Numa série de entrevistas com Bob Woodward, Donald Trump admitiu que no início do ano recebeu informações detalhadas sobre a ameaça do novo coronavírus e que sabia que era cerca de cinco vezes "mais mortal" do que a gripe. As 18 entrevistas estão compiladas no novo livro do jornalista, intitulado "Rage" ("Raiva"), e numa última conversa entre os dois o Presidente dos Estados Unidos tentou saber como era retratado na publicação.
No livro, que será lançado esta terça-feira nos Estados Unidos, Bob Woodward publicou as 18 entrevistas a Donald Trump - que o jornalista conduziu entre dezembro de 2019 e julho de 2020 - e descreveu-o como um Presidente que traiu a confiança da população e as suas responsabilidades mais fundamentais.
A partir das conversas entre os dois ficou a ser do conhecimento público que Trump admitiu em privado que o novo coronavírus era uma ameaça severa, apesar de nas suas declarações públicas garantir que este não era pior do que uma gripe sazonal e que o Governo tinha a situação controlada.
Mas agora sabe-se que, depois das entrevistas incluídas em "Rage", o Presidente dos EUA voltou a contactar o prestigiado jornalista norte-americano para descobrir de que forma era retratado no livro.
Donald Trump terá descoberto que as entrevistas que concedeu a Woodward iam fazer parte do novo livro do jornalista, com lançamento marcado para 15 de setembro, e a 14 de agosto ligou a Bob Woodward, um dos jornalistas que revelou o escândalo Watergate que levou à queda de Richard Nixon.
Nesta 19ª e última conversa, foi o Presidente que tentou interrogar o jornalista sobre em que consistia o livro e que conteúdos revelava, principalmente a seu respeito, avançou esta segunda-feira a CNN.
Da conversa de dez minutos a que a publicação norte-americana teve acesso, pode perceber-se que Trump estava mais importado com a economia do que com a crise de saúde pública. Enquanto os dois debatiam a resposta de Trump à pandemia, o Presidente perguntou ao jornalista se este achava que o "vírus se sobrepõe totalmente à economia".
"Ah, claro. Mas eles estão interligados, como você sabe", respondeu Woodward.
"Ah, claro. Mas eles estão interligados, como você sabe", respondeu Woodward.
Mas Trump continuou, em resposta, a afirmar que a economia vai "indo" e que até os EUA estariam próximo de alcançar um "novo recorde no mercado de ações".
"Você sabe que o mercado está a retomar com força, você sabe disso", continuou Trump. "Você referiu isso no livro?", perguntou ainda.
Mesmo seis meses depois da pandemia ter começado e afetado os EUA, Trump continua a mostrar-se indiferente aos conselhos dos especilistas e a ignorar que a superação da crise de saúde pública e a recuperação económica estão interligadas. Para Donald Trump a economia parece continuar a ser a chave para ser reeleito.
"É um livro dificil"
Mas o que Donald Trump queria mesmo saber era o que constava no livro, baseado nas entrevistas, e como o próprio era descrito. Contudo, a resposta pode não ter sido o que esperava.
Bob Woodward respondeu que há partes do livro que o Presidente não iria gostar.
"É um livro difícil", disse, acrescentando que está "perto do osso".
"Quero dizer, há partes do livro que você não vai gostar", esclareceu o jornalista.
"É um livro difícil", disse, acrescentando que está "perto do osso".
"Quero dizer, há partes do livro que você não vai gostar", esclareceu o jornalista.
Continuando a discutir a resposta da Administração Trump à pandemia e como tal poderá influenciar as eleições presidenciais, Woodward afirmou que as eleições seriam disputadas entre ele, Joe Biden "e o vírus".
Mas, segundo Trump, "nada mais poderia ter sido feito".
"Eu agi cedo", acrescentou o Presidente.
Mas, segundo Trump, "nada mais poderia ter sido feito".
"Eu agi cedo", acrescentou o Presidente.
O livro "Rage" baseia-se em entrevistas diretas a vários protagonistas próximos de Trump, assim como com testemunhos diretos, e descreve um panorama sombrio dentro da Administração Trump, onde os mais altos responsáveis das informações, da segurança nacional e da defesa não se fiam nas capacidades do presidente.
Sobre o novo coronavírus, nas gravações de Woodward, Trump diz que é uma "questão delicada", um "assunto de morte". Em particular, o Presidente admitiu que minimizou o perigo de forma propositada: "Não quis criar pânico", justificou.
Sobre o novo coronavírus, nas gravações de Woodward, Trump diz que é uma "questão delicada", um "assunto de morte". Em particular, o Presidente admitiu que minimizou o perigo de forma propositada: "Não quis criar pânico", justificou.
As 18 entrevistas, com uma duração total de quase dez horas, foram realizadas por telefone e muitas delas partiram do próprio Presidente que ligou inesperadamente para Woodward.
Segundo a CNN, muitas desses telefonemas foram feitos sem que os assessores da Casa Branca tivessem conhecimento.
Segundo a CNN, muitas desses telefonemas foram feitos sem que os assessores da Casa Branca tivessem conhecimento.
A primeira entrevista aconteceu ainda a 5 de dezembro de 2019 e teve uma duração de aproximadamente 74 minutos. A última, incluída no livro, decorreu a 21 de julho. Ao longo destas conversas, sabe-se que Donald Trump tentou conseguir a aprovação de Woodward e perguntava várias vezes se o jornalista escreveria um "bom livro".