Republicanos influenciarão política para a América Latina

por Lusa

O diretor do programa para a América Latina do `think tank` International Crisis Group, Ivan Briscoe, defende que a recente vitória do governador Republicano da Florida Ron DeSantis pode alterar a política dos EUA para a América Latina.

"O estado da Florida é um bastião Republicano com influência na política externa dos EUA na América Latina. E a vitória de DeSantis que garantiu a sua reeleição como governador, vai fazer eco na Casa Branca, especialmente nas relações com países como Cuba ou Venezuela", argumentou Briscoe durante uma conferência virtual do International Crisis Group, na segunda-feira, sobre o impacto do resultado das recentes eleições intercalares nos EUA na política externa norte-americana, a que a agência Lusa assistiu.

Ron DeSantis venceu com facilidade na corrida para governador do estado da Florida, nas eleições intercalares de 08 deste mês e o seu desempenho eleitoral permitiu-lhe mesmo posicionar-se para uma eventual candidatura presidencial em 2024.

Briscoe está convencido de que esta vitória dos Republicanos na Florida, mais do que o controlo da Câmara de Representantes, obrigará a Casa Branca a modificar a sua agenda política para a América Central e do Sul, pela influência política que representa na comunidade latina.

"Os Republicanos sempre foram muito mais anti-castristas do que os Democratas", lembrou este analista do `think tank` com sede em Bruxelas, referindo-se às posições mais duras dos conservadores para com o regime de Fidel Castro em Cuba, que hoje prossegue com a presidência de Miguel Díaz-Canel.

Para Briscoe, Joe Biden deverá sentir-se agora mais pressionado a fazer menos concessões ao regime de Havana, mantendo uma linha política mais próxima daquela que foi adotada pelo ex-Presidente Republicano Donald Trump (2017-2021) e não tão tolerante como a do ex-Presidente Democrata Barack Obama (2009-2017).

Mas a alteração mais significativa até poderá acontecer com as relações entre Washington e Caracas, depois de, nos últimos meses, Biden ter ensaiado um cenário de maior abertura com o regime da Venezuela.

Os Republicanos acusam a Casa Branca de estar a tentar restabelecer relações com o Governo de Nicolas Maduro - apesar de ter dado o seu apoio ao principal opositor do regime venezuelano, Juan Guaidó -- com o único propósito de voltar a aceder ao petróleo daquele país sul-americano, perante a atual crise dos preços da energia nos Estados Unidos.

Ivan Briscoe defende que, com uma maioria Republicana na Câmara de Representantes do Congresso dos EUA e com um governador Republicano politicamente fortalecido na Florida, Biden terá mais dificuldade em manter esta agenda política de maior tolerância para com o regime venezuelano e para com o regime cubano.

Ainda assim, este analista do International Crisis Group considera que os dois partidos se manterão em uníssono na procura da manutenção de regimes democráticos na América Central e na América do Sul, independentemente da cor política dos governos.

"A onda de esquerda que está a varrer a América do Sul não preocupa os Republicanos, nem mesmo os mais conservadores. Eles estão, sim, preocupados (...) que os novos governos dialoguem com Washington para ajudar a resolver os problemas das migrações", explicou Briscoe.

A recente vitória eleitoral de Gustavo Petro na Colômbia, que tomou posse como o primeiro Presidente de esquerda no seu país, não incomodou os Republicanos, logo que eles perceberam que a estratégia do novo Governo colombiano para o combate ao tráfico de droga está alinhada com os interesses norte-americanos, argumentou este analista.

"Petro prometeu atacar o topo dos grandes cartéis de droga, não os pequenos produtores. E é nessa estratégia que acredita a Casa Branca e é esse caminho que é defendido por muitos dos congressistas Republicanos que agora foram escolhidos nas eleições intercalares", disse Briscoe.

Este analista lembra, contudo, que pode haver problemas com a futura maioria Republicana na Câmara de Representantes no que diz respeito às políticas de extradições entre a Colômbia e os Estados Unidos, com os conservadores a indicarem a Biden a necessidade de fazer mais exigências ao regime de Petro.

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