Ramos-Horta critica setor judicial em aniversário da independência

por Lusa
Ramos-Horta criticou o setor judicial timorense na cerimónia do aniversário da independência do país Joe Penney - Reuters

O presidente timorense, José Ramos-Horta, criticou esta segunda-feira o uso excessivo da prisão preventiva, o "cópia e cola" do sistema judicial do país e a aplicação de leis "sem pensamento ou discrição", criando várias vezes situações de injustiça.

Num discurso por ocasião dos 47 anos da declaração de independência, José Ramos-Horta disse que os jornalistas estão a ser "alistados" pelos agentes da justiça e da polícia para "colorir a perceção pública" sobre pessoas que ainda não foram condenadas.

O excesso de zelo nas acusações de corrupção, quando alguns casos se tratam apenas de "erros administrativos", está a levar a uma "inércia cimentada" na administração, com responsáveis a terem medo de tomar decisões, considerou.

"Não criámos um Estado com o objetivo de criar leis ou práticas injustas. Não criámos um Estado que visse pessoas presas por todo e qualquer delito. Não criámos um Estado que mantivesse as pessoas presas sem julgamento durante meses. Não criámos um Estado para ser preenchido por indivíduos não eleitos que servem em instituições policiais e judiciais sobrepostas que são criadas em modelo de cópia e cola, e espezinhando os princípios sagrados consagrados na nossa Constituição", afirmou.

"Não criámos um Estado onde pessoas presumivelmente inocentes têm de esperar anos para terem o seu dia em tribunal para que as suas acusações sejam ouvidas e onde o processo se alonga sem fim. Não esqueçamos o princípio de que a justiça atrasada é a justiça negada. Fundámos um Estado baseado nos valores universais da democracia e do Estado de direito para que pudéssemos garantir que cada pessoa no nosso país não tem de reviver os pesadelos do nosso passado", considerou.

José Ramos-Horta falava em Manatuto, leste de Díli, nas cerimónias oficiais do 47.º aniversário da declaração unilateral da independência de Timor-Leste, proferida na capital timorense em 28 de novembro de 1975.

Abuso da prisão preventiva e corrupção

Sempre que os jornalistas "são alistados para cobrir prisões ou buscas, e para declarar as pessoas culpadas antes de uma investigação ou julgamento estar concluído, a independência tanto do sistema legal como dos próprios meios de comunicação é minada", parecendo, por vezes que "os meios de comunicação social se tornaram um mero instrumento nas mãos da polícia ou do Estado", salientou.

Ramos-Horta referiu-se à necessidade de garantir que os direitos dos cidadãos sejam protegidos em casos de prisões e buscas, considerando que demasiadas vezes se recorre à prisão preventiva, algo que devia ser o último recurso.

Sobre corrupção, Ramos-Horta disse que algumas das leis do país "são utilizadas de forma que causam erros por parte dos funcionários públicos", levando "pessoas a todos os níveis do governo a temer e a evitar tomar decisões" em benefício da população.

"Não devemos fazer vista grossa à corrupção, mas devemos colocar as coisas no seu contexto e circunstâncias adequadas. Devemos tratar cada caso, individualmente, pelo que ele realmente é. A preguiça intelectual nunca é justiça. As penas máximas estabelecidas por lei são para os casos mais graves e não para o que pode muito bem ser um erro administrativo", indicou.

 

 

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