Prisão preventiva para dois dos suspeitos terroristas de Barcelona

por RTP
J.J. Guillen - EPA

O juiz Fernando Andreu decretou as medidas de coação aos quatro suspeitos de pertencerem à célula terrorista de Barcelona, interrogados em Madrid esta tarde à porta fechada.

Mohamed Houli Chemlal e Dris Oukabir ficaram em prisão preventiva, sem fiança. Já Mohamed Aallaa fica em liberdade provisória e o quarto, Salah el Kharib, viu a sua detenção prolongada por mais 72 horas.

O Ministério Público tinha pedido prisão preventiva para os quatro suspeitos.

Os quatro, Mohamed Houli Chemlal, Dris Oukabir, Salah El Karib e Mohamed Aallaa, foram detidos imediatamente antes ou logo depois dos atentados.

Esta terça-feira, chegaram cerca das oito e meia da manhã à sede do Tribunal, acusados de quatro crimes: de pertencer a uma organização terrorista, assassinato, estragos e posse de explosivos.

Todos os crimes se relacionam com uma célula terrorista liderada por um imã, de Ripoll, onde viviam e que os terá radicalizado.

Quinta-feira passada, os membros da célula efetuaram dois ataques lançando viaturas contra pessoas em áreas pedonais, nas Ramblas, em Barcelona, e em Cambrils, 20 quilómetros mais a sul.

Os atentados fizeram 15 mortos e mais de uma centena de feridos.
As medidas aplicadas
Os quatro suspeitos poderiam ser acusados de homicídios de cariz terrorista, afirmaram esta tarde fontes judiciais. O juiz não entendeu assim, para já.

Mohammed Houli Chemlal, de 21 anos, um dos principais suspeitos, que ficou ferido na explosão de uma casa em Alcanar, que vitimou igualmente o imã instigador do grupo, e Driss Oukabir, de 28 anos, que admitiu ter alugado duas carrinhas usadas pelos terroristas nos atentados, ficaram ambos em prisão preventiva.

Mohamed Aallaa, de 27 anos, detido em Ripoll e irmão de Sadi Aallaa, abatido em Cambrils, ficou em liberdade provisória, "já que os indícios existentes sobre a sua suposta colaboração com o grupo investigado não são suficientemente sólidos".

Por sua vez, Salah El Karib, de 34 anos, viu a sua detenção prolongada por mais 72 horas até que se esclareça a sua participação nos factos, através de novas diligências.

As investigações da polícia prosseguem agora em Vilafranca del Penedès, a cerca de 15 quilómetros de Subirats, onde se procura saber se Younes Abouyaaqoub, tido como condutor da carrinha que atropelou centenas de pessoas em Barcelona, terá tido cúmplices que o ajudaram a fugir até ser abatido a tiro, segunda-feira, na zona de Subirats.

Em Ripoll, uma denúncia levou a investigações num apartamento mas não resultaram alegadamente novos dados para a investigação.

Um outro fio de pesquisa está a ser seguido em Marrocos, onde foi detido um indivíduo com relações com os presumíveis autores dos atentados em Barcelona e Cambrils.
Alvo era a Sagrada Família
A grande revelação do dia coube a Mohamed Houli Chemlal, o alegado terrorista que ficou ferido na casa de Alcanar, na noite anterior aos atentados de Barcelona.

Chemlal afirmou esta terça-feira em tribunal que a ideia inicial do atentado era atacar a igreja da Sagrada Família, um ícone de Barcelona idealizado por Gaudí, além de outros monumentos.

Chemlal foi ouvido durante quase uma hora e meia em Madrid e confirmou as suspeitas das autoridades de como estava a ser planeado um atentado "de maior alcance", segundo o jornal espanhol El Mundo.

Mohamed Chemlal - 21 anos - indicou ainda como eram fabricadas as bombas e como conseguiram os materiais para as produzir, identificando ainda outros membros da célula jihadista que organizava o atentado.

Mohamed Houli Chemlal tinha ficado ferido na explosão da casa em Alcanar, em Tarragona, na passada quinta-feira, onde os terroristas preparavam explosivos para o que se julgava ser um plano mais ambicioso de ataque em Barcelona e que agora se veio a confirmar.

O testemunho de Chemlal terá sido crucial para entender o modo de funcionamento e a estratégia da célula terrorista dos atentados da Catalunha, que causaram 15 mortos e mais de 100 feridos.
O aluguer das carrinhas
O segundo suspeito ouvido esta tarde foi Dris Oukabir, de 28 anos, cujo passaporte foi encontrado na carrinha usada no atentado das Ramblas e que tinha sido alugada em seu nome.

Oukabir foi detido pela polícia após os atentados e começou por dizer que um seu irmão mais novo, Moussa de 17 anos e um dos homens abatido pela polícia em Cambrils, lhe tinha roubado o passaporte para alugar as carrinhas usadas pelos terroristas.

Esta terça-feira, contudo, Oukabir mudou o depoimento e admitiu ter sido ele mesmo a alugar duas carrinhas, afirmando que mentiu de início "por medo" e que desconhecia o uso que seria dado aos veículos.

De acordo com fontes judiciais citadas pelo jornal El Mundo, Oukabir afirmou assim ao juiz que lhe pediram ajuda para conseguir a carrinha de modo a levar alguns móveis até um apartamento para onde três membros da célula se iam mudar.

O suspeito também identificou o imã, es Satty, como o ideólogo do grupo mas referiu apenas que o via sempre "rodeado de jovens". Negou ainda que tivesse viajado com outros membros da célula até Paris, cinco dias antes dos atentados, referindo que o seu destino foi Marrocos por assuntos não relacionados com os atentados.
A célula
Depois de Dris Oukabir foram ouvidos Mohamed Aallaa, de 27 anos e Salah El Karib, de 34 anos, ouvidos cada um durante apenas meia hora por Fernando Andreu.

Aallaa, dono do Audi A3 usado em Cambrils, reconheceu a propriedade do veículo mas afirmou não ser ele quem o conduzia habitualmente.

Já El Karib, gerente de loja, reconheceu que empresta habitualmente o cartão de crédito a outras pessoas para compras, mediante uma comissão.

Afirmou que foi por isso que tanto Dris Oukabir como o imã Es Satty compraram através do seu nome bilhetes para viajar para Marrocos.

As ligações confirmadas são suficientes para a investigação implicar os quatro suspeitos como membros da célula terrorista formada pelo imã Abdelbaki es Satty em Ripoll e que integrava pelo menos 12 membros.

Além dos quatro, do imã, morto em Alcanar, e do condutor da carrinha, Younes Abouyaaqoub, foram identificados como terroristas cinco outros homens, todos mortos no atentado de Cambrils.

São eles Moussa Oukabir, de 17 anos, irmão de Dris Oukabir; Said Aalla, de 19 anos, cujo cartão de crédito foi encontrado numa furgoneta abandonada em Cambrils; El Houssaine Aboyaaqoub, irmão de Younes e menor de idade; Mohamed Hychami, de 24 anos, implicado também no aluguer dos veículos usados pelos terroristas; e o seu irmão, Omar Hychami, menor de idade.

As autoridades espanholas identificam ainda Youssef Aalla, que poderá tanto estar em fuga e procurado como ser o segundo morto na explosão da casa de Alcanar.
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