Putin recebe luz verde para "usar as Forças Armadas" em território da Ucrânia

por RTP
O novo Governo interino da Ucrânia acusara este sábado a Rússia de ter engrossado as suas fileiras na Crimeia com seis mil operacionais Mihail Metzel, Ria Novosti/Reuters

O Presidente russo oficializou este sábado o reforço da presença militar do seu país na Crimeia, ao obter a aprovação do Conselho da Federação, a câmara alta do Parlamento de Moscovo, para “usar as Forças Armadas” em território ucraniano. Vladimir Putin justificou-se com a “situação extraordinária” que se vive no país vizinho, invocando mesmo uma “ameaça às vidas de cidadãos da Federação Russa”. Horas antes deste passo, já as autoridades interinas de Kiev haviam acusado o Kremlin de ter reforçado as suas tropas na península russófona do sul da Ucrânia com “seis mil homens”.

Está oficializada a vontade do Kremlin de exibir o músculo militar russo em solo ucraniano. Uma intenção que se circunscreve, por agora, à Crimeia, a península largamente pró-russa do Sul da Ucrânia que tem concentrado, nos últimos dias, as atenções da comunidade internacional.
A presidente do Senado russo, Valentina Matvienko, havia já invocado a possibilidade de Moscovo enviar à Crimeia “um contingente limitado para garantir a segurança da frota do Mar Negro e de cidadãos russos” que ali vivem.

A própria Duma, câmara baixa do Parlamento, exortara Vladimir Putin a “proteger por todos os meios a população contra o arbitrário e a violência na Crimeia”.


É ali que se joga a desigual relação de forças entre as novas autoridades de Kiev, depois do afastamento de Viktor Ianukovich da Presidência, e a cúpula política de Moscovo.

Num claro aviso marcial ao Governo interino de Kiev, mas também às diplomacias ocidentais, Vladimir Putin pediu a aprovação do Conselho da Federação Russa para o emprego de meios militares no país vizinho. Isto perante o que o gabinete de Vladimir Putin descreve como “a situação extraordinária na Ucrânia”.

Segundo um comunicado do Kremlin, Putin invocou a existência de “uma ameaça às vidas de cidadãos da Federação Russa, compatriotas, e ao pessoal das Forças Armadas da Federação Russa em território ucraniano” com vista a obter luz verde da câmara alta do Parlamento para “usar as Forças Armadas em território ucraniano até à normalização da situação político-social naquele país”.

O pedido foi entretanto aprovado pelo Conselho da Federação, depois de uma rápida sequência de intervenções parlamentares favoráveis aos intentos de Putin.
“Seis mil homens” na Crimeia
O gesto do Kremlin teve consequências quase imediatas na capital ucraniana, onde o Presidente interino, Oleksander Turchinov, convocou uma reunião de emergência das chefias militares e de segurança. Horas antes do pedido de Vladimir Putin ao Conselho de Federação Russa, o ministro ucraniano da Defesa, Igor Teniukh, aproveitara a primeira reunião oficial do Governo interino para denunciar que a Rússia teria já em marcha um reforço das suas tropas na Crimeia em “seis mil homens”.

Ainda segundo Teniukh, teriam sido destacados 30 blindados, numa “violação grosseira” dos acordos que enquadram a presença da frota russa do Mar Negro na região russófona da Ucrânia meridional. Todavia, apesar de imputar a Moscovo “uma provocação”, com a “presença inadequada de militares russos na Crimeia”, o primeiro-ministro Arseni Iatseniuk optou por sublinhar que “fracassaram as tentativas de levar a Ucrânia a reagir pela força”.


Foto: Baz Ratner, Reuters

As movimentações de tropas não identificadas na Crimeia acentuaram-se nas últimas horas. E são múltiplas as posições estratégicas agora ocupadas por estas forças manifestamente pró-russas. Sob o seu controlo estão, por exemplo, os aeroportos de Simferopol, Sebastopol e Kirovske. No centro de Simferopol, a capital regional, estão içadas bandeiras russas em vários edifícios oficiais.

Nomeado depois da destituição, na passada quinta-feira, do anterior governo regional, o novo primeiro-ministro pró-russo da Crimeia Sergi Axionov pediu, por seu turno, “ao Presidente Vladimir Putin ajuda para assegurar a paz e a calma” no território.

O pedido de Putin e a decisão do Conselho da Federação Russa acontecem depois de o Presidente norte-americano ter advertido Moscovo contra qualquer “intervenção militar” na Ucrânia. Manifestando-se “profundamente preocupado com as informações de movimentos de tropas” na Crimeia, Barack Obama avisara a Rússia de que uma invasão teria “um custo”.

A par do apoio aos planos do Kremlin, o Conselho da Federação exortou também o Presidente russo a convocar o embaixador dos Estados Unidos em Moscovo, com o vice-presidente do Senado, Iuri Vorobev, a ir ao ponto de acusar a Casa Branca de ter ultrapassado uma “linha vermelha”.
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