Portugal quer convencer Maduro a apoiar a reconstrução de negócios afetados pelas pilhagens

por Rui Sá, Cesário Camacho, João Fernando Ramos

O secretário de Estado das Comunidades e o secretário regional da Madeira partem esta terça-feira para a Venezuela. Vão tentar dialogar com as autoridades de Caracas e garantir a segurança da comunidade portuguesa. "Vamos procurar mobilizar apoios financeiros para aqueles que têm sido vitimas das pilhagens e dos assaltos já que o governo venezuelano reconhece a importância fundamental da comunidade portuguesa no setor da distribuição", disse José Luís Carneiro no Jornal 2.

Os confrontos violentos continuam. Entre portugueses e luso-descendentes há um milhão e trezentas mil pessoas à espera de ajuda vinda de Lisboa.

Mesmo depois de cinquenta e seis mortos e centenas de feridos a oposição não desiste de pedir eleições na Venezuela. O governo de Maduro não cede.

As manifestações violentas acontecem todos os dias.

Entre os 30 milhões de venezuelanos há 400 mil cidadãos portugueses no país. Na Madeira, de onde partiu a maioria, ouvem-se também palavras de ordem.

Estima-se que alguns milhares de imigrantes portugueses tenham já saído do país. O Brasil, a Colômbia e Espanha têm sido destinos preferenciais fora da Madeira.

Por cá não há estatísticas sobre regressos. Números oficiais só o dos 700 ex-emigrantes inscritos nos centros de emprego da região autónoma.

Nas ruas do Funchal, quem regressou, e familiares dos que se mantêm na Venezuela, pedem paz para o país e falam dos receios de não conseguirem fugir do país caso os problemas se agravem.

Há um milhão e trezentos mil luso-descendentes na Venezuela. A maioria não quer efetivamente deixar o país. Algo que se tornou agora mais dificil com a TAP a decidir acabar com a venda de bilhetes naquele país.

A companhia aérea de bandeira portuguesa mantém três ligações semanais entre Caracas e Lisboa, mas Fernando Pinto decidiu cancelar a venda de passagens por não ser possível à empresa retirar do país o dinheiro proveniente das vendas.

Fernando Pinto, CEO da TAP, avançou o número do prejuízo causado por esta situação em 2015: 91 milhões de euros.

No Jornal 2 o secretário de Estado das comunidades afirmou estar em ligação permanente não apenas com a TAP mas com outras companhias que asseguram transporte marítimo a partir da região para a Madeira.

"No caso da TAP os bilhetes continuam a poder ser comprados noutros pontos. O problema é a desvalorização da moeda que tornou as viagens demasiado caras para a maioria das famílias", disse o secretário de Estado. José Luís Carneiro lembrou que também os portugueses, e seus descendentes, enfrentam dificuldades em transferir dinheiro das contas venezuelanas para outros bancos, nomeadamente Portugal, o que dificulta as operações de compra das passagens aéreas.

O governo, com a ajuda de países como o Brasil, tem um plano de emergência para retirar um milhão de portugueses da Venezuela em caso de guerra civil. Um contingente de elementos do INEM e das forças armadas está a postos.

Por agora José Luís Carneiro fala num tempo para abrir canais de diálogo entre a comunidade portuguesa, as instituições que a representam, e as autoridades venezuelanas. O Secretário de Estado quer igualmente com esta viagem reforçar toda a rede de apoio consular no país por forma a dar resposta às necessidades de uma comunidade "que está espalhada em todos os recantos da Venezuela".

No Jornal 2, José Luís Carneiro garantiu estar também a acompanhar de perto a situação de insegurança que se vive atualmente na África do Sul. "Estive há poucas semanas no país. Visitei toda a rede consular. Há problemas de insegurança sobretudo em Joanesburgo, com assaltos a estabelecimentos de portugueses, mas ali, como na Venezuela, não se trata de uma violência dirigida à comunidade portuguesa. São casos que resultam da exposição de uma comunidade muito bem integrada com um papel muito relevante no setor da distribuição alimentar".
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