O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido está disposto a acolher os habitantes de Hong Kong que queiram escapar à lei da segurança imposta por Pequim.
Cerca de três dos 7,5 milhões de habitantes da ex-colónia britânica
poderão candidatar-se a um passaporte especial e beneficiar do
novo programa para abandonar a metrópole.
"Fomos muito claros quando dissemos à China que, se prosseguisse este caminho, iríamos apresentar uma nova forma de entrada no Reino Unido para aqueles que possuírem o estatuto de britânico no estrangeiro, dando-lhes autorização para viver e trabalhar no Reino Unido e depois pedir cidadania", lembrou Johnson esta tarde, na Câmara dos Comuns, em Londres.
"E é exatamente isso que vamos fazer agora!", anunciou.
O anúncio de Boris Johnson marcou a audição parlamentar ao primeiro-ministro desta quarta-feira.
O líder conservador condenou em termos explícitos a nova lei de segurança nacional imposta por Pequim e que justifica o salvo conduto oferecido por Londres.
"Viola o grande nível de autonomia de Hong Kong e está em conflito direto com a legislação básica de Hong Kong. A lei também ameaça liberdades e direitos protegidos pela declaração conjunta" sino-britânica, denunciou Johnson.
O primeiro-ministro referia-se aos acordos estabelecidos em 1997, na devolução britânica do controlo do território à China após quase 200 anos de governo, que consagraram a autonomia da região face a Pequim.
Também Taiwan abriu um gabinete destinado a acolher os habitantes de Hong Kong que desejem estabelecer-se na ilha.
A lei de segurança nacional desenvolvida por Pequim entrou em vigor esta terça-feira, pelas 15h00 locais, pouco mais de um ano após o início de manifestações que levaram milhões de pessoas às ruas, em protesto contra a influência crescente do Governo central chinês. A nova legislação prevê prisão de 10 anos a perpétua para quatro tipos de crimes que considera graves: subversão, separatismo, terrorismo e conluio contra forças estrangeiras. Noutros casos, como contestação, divisão ou insubordinação, reconhece a competência da justiça chinesa.
O início da aplicação da lei e o anúncio de Johnson coincidiram com o 23.º aniversário da transferência de Hong Kong da soberania britânica para a chinesa.
Logo esta quarta-feira, foram detidos os primeiros dissidentes, pelo menos 180, incluindo um homem que mostrou uma bandeira a pedir a independência de Hong Kong.
O Governo chinês diz que a lei será "uma espada sobre a cabeça" dos "membros da pequena minoria que ameaça a segurança nacional". Carrie Lam, líder do executivo de Hong Kong e fiel a Pequim, saudou-a como o "acontecimento mais importante nas relações entre o Governo central e Hong Kong desde a retrocessão".
"Isto marca o fim da Hong Kong tal como a conhecíamos", reagiu na rede Twitter, uma das principais figuras do movimento pró-democracia da metrópole, Joshua Wong. "A cidade vai transformar-se num #estadodepolíciasecreta", acrescentou.
Os Estados Unidos ameaçaram a China com represálias e prometeram que não vão ficar "de braços cruzados". Já os 27 membros do Conselho dos Direitos Humanos da ONU condenaram o texto da lei, e exprimiram receio de que provoque a repressão de toda a oposição política.