Reino Unido. Boris Johnson remodela governo mas mantém ministros-chave

por RTP
Liz Truss é a segunda mulher a liderar o Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros, entre uma extensa lista de homens. A outra mulher que teve as mesmas funções, há 14 anos, foi Margaret Beckett, durante o governo de Tony Blair. EPA

O primeiro-ministro britânico anunciou uma remodelação do Governo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros tem um novo titular, Liz Truss, a primeira mulher a ocupar o posto em mais de 10 anos. Dominic Raab foi despromovido a ministro da Justiça, mas continua próximo de Boris Johnson, pois vai passar a ser vice-primeiro-ministro. É uma remodelação para preparar o Reino Unido para o cenário pós-pandemia, explica o gabinete de Boris Johnson.

O ministro da Educação foi o primeiro a anunciar a saída do executivo através da rede social Twitter. Gavin Williamson escreveu que “foi um privilégio” ter servido o país como titular da pasta da Educação e garantiu que vai continuar a apoiar o primeiro-ministro e o Governo. "Apesar dos desafios da pandemia mundial, estou particularmente orgulhoso das reformas transformacionais que conduzi", escreveu.

O ministro foi muito criticado pela forma como deixou que a pandemia afetasse as escolas e o acesso à universidade. A "ministra sombra" do Partido Trabalhista, na oposição, Kate Green, aponta que Williamson deixa um legado de "dois anos de caos nos exames (do ensino secundário) e funcionários abandonados, sem apoio e desmoralizados".

Já Dominic Raab, que durante os avanços dos talibãs sobre Cabul e consequente retirada apressada dos militares britânicos do Afeganistão, continuou de férias em Creta, vai deixar um dos mais importantes cargos do governo, o de ministro dos Negócios Estrangeiros.

No entanto, Raab é nomeado vice-primeiro-ministro, funções que já exerceu quando Boris Johnson esteve internado com Covid-19. Raab vai acumular com a pasta da Justiça e assim substituir Robert Buckland, que deixa o executivo britânico.

A atual ministra do Comércio Internacional, Liz Truss, que se tem destacado a negociar os acordos pós-Brexit, é a nova ministra dos Negócios Estrangeiros, o que é visto pelos analistas políticos como uma promoção. Liz Truss vai acumular funções, porque mantém o Ministério da Mulher e da Igualdade. No entanto, a nova ministra a negociar aspetos do Brexit será Anne-Marie Trevelyan.

Também Robert Jerrick, o ministro da Habitação, anunciou na rede social Twitter que iria abandonar funções após o encontro com o primeiro-ministro durante a manhã. É substituído por Michael Gove, secretário de Estado do Conselho de Ministros, e que vai acumular a pasta com a missão de liderar a agenda do governo no que respeita ao combate às desigualdades entre regiões.

Esta era das prioridades políticas e uma promessas da campanha de 2019 mas cuja implementação foi travada até agora pela pandemia. “Sabemos que o público também quer que nós cumpramos as suas prioridades, e é por isso que o primeiro-ministro quer assegurar que temas a equipa certa para isso”, justificou o porta-voz de Downing Street. Fonte do gabinete de Boris Johnson afirmou que os novos ministros devem “contribuir para unir e melhorar todo o país”.

Michael Gove vai ter a responsabilidade de assegurar as boas relações com a Escócia, a Irlanda do Norte e o País de Gales.

A ministra do Interior, Priti Patel, acusada e considerada culpada de intimidar funcionários públicos e criticada por não conseguir controlar as travessias de imigrantes ilegais do Canal da Mancha, mantém-se nas funções que ocupa desde 2019.

O ministro das Finanças, Rishi Sunak, cuja popularidade subiu durante a pandemia devido às medidas de apoio à economia e aos trabalhadores, continua responsável pelo orçamento e pela política fiscal. Ambos são populares no Partido Conservador e Sunak é visto como um possível sucessor de Boris Johnson.

Também o Ministério da Saúde continua sob a orientação de Sajid Javid.

A maior parte dos ministros-chave do executivo de Boris Johnson permanece em funções. Com exeção de Buckland, que terá saído para que Johnson pudesse manter Raab, os ministros que abadonam o executivo enfrentavam perdas de popularidade devido a gaffes ou casos que levaram à perda de credibilidade.

A remodelação já era esperada nas últimas semanas. Contudo, a imprensa britânica refere que o primeiro-ministro é, devido ao seu caráter, adverso a remodelações.

"Um dos piores defeitos de um primeiro-ministro é a necessidade de ser apreciado e Boris Johnson tem isso em excesso. Ele fica chocado quando é confrontado por alguém que pensa que ele não é mais do que um adorável monte de diversão. É por isso que odeia remodelações. Significa que tem de fazer inimigos", explicou Iain Dale, do jornal Daily Telegraph, citado pela agência Lusa.
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