Reino Unido abre os braços a 3 milhões de pessoas que queiram fugir de Hong Kong

por RTP
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, na audição parlamentar de 1 de julho de 2020 Reuters

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido está disposto a acolher os habitantes de Hong Kong que queiram escapar à lei da segurança imposta por Pequim.

Cerca de três dos 7,5 milhões de habitantes da ex-colónia britânica poderão candidatar-se a um passaporte especial e beneficiar do novo programa para abandonar a metrópole.

"Fomos muito claros quando dissemos à China que, se prosseguisse este caminho, iríamos apresentar uma nova forma de entrada no Reino Unido para aqueles que possuírem o estatuto de britânico no estrangeiro, dando-lhes autorização para viver e trabalhar no Reino Unido e depois pedir cidadania", lembrou Johnson esta tarde, na Câmara dos Comuns, em Londres.

"E é exatamente isso que vamos fazer agora!", anunciou.

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, informou os deputados presentes que os cidadãos abrangidos pela medida, conhecidos como BNO, teriam uma autorização para permanecer no país por cinco anos, ao abrigo de um plano de imigração específico.
O anúncio de Boris Johnson marcou a audição parlamentar ao primeiro-ministro desta quarta-feira.
O líder conservador condenou em termos explícitos a nova lei de segurança nacional imposta por Pequim e que justifica o salvo conduto oferecido por Londres.

"Viola o grande nível de autonomia de Hong Kong e está em conflito direto com a legislação básica de Hong Kong. A lei também ameaça liberdades e direitos protegidos pela declaração conjunta" sino-britânica, denunciou Johnson.

O primeiro-ministro referia-se aos acordos estabelecidos em 1997, na devolução britânica do controlo do território à China após quase 200 anos de governo, que consagraram a autonomia da região face a Pequim.

Também Taiwan abriu um gabinete destinado a acolher os habitantes de Hong Kong que desejem estabelecer-se na ilha.
"Espada sobre a cabeça"
A lei de segurança nacional desenvolvida por Pequim entrou em vigor esta terça-feira, pelas 15h00 locais, pouco mais de um ano após o início de manifestações que levaram milhões de pessoas às ruas, em protesto contra a influência crescente do Governo central chinês. A nova legislação prevê prisão de 10 anos a perpétua para quatro tipos de crimes que considera graves: subversão, separatismo, terrorismo e conluio contra forças estrangeiras. Noutros casos, como contestação, divisão ou insubordinação, reconhece a competência da justiça chinesa.
 
O início da aplicação da lei e o anúncio de Johnson coincidiram com o 23.º aniversário da transferência de Hong Kong da soberania britânica para a chinesa.

Logo esta quarta-feira, foram detidos os primeiros dissidentes, pelo menos 180, incluindo um homem que mostrou uma bandeira a pedir a independência de Hong Kong.

O Governo chinês diz que a lei será "uma espada sobre a cabeça" dos "membros da pequena minoria que ameaça a segurança nacional". Carrie Lam, líder do executivo de Hong Kong e fiel a Pequim, saudou-a como o "acontecimento mais importante nas relações entre o Governo central e Hong Kong desde a retrocessão".

"Isto marca o fim da Hong Kong tal como a conhecíamos", reagiu na rede Twitter, uma das principais figuras do movimento pró-democracia da metrópole, Joshua Wong. "A cidade vai transformar-se num #estadodepolíciasecreta", acrescentou.

Os Estados Unidos ameaçaram a China com represálias e prometeram que não vão ficar "de braços cruzados". Já os 27 membros do Conselho dos Direitos Humanos da ONU condenaram o texto da lei, e exprimiram receio de que provoque a repressão de toda a oposição política.
pub