Prémio Mulheres na Ciência distingue estudos sobre redes cerebrais e regeneração

por Lusa

O Prémio L'Oréal "Mulheres na Ciência" distingue, este ano, investigadoras que estão a estudar a doença lúpus, a regeneração dos 'amortecedores' das vértebras, as redes cerebrais e a vida marinha, anunciou hoje a organização.

A distinção, no valor de 15 mil euros, é hoje entregue, em Lisboa, às cientistas Diana Madeira (Universidade de Aveiro), Joana Cabral (Universidade do Minho), Joana Caldeira (Universidade do Porto) e Patrícia Costa Reis (Universidade de Lisboa).

O Prémio "Mulheres na Ciência" é atribuído anualmente a jovens investigadoras, entre os 30 e os 36 anos, e financiado pela empresa de cosmética L`Oréal Portugal.

Diana Madeira quer perceber como as minhocas marinhas respondem às alterações climáticas e à poluição, enquanto Joana Cabral propõe-se trabalhar num modelo teórico capaz de explicar os mecanismos bioquímicos do cérebro que, quando alterados, estão na origem de doenças como a esquizofrenia ou depressão.

Joana Caldeira vai usar a técnica de edição genética CRISPR/Cas9 na regeneração dos discos intervertebrais, os `amortecedores` das vértebras que, quando danificados, levam à dor lombar e Patrícia Costa Reis irá aferir se as pessoas com lúpus, doença em que o sistema imunitário ataca o próprio corpo em vez de o proteger provocando inflamação, têm um intestino mais permeável, que poderá levar à passagem de bactérias para a circulação sanguínea desregulando o sistema imunitário.

Em declarações à Lusa, a investigadora Joana Cabral, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, disse que há "sinais cerebrais" relacionados, não se sabe porquê, com diferentes doenças neurológicas e psiquiátricas, como esquizofrenia, epilepsia ou transtorno obsessivo-compulsivo.

Partindo das "dinâmicas" geradas pelas redes de neurónios (células cerebrais), a cientista propõe-se construir, a partir de algoritmos computacionais, modelos teóricos que reproduzam esses sinais cerebrais, primeiro de pessoas saudáveis.

Estes modelos serão depois comparados e validados com os dados obtidos em eletroencefalografias e ressonâncias magnéticas funcionais, exames que registam a atividade cerebral.

Posteriormente, numa outra fase, fora do âmbito da proposta de trabalho com o qual foi premiada, a ideia será "manipular" um modelo teórico genérico que possa ajudar a compreender as alterações na rede neuronal associadas a doenças neurológicas ou psiquiátricas.

Joana Caldeira, investigadora do i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, vai usar a técnica de edição genética CRISPR/Cas9 para, como afirmou à Lusa, "recriar um ambiente acolhedor" para as células estaminais sobreviverem num "ambiente hostil" como os `amortecedores` das vértebras danificados e, assim, desempenharem "a sua função regenerativa".

As células estaminais são células que se diferenciam noutras e, por isso, podem substituir células que foram destruídas e regenerar tecidos com lesões.

Com a ferramenta de edição genética CRISPR/Cas9, a equipa coordenada por Joana Caldeira pretende reativar genes fetais (do feto) para potenciar melhor as terapias regenerativas com células estaminais humanas.

Segundo a cientista, a degeneração dos discos intervertebrais está ligada a alterações na `matriz extracelular` do disco (estrutura do disco que não tem células).

Patrícia Costa Reis, pediatra do Hospital de Santa Maria e investigadora do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, sintetizou à Lusa que vai "estudar a forma como as bactérias que habitam o intestino influenciam a atividade" da doença lúpus.

Para a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o âmbito do seu trabalho "permite pensar no lúpus", que pode provocar lesões na pele, e "noutras doenças autoimunes de uma perspetiva diferente e procurar encontrar novas formas de controlo" destas patologias.

Investigadora no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, Diana Madeira adiantou à Lusa que o seu grupo de trabalho vai avaliar como três gerações de poliquetas (minhocas que servem de isco aos pescadores e são alimento para muitas espécies marinhas) reagem ao aquecimento global e à poluição por metais pesados, alterando "parâmetros como crescimento, sobrevivência e reprodução", e verificar que "mecanismos moleculares explicam essas alterações".

Diana Madeira espera que o estudo, que está a ser desenvolvido em colaboração com a Universidade Nova de Lisboa e a universidade canadiana do Quebec, possa "estimar qual será a trajetória das populações" de invertebrados marinhos "numa escala de tempo mais alargada, se serão capazes ou não de sobreviver e reproduzir-se", e assim "adaptar os planos de conservação para o meio marinho" para "promover a sustentabilidade ambiental e dos recursos".

As quatro investigadoras distinguidas este ano com os Prémios L`Oréal "Mulheres na Ciência" foram selecionadas entre mais de 70 candidatas por um júri presidido pelo investigador e deputado Alexandre Quintanilha.

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