A chefe da diplomacia da República Centro-Africana (RCA) acusou o seu homólogo francês de "infantilizar" o seu país, ao afirmar que os paramilitares da empresa privada russa Wagner "substituíram a autoridade" centro-africana.
A França, antiga potência colonial, mas também a Organização das Nações Unidas acusaram estes paramilitares de serem "mercenários" da Wagner, que cometem, especificaram, confisco contra civis e instauraram um regime de "predação" dos recursos da RCA.
"Houve um encarniçamento (...) e um desejo de infantilizar a República Centro-Africana e as suas autoridades, que deve acabar", declarou a ministra dos Negócios Estrangeiros, Sylvie Mbaipo-Temon, à AFP, em reação às afirmações do seu homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, feitas no domingo.
"Quando (os paramilitares da Wagner) entram num país, multiplicam as violações, os abusos, as predações para se substituírem, por vezes, à autoridade do país", tinha declarado o ministro francês na estação televisiva France 5.
"A Wagner é antes de mais uma sociedade de mercenários russos, que faz a guerra por procuração por conta da Rússia, mesmo que a Rússia o negue (...). Não enganam ninguém", tinha insistido Le Drian.
"O exemplo mais espetacular é a República Centro-Africana onde finalmente, para se poderem pagar, confiscam a autoridade fiscal do Estado", acrescentara, fazendo referência aos "instrutores russos" chegados à RCA para darem também uma "assistência técnica" aos serviços alfandegários centro-africanos, de maio a outubro.
Mas Mbapo-Temon declarou-se a este respeito "estupefacta" com a reação "extrema" e "enganadora" do seu homólogo, elogiando "uma experiência russa muito benéfica para o Tesouro centro-africano".
A França e a Federação Russa travam no país uma guerra de influência, com Paris a acusar a sua antiga colónia de ser "cúmplice" de uma campanha antifrancesa orquestrada por Moscovo nas redes sociais e em alguns meios de comunicação.
Discurso antifrancês e caos
Poucos dias depois, Paris congelava a sua ajuda financeira e suspendia a cooperação militar.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na intitulada Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonar as suas casas.
Ajuda portuguesa
No âmbito da missão da União Europeia (EUTM-RCA) de formação e aconselhamento das forças de segurança e defesa, estão empenhados outros 20 militares.
Em 30 de setembro, a 10.ª Força Nacional Destacada (FND) para a RCA, composta por 180 militares, recebeu o Estandarte Nacional, prevendo-se que esteja operacional a partir de 15 de novembro.
O comandante desta FND, tenente-coronel Jorge Pereira, vai chefiar um grupo composto por 169 homens e 11 mulheres, sendo que, a maior parte -- 91 -, são militares do Regimento de Comandos, incluindo-se também três da Força Aérea.