelos polícias que o detiveram. Segundo o relatório policial inicial, houve uma "altercação física" durante a detenção e Gonzalez teve "uma emergência médica", acabando por falecer no hospital nesse dia.

"Os agentes da polícia tentaram deter o homem e houve uma altercação física", lê-se no documento. "O homem teve uma emergência médica. Os agentes iniciaram de imediato as medidas de primeiros socorrer e solicitaram a ajuda do Corpo de Bombeiros da Alameda no local".

Segundo as imagens, assim que repararam que Mario Arenales Gonzalez deixou de responder, os polícias posicionaram-no de lado, e depois de costas, e começaram a tentar socorrê-lo com compressões torácicas.

Quando chegou a equipa de médicos socorristas, um dos agentes explica que lhe administraram um medicamento para reverter a overdose e afirma: "Ele passou de combativo a sem sentidos quase imediatamente".

Julia Sherwin, a advogada que representa a família do homem hispano-americano, considera que o que é descrito no relatório da Polícia de Alameda é "desinformação", fazendo uma comparação ao relatório policial inicial após a morte de George Floyd, em maio de 2020, e questionando ainda a necessidade do uso de força para deter Mário Arenales Gonzalez, segundo cita o New York Times.

"A morte dele era completamente evitável e desnecessária", disse a advogada, acrescentando: "Estar bêbado num parque não equivale a uma pena de morte".

Numa conferência de imprensa o irmão da vítima, Gerardo Gonzalez, afirmou que Mario não representava nenhuma ameaça no momento em que foi detido e morreu.

"Os polícias de Alameda assassinaram o meu irmão", disse.

Os três polícias envolvidos, Eric McKinley, Cameron Leahy e James Fisher, estão sob baixa administrativa, desde o incidente. Além disso, estão a decorrer investigações por parte do departamento de polícia do condado e por parte da procuradoria-geral local sobre o sucedido que levou à morte do homem de 26 anos, durante a detenção policial.

Este incidente aconteceu no dia 19 de abril, um dia antes de se tornar conhecida a sentença do antigo polícia Derek Chauvin, considerado culpado pelo homicídio de George Floyd.

Recorde-se que vários especialistas testemunharam, durante o julgamento de Chauvin, que a posição de decúbito ventral, durante uma detenção policial, seria perigosa por poder prejudicar a respiração da vítima e que os agentes deviam colocar os suspeitos imediatamente de lado, assim que fossem algemados.
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