PR timorense lembra resistência, pede união e critica os que "procuram cadeiras"

por Lusa

Díli, 20 nov (Lusa) - O Presidente timorense recordou hoje a união que levou à vitória da resistência à ocupação indonésia para criticar, num discurso perante as forças de defesa, os que "derrubam irmãos" para ocupar cadeiras de poder.

"Nós não procurávamos cadeiras, não derrubávamos irmãos para ocupar cadeiras. Naquele tempo, nós que servíamos o país e o povo sabíamos que a recompensa podia ser a prisão, ou perder a vida", disse Francisco Guterres Lu-Olo.

"Resistimos e ganhámos porque demos as mãos, entre irmãos, para servir o país. Os combatentes e o povo protegeram-se mutuamente. Foi assim que vencemos e foi assim que as Falintil [Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste] e o povo elevaram bem alto a nossa identidade timorense", afirmou.

Lu-Olo falava na abertura de um seminário sobre direitos humanos e a missão das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), organizado em conjunto com a Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça, o comando das F-FDTL, o Ministério da Defesa e Segurança e a Casa Militar da Presidência da República.

O discurso, numa altura de grande tensão política em Timor-Leste, foi feito na mesma altura em que, no Parlamento Nacional, a oposição maioritária apresentava uma moção de censura ao Governo cuja aprovação implica a demissão do Governo, cabendo a Lu-Olo decidir se opta por nova solução governativa no atual cenário parlamentar ou por eleições antecipadas.

"Acredito que os timorenses podem voltar a dar as mãos uns aos outros, para vencermos juntos o desafio do desenvolvimento e da eliminação da pobreza. Esta tem der ser a prioridade número um no nosso país", disse Lu-Olo.

"Acredito que, depois de restaurarmos a independência, somos capazes de reforçar o espírito nacionalista e a unidade para vencermos os combates da paz, como fomos capazes de vencer as batalhas da libertação", considerou.

Na sua intervenção, Lu-Olo lembrou que também o êxito das F-FDTL depende da sua capacidade de "transmitir às novas gerações aquele segredo: a unidade do povo e dos militares que faz a diferença entre o êxito contra o falhanço".

"Os militares existem para proteger o povo, incluindo garantir e promover os Direitos Humanos dos cidadãos, para juntos realizarmos a sociedade estável e harmoniosa por que lutámos até vencermos", disse.

Apelando aos militares timorenses para que "elevem bem alto o espírito nacionalista e o amor ao país", o chefe de Estado recordou que os timorenses lutaram, durante quase 25 anos, "para impor (...) o respeito pela dignidade e pelos Direitos Humanos dos timorenses" que foi "uma conquista da luta e do povo".

"No caso das Falintil-FDTL, a própria história da instituição testemunha o amor do povo pela paz e a democracia: as Falintil foram uma força de guerrilha, que após a restauração da independência aceitou ser tutelada por civis democraticamente eleitos, transformando-se em F-FDTL", recordou.

O também comandante supremo das forças de defesa disse que as F-FDTL devem desenvolver e aprofundar as "suas capacidades operacionais para assistirem as necessidades do país em tarefas de desenvolvimento e, também, para aprofundarem as suas contribuições para a integração harmoniosa do país na comunidade internacional, a nível regional e mundial".

Neste âmbito, a "engenharia militar e outras especialidades das Forças podem e devem ter um papel de relevo no apoio a projetos de desenvolvimento regional e local, dentro do país, quando o governo o solicitar".

"O êxito no desempenho das vossas missões depende da disciplina e também do aprofundamento da preparação profissional e técnica dos militares. O respeito dos Direitos Humanos pelos militares é uma questão de disciplina e de profissionalismo", afirmou.

Lu-Olo referiu-se ainda ao facto positivo das F-FDTL reunirem efetivos de várias gerações, com alguns que ainda lutaram com as Falintil, o braço armado da resistência timorense à ocupação indonésia e outros que "jovens que tiveram a felicidade de chegar à vida adulta na terra libertada de Timor-Leste".

"O trabalho conjunto de gerações diferentes dá força às F-FDTL. A ligação das gerações de militares da Resistência com gerações jovens aumenta a coesão da sociedade e reforça a nossa identidade de timorenses", afirmou.

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