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Reação a protestos arrisca arrastar Etiópia para crise profunda (ONG)

por Lusa
Tiksa Negeri, Reuters

A organização não governamental Human Rigts Watch (HRW) alertou hoje que a resposta do Governo da Etiópia aos protestos pela morte do cantor Hachalu Hundessa, que já causaram 81 mortos, arrisca arrastar o país para uma "crise profunda".

Hachalu Hundessa foi morto a tiro, na noite de segunda-feira, na capital Adis Abeba, por homens não identificados, desencadeando uma onda de protestos em várias cidades da Etiópia, de que já resultaram pelo menos 81 mortos.

Em resposta aos protestos, o Governo cortou os serviços de internet em todo o país, o que, segundo a HRW, amplificou "as preocupações de que as pessoas estão a ser silenciadas" e de que os "abusos dos direitos humanos e a violência comunitária", que abalaram o país no ano passado, "não estão a ser tratados".

"A polícia afirma ter efetuado detenções relacionadas com a morte de Hundessa, mas as respostas do Governo aos manifestantes correm o risco de incendiar tensões de longa data", alerta Laetitia Bader, diretora da HRW para o Corno de África.

O apagão da internet está também impossibilitar o acesso à informação sobre os mortos e feridos nos protestos, mas a HRW diz que há relatos credíveis de violência, que apontam já para a existência de mais 80 mortos na região de Oromia e de outros 10 em Adama, onde um edifício governamental foi incendiado.

Por outro lado, a HRW considerou "preocupante o rumo" da resposta governamental aos protestos com a detenção pelas autoridades dos líderes políticos da oposição Jawar Mohammed e Bekele Gerba, do partido Congresso Federalista Oromo (OFC), no final da manhã de terça-feira, após um diferendo com as forças de segurança sobre o local do funeral de Hundessa.

Jawar e Bekele, que terão inicialmente sido mantidos incomunicáveis, estão detidos numa esquadra de polícia em Adis Abeba.

Os filhos de Bekele também foram presos e o seu paradeiro permanece desconhecido, segundo a HRW, que adianta não ser claro se os dois opositores têm acesso a um advogado.

"Em vez de restaurar a calma, o fecho da internet pelas autoridades, o aparente uso excessivo da força e a detenção de figuras da oposição política podem agravar ainda mais uma situação volátil", considerou Laetitia Bader.

Para a responsável da HRW para o Corno de África, o "Governo deve tomar rapidamente medidas para inverter estas ações ou arrisca-se a deslizar para uma crise muito mais profunda".

Hachalu Hundessa era considerado a voz do povo oromo, o maior grupo étnico da Etiópia, e o compositor desempenhou um papel importante na onda de protestos que levou à ascensão do atual primeiro-ministo Abiy Ahmed, também de etnia oromo, ao poder em abril de 2018.

A ascensão de Abyi à chefia do Governo pôs fim a décadas em que a coligação governamental multiétnica foi dominada por líderes da minoria tigray.

Até então, os oromo queixavam-se tradicionalmente da marginalização política e económica.

Abiy Ahmed, 43 anos, impulsionou grandes reformas na Etiópia, o segundo país mais populoso de África, incluindo o fim do estado de emergência decretado pelo seu antecessor, amnistiou milhares de prisioneiros políticos, legalizou os partidos da oposição e comprometeu-se a realizar eleições.

Em 2019, recebeu o Prémio Nobel da Paz pela sua contribuição para pôr fim ao conflito entre a Etiópia e a Eritreia.

No entanto, o primeiro-ministro tem sido criticado por não conseguir resolver alguns dos problemas de raiz do Estado etíope, nomeadamente as tensões étnicas que têm causado ondas de violência e feito da Etiópia o segundo país com mais deslocados do mundo.

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