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Putin anuncia candidatura às eleições presidenciais de 2018

por Andreia Martins - RTP
Vladimir Putin tem oscilado entre os cargos de primeiro-ministro e Presidente da Rússia desde 1999 Vasily Fedosenko - Reuters

O Presidente russo anunciou esta quarta-feira que será candidato às eleições presidenciais na Rússia, que se realizam em março do próximo ano. Se for eleito, Vladimir Putin alcança o quarto mandato no Kremlin.

Ao fim de quase duas décadas a liderar o Kremlin, Vladimir Putin volta a candidatar-se às eleições presidenciais para um mandato de seis anos até 2024.

“Anuncio a minha candidatura ao cargo de Presidente da Rússia”, afirmou esta quarta-feira numa declaração transmitida na televisão estatal, citada pela agência France-Presse.

O atual Presidente russo ocupa desde 1999 as principais posições de poder no Kremlin. Começou por assumir a função de primeiro-ministro, entre 1999 até 2000, para nesse mesmo ano chegar pela primeira vez à Presidência da Rússia. Foi reeleito para um segundo mandato em 2004 até 2008.

Abandonou a Presidência para se tornar primeiro-ministro entre 2008 e 2012 e voltou depois a ocupar o cargo máximo nesse mesmo ano.

"A Rússia vai continuar a avançar. Ninguém jamais o impedirá", declarou o Presidente russo após um encontro com trabalhadores numa fábrica em Nizhny Novgorod.
Fim do suspense
O anúncio de Vladimir Putin veio colocar um ponto final a várias semanas de suspense sobre quando seria anunciado oficialmente que se recanditaria ao cargo, quando faltam menos de quatro meses para as eleições presidenciais na Federação Russa. A recandidatura, essa, era dada como praticamente certa.

Horas antes da declaração oficial, o Presidente russo tinha declarado de forma enigmática que anunciaria “muito em breve” uma decisão sobre a sua candidatura. Questionado durante um fórum voluntário em Moscovo se continuaria a acompanhar a Rússia depois de 2018, Putin asseverou: “Eu estou sempre convosco”.

"Esta é uma decisão muito importante para qualquer pessoa. A motivação deve partir apenas do desejo de tornar melhor a vida neste país e de fazer da Rússia um país mais poderoso e mais protegido", acrescentou o líder.

Perante uma multidão de voluntários de organizações não-governamentais, Putin referiu ainda que só poderia avançar para a presidência com um apoio incontestável do povo.

"Se eu avançar, posso contar com o vosso apoio e com o apoio dos que vos são próximos", perguntou o Presidente aos presentes. A resposta apoteótica e os "Sim!" ouvidos entre aplausos terão ajudado à decisão de Putin, anunciada algumas horas depois.
Sem adversários
Se o timing sobre o anúncio da recandidatura gerou alguma expetativa, o contrário sucede com o resultado mais que provável nestas eleições. Muito dificilmente a Presidência escapa a Vladimir Putin, verdadeiro detentor do poder no Kremlin, que nos últimos 17 anos oscilou entre os cargos de primeiro-ministro e Presidente, em concertação com Dmitri Medvedev, atual primeiro-ministro e ex-Presidente da Rússia.

Alexei Navalny, principal líder da oposição, não deverá ser autorizado a concorrer contra Vladimir Putin. As autoridades eleitorais sublinham que Navalny está a cumprir pena suspensa por fraude, sendo por isso um cidadão não elegível. Só em 2017, o líder da oposição esteve preso por três vezes.

Em junho último, uma onda de protestos em Moscovo e em várias cidades contra a prisão de Navalny levou à detenção de centenas de manifestantes. Antes, em março, uma grande manifestação anti-corrupção juntou milhares de pessoas na capital russa e deixou Navalny detido durante 15 dias.

Neste cenário, o principal desafio desta eleição não será pois um adversário em particular, mas antes a própria apatia do eleitorado e a desconfiança da população perante o regime, que têm sido abafados com uma postura cada vez mais nacionalista e anti-Ocidente, reforçada em 2014 com a anexação da Crimeia.
As eleições presidenciais de 2018 marcam o quarto aniversário da polémica anexação da Crimeia
O Kremlin alterou fixou mesmo a data da eleição presidencial para 18 de março de 2018 de forma a assinalar os quatro anos da anexação unilateral deste território ucraniano, uma ação que lhe valeu sanções económicas e a exclusão do G8, entre outras punições.

De forma a combater o descontentamento e os elevados níveis de abstenção, o Kremlin prepara-se para encenar nos próximos meses um panorama de competição real nesta eleição, a começar pela candidatura de Ksenia Sobtchak, uma celebridade televisiviva na Rússia sem experiência política e que promete representar o eleitorado que quer "uma mudança" na Rússia.

Esse mesmo eleitorado olha com apreensão para esta candidatura, uma vez que Ksenia é filha de Anatoli Sobtchak, ex-político russo, considerado "padrinho" e mentor político de Vladimir Putin e Dmitri Medvedev, responsável por impulsionar a carreira de ambos nos corredores do poder após o final da Guerra Fria.

Para além desta candidata deverão também entrar na corrida o líder comunista Gennady Zyuganov e o nacionalista Vladimir Zhirinovsky, ambos sem verdadeiras hipóteses de incomodar o atual Presidente, cuja maior dor de cabeça será neste momento a preparação de uma político de confiança que possa herdar o seu legado daqui por seis anos.

Segundo os termos constitucionais atualmente em vigor, este será o último mandato a que Vladimir Putin se poderá candidatar. De recordar que a reforma constitucional aprovada em 2008 pelo Governo de Medvedev, estendeu o tempo de presidência de quatro para seis anos. Putin, atualmente com 65 anos, deverá perpetuar-se no poder até 2024, quando fizer 72 anos.
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