PR guineense dissolveu parlamento porque quer "submissão total" do país

por Lusa

O investigador guineense Wilson Te defendeu hoje que o Presidente da Guiné-Bissau dissolveu o parlamento porque "quer uma submissão total" do país e alertou que a decisão "vai ter consequências" porque a Assembleia Nacional "era o único órgão legítimo".

"Ele quer uma submissão total, em que a vontade dele, a agenda dele, tem de imperar", disse o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa, um dia após o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolver o parlamento da Guiné-Bissau e marcar eleições legislativas para 18 de dezembro.

Em declarações à Lusa por telefone, Te justificou a decisão do chefe de Estado guineense com "a investida de Sissoco, de querer ser o único chefe" na Guiné-Bissau.

Segundo o investigador, essa vontade foi expressa em diversas entrevistas do Presidente, mas também nos seus atos, nomeadamente quando mudou a data da celebração da Independência, que era dia 24 de setembro, para o dia 17 de novembro.

"Esta data que é sagrada para os guineenses, a data conquistada com o suor e o sangue dos antigos combatentes, mas à revelia de tudo, de todos, ele conseguiu transferi-la", recordou.

Ou quando assinou um acordo sobre exploração de petróleo com o Senegal, usurpando uma "competência exclusiva do Governo".

No entanto, Sissoco foi desafiado pelo parlamento, nomeadamente quando os deputados anularam esse acordo com o Senegal, o que terá levado o chefe de Estado a dissolver o parlamento para conseguir "um parlamento mais submisso, um parlamento de `sim senhor`, em que um deputado não poderia questionar" o Presidente.

Questionado sobre o argumento usado por Sissoco Embaló para justificar a sua decisão - os deputados estarem a transformar a Assembleia Nacional Popular num "espaço de guerrilha" e "conspiração" -- Te disse que "essa justificativa não pega porque é uma coisa que ele já queria".

O analista defendeu ainda que a decisão do Presidente "vai ter consequências", porque dissolver o parlamento "mexe com a vida de uma nação inteira, quer dizer que o país voltou ao nível zero, vai recomeçar tudo de novo".

"Não é uma boa decisão", disse, argumentando que, apesar de o parlamento não estar a funcionar da melhor forma, "era o único órgão legítimo existente até aqui".

"Agora, com a sua dissolução estamos perante um não Estado", alertou.

Classificou ainda como "uma brincadeira" que se peça mais uma vez ajuda à comunidade internacional para financiar novas eleições, três anos depois das legislativas de 2019.

"A comunidade internacional precisa de ajudar a Guiné a desenvolver-se noutros setores, não toda a hora a realizar eleições", argumentou.

Além disso, alertou que a Constituição guineense diz que, após a dissolução do parlamento, as eleições devem ser marcadas num prazo de três meses, mas o Presidente marcou-as para dezembro.

"Porquê esses oito meses? O que vai acontecer? Que tipo de Governo ele vai ter", questionou.

Para Wilson Te, Sissoco caiu "no mesmo erro" do ex-presidente José Mário Vaz: "Criar crises e depois tentar resolver".

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