Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Relações com Luanda são "fraternas", afiança Costa após reunião com PR angolano

por Andreia Martins - RTP
Laurent Gilleron - EPA

A reunião entre o primeiro-ministro e o Presidente angolano, João Lourenço esta terça-feira, à margem do Fórum de Davos, na Suíça, durou cerca de 40 minutos. António Costa fala de um encontro "extremamente positivo", apesar de continuarem congeladas as visitas ao mais alto nível. O ministro angolano das Relações Exteriores saúda a recente decisão da Justiça portuguesa de separar o processo de Manuel Vicente.

Eram perto das 22h30 em Lisboa quando terminava, na Suíça, a aguardada reunião entre António Costa e João Lourenço, à margem do 48º Fórum Económico Mundial, em Davos, que reúne os principais dirigentes a nível mundial.
 
As primeiras palavras do primeiro-ministro português após o encontro foram de tranquilidade e de garantia da estabilidade nas relações luso-angolanas.  
 
“Foi um encontro extremamente positivo, em que fizemos o ponto da situação das nossas boas relações, a vários níveis”, assevera o chefe do Governo.  
 
Costa reconhece, no entanto, a existência de uma questão “estritamente jurídica”, frisando que as relações entre os dois países "decorrem muito bem dos pontos de vista económico, das relações entre as nossas empresas, das relações culturais e entre os nossos povos".
 
“Não ignoramos que existe uma questão, uma só questão, estritamente jurídica, que não depende dos poderes políticos de Portugal e de Angola, que decorre da responsabilidade única das autoridades judiciárias”, admite.


Visitas congeladas
Não obstante, o primeiro-ministro garante que “tudo decorre normalmente", apenas com uma exceção, a de não haver "visitas ao mais alto nível aos respetivos países”. De recordar que tanto António Costa como a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, viram adiadas as suas respetivas visitas ao país, inicialmente previstas para 2017. 

Já a pensar no futuro, o chefe de Governo português acredita que a normalidade poderá ser plenamente restabelecida.

"Vamos aguardar serenamente que as decisões que as autoridades judiciárias têm de tomar sejam tomadas. Um dia, seguramente, poderei encontrar o Presidente João Lourenço ou em Luanda ou em Lisboa. Enquanto não nos encontramos em Lisboa ou em Luanda, também não faltam lugares no mundo para nos encontramos", declarou António Costa.

O primeiro-ministro garante que, apesar de tudo, “as relações entre os nossos países e povos são fraternas", e recorda mesmo palavras recentes do ministro angolano responsável pela diplomacia, que classificou como "insubstituíveis" as relações entre Portugal e Angola.

António Costa referiu ainda "uma imagem vale mais do que mil palavras" e que a forma "calorosa" como a delegação portuguesa foi cumprimentada por João Lourenço é "um bom sinal das boas relações que existem entre nós".

"Sempre que me encontro com o Presidente João Lourenço encontramo-nos como bons amigos", disse ainda o primeiro-ministro.

Na declaração aos jornalistas após a reunião, Costa não perdeu a oportunidade de elogiar a evolução da situação político-económica de Luanda. "É com muita satisfação que vemos a situação político-económica angolana a evoluir muito positivamente e a restabelecerem-se as condições de confiança de investimento das empresas portuguesas em Angola", considerou.
“Retomar a harmonia”
Ao contrário de António Costa, o chefe de Estado angolano não falou aos jornalistas após o encontro. Foi Manuel Augusto, ministro das Relações Exteriores de Angola que se debruçou sobre a reunião, afirmando que não foi um “retomar”, mas sim um “continuar” dos contactos entre os dois países. “Temos estado em contactos regulares com o Governo português. (…) Nós nunca interrompemos o diálogo”, acrescenta.
 
Manuel Augusto destaca que o diálogo “tem sido útil” apesar de reconhecer que existe “um problema que todos nós esperamos que venha a ser resolvido o mais brevemente possível para que a harmonia que tem caracterizado as nossas relações, essa sim, possa ser retomada”.  

O ministro refere que no encontro os responsáveis “não fugiram à questão que a todos nos incomoda e tomámos nota da evolução que o processo está a conhecer”. 



“Reafirmamos toda a esperança que, a muito breve trecho, possamos ter o desfecho que, acreditamos nós, vem de encontro à vontade não só dos Governos, mas também dos povos angolano e português”, completou.

O ministro angolano congratulou-se ainda com a decisão da justiça portuguesa de separar o processo do ex-vice-presidente angolano.

"Tomámos conhecimento da decisão judicial sobre a separação dos processos. (...) Acreditamos que se trata de um passo no sentido do desejo das autoridades angolanas e - acredito - que também das autoridades portuguesas. Não há razões para que este processo continue a ser uma sombra naquilo que são as relações harmoniosas e altamente desejadas pelos povos dos dois países", referiu Manuel Augusto.

O encontro entre os responsáveis portugueses e angolanos foi requerido por Luanda e decorre numa altura de tensão diplomática com Lisboa devido ao processo movido pelas autoridades judiciais portuguesas contra o ex-vice-presidente angolano. O último encontro acontecera há menos de dois meses em Abidjan, na Costa do Marfim.
 
Manuel Vicente é acusado de corrupção ativa e branqueamento de capitais no âmbito da operação Fizz, cujo julgamento começou esta segunda-feira.  
 
Em causa nesta polémica está a recusa por parte da Procuradoria-Geral da República em transferir o processo do ex-vice de José Eduardo dos Santos para Angola.  
 
O atual Presidente, João Lourenço, classificou tal atitude como “uma ofensa” por parte da justiça portuguesa, tendo avisado no início do ano que a resolução deste caso irá ter impacto nas relações entre os dois países. 

c/ Lusa
 
Tópicos
pub