Redes sociais enchem-se de `selfies` com jornal Apple Daily, um "ato de resistência"

por Lusa

As redes sociais encheram-se hoje de fotografias de habitantes de Hong Kong que mostram exemplares do jornal Apple Daily, em protesto contra buscas policiais na segunda-feira, com alguns a defenderem que a compra é um "ato de resistência".

Na rede social Twitter, multiplicam-se fotos de leitores mostrando exemplares do jornal, a maioria com a cara coberta pela publicação, mostrando apenas as mãos a segurar o jornal ou até com gatos, sob as `hashtag` #SupportAppleDaily [apoie o Apple Daily] e #WeNeedAppleDaily [precisamos do Apple Daily].

As mensagens de apoio à publicação inundaram o Twitter, depois de grupos pró-democracia terem apelado à população do território para que compre o jornal ou invista em ações do grupo editorial Next Digital, que publica o diário.

"Uma maçã [nome do jornal] por dia mantém longe o ditador", pode ler-se num comentário no Twitter, um jogo de palavras com o provérbio inglês "uma maçã por dia mantém longe o médico".

Noutras variações daquele ditado, os habitantes da antiga colónia britânica escreveram "uma maçã por dia mantém os `comunas` longe`", em referência ao Partido Comunista Chinês, "mantém as mentiras longe", ou simplesmente "uma maçã por dia...", em mensagens acompanhadas de fotos da primeira página do jornal.

"Quem teria pensado que fazer fila para comprar jornais de manhã cedo poderia ser uma forma de protesto, um ato de resistência? Apenas em Hong Kong", pode ler-se noutra mensagem no Twitter.

As filas em frente às bancas de jornais multiplicaram-se desde as primeiras horas da manhã para comprar o diário pró-democracia, depois de na segunda-feira o proprietário da publicação ter sido detido e de duas centenas de agentes policiais terem feito buscas na redação do diário, condenadas por órgãos de defesa dos jornalistas no território.

"Às primeiras horas do dia, pouco depois da meia-noite, quando os jornais são enviados para as bancas, as pessoas fizeram fila para arrebatarem alguns exemplares. Algumas compraram mais de uma centena, outras dezenas ou dúzias, para os distribuírem gratuitamente e mostrarem o seu apoio, não só ao jornal, como à liberdade de imprensa", disse hoje à Lusa o presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, Chris Yeung.

O Apple Daily antecipou a procura, imprimindo 550 mil exemplares, contra 70 mil em circunstâncias normais.

Na manchete, o jornal mostra uma foto de página inteira do seu proprietário, o magnata Jimmy Lai, escoltado pela polícia, com o título "O Apple [Daily] vai continuar a lutar".

As buscas aconteceram pouco depois da detenção do proprietário do jornal, acusado de "conluio com forças estrangeiras", ao abrigo da polémica lei da segurança imposta por Pequim, além de fraude.

No Twitter, onde se multiplicam os apelos ao apoio à publicação, alguns admitem que não costumam comprar jornais, que não gostam "da textura" do papel ou que nem sempre concordam com as posições do diário, mas defendem que a compra é "necessária" para "defender a liberdade de imprensa", havendo quem considere que é "um ato político".

Várias mensagens mostram fotos com pilhas de jornais, adquiridos para oferecer como "prenda de aniversário", usar "como papel de embrulho" para presentes ou "por ser uma absoluta pechincha".

"Como qualquer comprador típico em #HK [Hong Kong], não consigo resistir a um bom preço, e por isso comprei 10 destes hoje", escreveu um utilizador no Twitter.

Outros mostraram-se satisfeitos por terem feito fila de madrugada para comprar o jornal, afirmando que está esgotado em várias lojas. "Contente por ter conseguido comprar um exemplar", escreveu um residente de Hong Kong no Twitter.

O ativista pró-democracia Joshua Wong partilhou uma foto com um exemplar naquela rede social, com a mensagem: "Acredito que Jimmy Lai ficaria realmente impressionado se soubesse que centenas de milhares de residentes em Hong Kong compraram o Apple Daily".

"Eu comprei o meu por volta das 04:23 da manhã", acrescentou.

O magnata dos `media` de Hong Kong Jimmy Lai, altamente crítico de Pequim, foi detido na segunda-feira, tal como dois dos seus filhos e vários executivos do grupo Next Digital, sob a acusação de "conluio com forças estrangeiras" e fraude, ao abrigo da nova lei de segurança.

A lei imposta por Pequim ao território criminaliza atos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.

Hong Kong regressou à soberania da China em 1997, com um acordo que garante ao território 50 anos de autonomia a nível executivo, legislativo e judicial, bem como liberdades desconhecidas no resto do país, ao abrigo do princípio "um país, dois sistemas", também aplicado em Macau, sob administração chinesa desde 1999.

PTA (JMC) // EL

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