Reino Unido regista maior aumento diário de infeções desde início da pandemia

por RTP
Peter Cziborra - Reuters

O Governo britânico anunciou esta quinta-feira que, nas últimas 24 horas, foram registados 6634 novos casos de infeção por Covid-19 e 40 óbitos. É o maior aumento diário de infeções no país desde o início da pandemia.

O último recorde diário de novos casos no Reino Unido tinha sido registado a 1 de maio, dia em que foram contados 6201 casos confirmados de Covid-19 e 739 mortes. Este máximo foi agora ultrapassado, com a contabilização de 6634 testes positivos nas últimas 24 horas, um aumento em 456 casos relativamente ao dia anterior.

De acordo com os dados oficiais, foram ainda registados 40 óbitos, mais três do que os anunciados na quarta-feira. O total acumulado desde o início da pandemia de Covid-19 no Reino Unido passou, assim, para 416.363 casos confirmados e para 41.902 óbitos.

A aceleração da pandemia no país levou o Governo a anunciar mais restrições que entram em vigor a parti desta quinta-feira. Os bares, restaurantes e espaços de lazer estão obrigados a encerrar às 22h00 e o uso de máscara é obrigatório para clientes e funcionários. Para além disso, voltou a ser recomendado o recurso ao teletrabalho e os ajuntamentos limitados a grupos de seis.

Numa declaração ao país, Boris Johnson apelou a um "espírito de sacrifício nacional" e avisou que, se a curva epidémica não achatar, terá de endurecer ainda mais as medidas, nos próximos meses.

Os assessores científicos do Governo avisaram no início da semana que o número de infeções está a duplicar a cada sete dias, e que se este ritmo continuar, em meados de outubro o Reino Unido poderá registar 50 mil casos diários.
Itália deixa recado a Johnson
Especialistas explicam que o aumento de casos no Reino Unido está, em parte, relacionado com o aumento da capacidade de testagem no país – uma questão que poderá justificar a baixa taxa de infeção em comparação com países como Itália e Alemanha, para além dos problemas do sistema britânico de monitorização de contactos.

Questionado sobre esta possibilidade, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, respondeu que a Grã-Bretanha é “um país amante da liberdade e se olharem para a história deste país nos últimos 300 anos, praticamente todos os progressos, da liberdade de expressão à democracia, vieram daí”.

As palavras de Johnson foram interpretadas como uma ofensa, ao estabelecer uma ligação entre as taxas atuais de infeção registadas em Itália e Alemanha com as vivências históricas de totalitarismo.

O Presidente da República de Itália, Sergio Mattarella, deixou uma resposta a Johnson, afirmando que os italianos “também gostam da liberdade, mas também nos preocupamos com a gravidade”.

Além do presidente italiano, também o vice-ministro da Saúde, Pierpaolo Sileri, respondeu aos comentários do primeiro-ministro britânico, afirmando ao jornal The Guardian que “a liberdade vem do respeito às regras”. Sileri defendeu que o cumprimentos das regras básicas por parte da maioria dos italianos permitiu-lhes manter a sua liberdade e uma vida relativamente normal, garantindo ao mesmo tempo a sua liberdade futura.

“Acho que o uso de máscaras, que era uma das primeiras regras [impostas], foi fundamental para reduzir a transmissão”, disse Sileri. O vice-ministro da Saúde admitiu que o Governo italiano tem sido “muito rígido com o uso de máscara em espaços públicos e onde o distanciamento físico é difícil de manter”, mas sublinha que também reduziram gradualmente o confinamento. “Portanto, ter regras rígidas hoje representa a liberdade real. A normalidade surge com o cumprimento das regras e o seu não cumprimento, na minha opinião, é contrário à liberdade futura”, argumentou Sileri.

O vice-ministro italiano da Saúde acrescentou que o longo e difícil confinamento nacional, bem como o sistema eficaz de testagem e monitorização, permitiu a Itália evitar o intenso ressurgimento do vírus que tem sido observado em países como França, Espanha e Reino Unido.

No entanto, Sileri deixa o alerta: “O fato de hoje termos números baixos não significa que permanecerá sempre assim. Esperamos conseguir uma vacina, mas não sabemos quando chegará. Por isso, até que chegue, temos de depender destas regras”.
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