"Por amor de Deus, vá-se embora". Boris Johnson enfrenta uma crescente revolta dos deputados

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Boris Johnson regressou esta quarta-feira ao parlamento britânico para enfrentar as críticas dos deputados num debate que ficou mais uma vez marcado pelas polémicas festas em Downing Street. Crescem os pedidos de demissão de Johnson, nomeadamente entre deputados do partido conservador.

Boris Johnson está cada vez mais isolado e perto da demissão à medida que vão sendo desvendadas mais polémicas em Downing Street, nomeadamente festas que ocorreram na época em que o Reino Unido estava em confinamento.

O primeiro sinal de perda de apoio e de confiança do seu próprio chegou esta quarta-feira, ainda antes do início do debate, quando o deputado Christian Wakeford saiu da bancada conservadora e se mudou para a bancada trabalhista. “Tanto o primeiro-ministro como o Partido Conservador como um todo mostraram-se incapazes de oferecer a liderança e a governação que este país merece”, declarou o desertor conservador ao primeiro-ministro britânico.

O segundo momento alto do debate foi protagonizado por David Davis, membro do Partido Conservador e um dos grandes defensores de Boris Johnson na pasta do Brexit, ao pedir diretamente ao primeiro-ministro que se demitisse. "Passei semanas e meses a defender o primeiro-ministro contra eleitores frequentemente furiosos", disse o deputado conservador. “Mas espero que os meus líderes assumam a responsabilidade pelas decisões que tomam”, acrescentou. “Por amor de Deus, vá-se embora”, pediu Davis.


“Quando o primeiro-ministro tem que gastar o seu tempo a tentar convencer o público britânico de que é estúpido e não desonesto, não é hora de se ir embora?”, questionou a deputada trabalhista Diana Johnson.

Boris Johnson pediu várias vezes desculpa pela festa que ocorreu em Downing Street durante o confinamento e explicou que sempre pensou que era um evento de trabalho e não uma festa. Na terça-feira, Johnson voltou a afirmar que ninguém o avisou que era “um evento contra as regras”.

“O primeiro-ministro espera que acreditemos que, enquanto todas as outras pessoas convidadas a 20 de maio para a festa foram informadas de que era um evento social, somente ele foi informado de que era uma reunião de trabalho?”, questionou Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, no parlamento.


“O primeiro-ministro também espera que acreditemos que, enquanto ele bebia e comia sanduíches, ele não percebeu que era uma festa?”, continuou a questionar Starmer.

Boris Johnson tem procurado resistir a todas as críticas e declarou que não renunciaria ao cargo, defendendo que é preciso aguardar pelo relatório de investigação sobre as alegadas festas realizadas em Downing Street durante o período em que o Reino Unido estava em confinamento.

“Cabe ao inquérito apresentar uma explicação sobre o que aconteceu”, disse Johnson, afirmando que o relatório deverá ser publicado na próxima semana.

Para fugir às perguntas dos deputados relativamente às recentes polémicas, Johnson preferiu falar sobre a economia e a pandemia, anunciando novas medidas para o país. A partir de quinta-feira, deixa de ser obrigatório o uso da máscara, o teletrabalho deixa de ser aconselhado e o passe sanitário deixa de ser obrigatório em locais públicos, como teatros ou salas de espetáculo e estádios de futebol.

Johnson corre, no entanto, o risco de não conseguir escapar à votação de uma moção de confiança que ditará o seu futuro enquanto primeiro-ministro britânico. Tal acontecerá se 54 dos 360 deputados conservadores escreverem cartas no sentido da moção de censura ao presidente do "Comité 1922" do partido.

Até ao momento, apenas 12 deputados anunciaram ter escrito essas cartas, mas estima-se que outras dezenas estejam a pensar fazê-lo ou já tenham as cartas em andamento. Segundo o jornal Telegraph, uns 20 deputados conservadores já manifestaram essa intenção.
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