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Reino Unido. Estratégia de combate à pandemia divide conservadores

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
De acordo com este sistema de restrições de três níveis de risco, 99 por cento de Inglaterra estará sujeita aos dois níveis máximos de alerta. Reuters

A nova estratégia do Reino Unido de combate à Covid-19, que substitui o confinamento geral por restrições regionais avaliadas em três níveis, está a ser alvo de críticas e revolta por parte dos conservadores. Depois de o ministro do Gabinete britânico, Michael Gove, ter alertado que os hospitais correm o risco de ficar saturados, o antigo juiz do Supremo Tribunal britânico, Jonathan Sumption, criticou este sábado essa mesma afirmação, ao dizer que “num ano mau, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) habitualmente não consegue aguentar” e que as novas medidas não são aplicáveis.

Num artigo divulgado este sábado no jornal diário The Times, o ministro do Gabinete britânico, Michael Gove, alertou que os hospitais em Inglaterra correm o risco de ficar saturados com casos de Covid-19 se não for adotado o sistema de restrições seletivas para combater a pandemia detalhado esta semana pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

O Parlamento britânico votará estas novas medidas na próxima semana e, no artigo, o governante exorta esses deputados a "assumirem a responsabilidade para tomarem decisões difíceis", a fim de nivelar a curva da Covid-19. "Apoiem-nos nas restrições, ou a Covid-19 irá inundar o NHS [Serviço Nacional de Saúde]", lê-se no título do artigo.

Os comentários de Gove fazem parte de uma tentativa de reprimir uma possível rebelião dos deputados conservadores, que estão relutantes às novas medidas que colocam grande parte do país sob medidas mais restritivas.

Na passada segunda-feira, Boris Johnson apresentou aos deputados o novo plano de combate à pandemia que prevê a substituição do atual confinamento nacional, que termina a 2 de dezembro, por restrições regionais avaliadas em três níveis, com base na escala do surto em diferentes áreas - um sistema que já tinha sido adotado antes de ter sido decretado o confinamento de quatro semanas.

De acordo com este sistema de restrições de três níveis de risco – médio, alto e muito alto – 99 por cento de Inglaterra estará sujeita aos dois níveis máximos de alerta.
Apenas a Ilha de Wight, a Cornualha e as Ilhas de Scilly estarão no primeiro nível de risco - com as regras mais flexíveis - enquanto a maior parte das Midlands, Nordeste e Noroeste do país, se enquadram no mais restritivo. Nestas áreas mais afetadas e no primeiro nível de risco, os ajuntamentos estão limitados a seis pessoas em espaços interiores e o teletrabalho é recomendado. Os estabelecimentos regressam ao horário de encerramento obrigatório às 22h00, mas os clientes poderão permanecer até às 23h00.

No artigo, Gove defende esse sistema, que será "mais rígido" do que o aplicado antes do confinamento, argumentando que é necessário para “puxar o travão de mão” e evitar o “desastre” do NHS. Na opinião do ministro, os níveis de restrição adotados antes do confinamento não foram suficientes para travar a propagação da Covid-19. “Não foram fortes o suficiente para reduzir o contacto social, nem foram aplicados de forma ampla o suficiente para conter a disseminação do vírus", defendeu Gove.

No entanto, as propostas de Johnson estão a enfrentar resistência por parte de dezenas de parlamentares do seu próprio partido, o que poderá deixá-lo à mercê do apoio trabalhista para que as regras sejam aprovadas. Na opinião de alguns conservadores, o Governo britânico está a arriscar danos catastróficos à economia com estas medidas.

Jonathan Sumption, antigo juiz do Supremo Tribunal britânico, defendeu este sábado que as novas medidas anunciadas pelo chefe do Executivo não são executáveis e alertou que os britânicos estão “cada vez mais relutantes a obedecer”. Sumption acusou ainda o Governo de utilizar dados “extremamente seletivos e tendenciosos” para justificar futuras restrições.

Sobre o artigo de Gove, o ex-juiz contestou o cenário de catástrofe dos hospitais, defendendo que “num ano mau, o Serviço Nacional de Saúde habitualmente não consegue aguentar”. Em declarações ao programa Today da BBC Radio 4, Sumption afirmou: “O problema é que existe uma falta de pensamento racional em todo o lado”.

Entretanto, os efeitos deste segundo confinamento nacional parecem estar a fazer efeito. Na semana que começou a 16 de novembro, o número de doentes internados com Covid-19 caiu de 1.751 para 1.471. Para além disso, o Reino Unido registou na passada segunda-feira o número mais baixo de novos casos de infeção desde 12 de outubro.

O sinal de que a segunda vaga da pandemia está a abrandar levou o primeiro-ministro britânico a confirmar o levantamento do confinamento nacional em Inglaterra. "A partir de quarta-feira, as pessoas poderão sair de casa para qualquer fim e encontrar-se com outras pessoas em sítios públicos ao ar livre, sujeitas à regra dos seis", anunciou Boris Johnson, acrescentando que voltarão também a ser permitidas cerimónias religiosas, casamentos e desporto ao ar livre, assim como será autorizada a reabertura de lojas, cuidados pessoais, ginásios e do setor do lazer em geral.

Desde o início da pandemia, o Reino Unido contabilizou mais de 1,5 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus e 57.551 óbitos.

c/agências
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