Produção da central nuclear turco-russa Akkuyu confirmada para 2023

por RTP
O Presidente truco, Tayyip Erdogan, recebe o seu homólogo russo, Vladimir Putin, no Palácio Presidencial em Ancara, dia 2 de abrili de 2018. Umit Bektas - Reuters

O primeiro dia de visita de Vladimir Putin à Turquia ficou marcado pela confirmação de que a produção da central nuclear turca de Akkuyu, a construir pela Rússia e já adiada por diversas vezes, deverá iniciar-se dentro de cinco anos.

Esta terça-feira, durante a cerimónia oficial de construção da central, a primeira do género em território turco, Putin agradeceu ainda ao seu homólogo, o Presidente turco, Reccep Tayyip Erdogan, a decisão de dar prioridade ao investimento estratégico em Akkuyu.O projeto de construção da central nuclear, a primeira da Turquia e que será erguida na província de Marsin (sul) pela gigante russa Companhia Estatal de Energia Nuclear (Rosatom), foi assinado em 2010 mas esbarrou com diversos adiamentos. Ficou mesmo quase comprometido na sequência da grave crise diplomática provocada pela destruição, em novembro de 2015, de um bombardeiro russo pela aviação turca na fronteira síria.

A central, orçada em 20 mil milhões de dólares, deverá ser constituída por quatro unidades cada uma capaz de produzir 1,200 megawatts.

A cerimónia oficial do início da construção da primeira unidade foi testemunhada pelos dois Presidentes em Ancara, através de transmissão vídeo.

"Quando as quatro unidades se ligarem à rede, a central irá colmatar 10 por cento das necessidades energéticas da Turquia", anunciou Erdogan, acrescentando que, apesar dos atrasos, mantém a expetativa de iniciar a produção em 2023.

A central inclui-se na "visão 2023" de Erdogan para marcar os 100 anos da fundação da moderna Turquia e pretende diminuir a dependência turca de energia externa. Tem sido amplamente contestada por ativistas anti-energia nuclear.

Apesar de algumas vozes duvidarem de que seja possível manter o prazo, a Rosatom já disse que está comprometida com a data.

A empresa russa procura ainda um parceiro na região que adquira uma participação de 49 por cento no projeto, já que receia não obter uma parte significativa do lucrativo contrato de construção.
Cimeira sobre a Síria
Além do lançamento da central de Akkuyu, a guerra na Síria deverá centrar os encontros de Putin com Erdogan. Ambos vão manter esta tarde conversações à porta fechada no palácio presidencial turco.

Ancara e Moscovo estão dos lados opostos da barricada síria, com a Turquia a apoiar grupos armados sunitas que se opõem ao Presidente sírio, Bashar al-Assad, e este a gozar do apoio russo e xiita-iraniano.

Na quarta-feira, os dois presidentes vão reunir de novo na capital turca, acompanhados desta vez pelo chefe de Estado iraniano, Hassan Rouhani, para uma cimeira trilateral sobre a Síria.

O entendimento entre Ancara e Moscovo deverá ser vital para a resolução do conflito. E já há áreas onde a cooperação é possível. A Rússia deu por exemplo luz verde à recente ofensiva turca contra a cidade de Afrin, no norte da Síria, controlada pelas milícias curdas-sírias que Ancara acusa de apoiar os grupos armados do PKK, a resistência curda na Turquia.
Incremento das relações bilaterais
A visita de dois dias Putin à Turquia, a primeira ao exterior desde que foi reeleito a 18 de março para um quarto mandato, decorre em plena crise diplomática entre a Rússia e o Ocidente após o envenenamento em solo britânico do ex-agente duplo Serguei Skripal, que Londres atribui a Moscovo.

Ancara manteve-se à margem da expulsão coordenada por diversos aliados do Reino Unido de diplomatas russos, numa reação às acusações de Londres que Moscovo considera insubstanciais.

Desde há mais de um ano que Putin e Erdogan deixaram incidentes e rivalidades regionais para trás, investindo em sólidas relações bilaterais. Ambos têm protagonizado nos últimos anos diversas fricções com o Ocidente.

Uma das recentes decisões que irritaram os aliados da Turquia na NATO, foi a aquisição por Ancara de sistemas de defesa russos S-400.

Ambos os Governos também aumentaram a cooperação no plano económico e energético, visível na construção do gasoduto TurkStream que permitirá a Moscovo contornar a Ucrânia, através do mar Negro e da Turquia, para exportar o seu gás em direção à Europa.

C/agências
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