Rússia chama embaixadores e inicia expulsão de diplomatas

por Andreia Martins - RTP
Fachada do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, em Moscovo Sergei Karpukhin - Reuters

É mais uma medida de retaliação numa crise diplomática em crescendo. Moscovo anunciou esta sexta-feira a expulsão de vários responsáveis europeus, convocando os embaixadores de países ocidentais que tenham tomado medidas “hostis” contra o país na sequência do caso de envenenamento do ex-espião Serguei Skripal. Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros, anunciou que embaixadores de pelo menos 23 países já foram informados da ordem de expulsão. A Rússia exigiu também que o Reino Unido reduza num mês a sua representação diplomática naquele país.

Moscovo já tinha prometido "reciprocidade" na resposta à expulsão de mais de 150 diplomatas russos em 25 países e iniciou esta sexta-feira uma série de ações de retaliação. Até ao momento, foram expulsos mais de uma dezena de diplomatas de vários países europeus, incluindo da Ucrânia (13), Polónia (4), Alemanha (4), Canadá (4) República Checa (3), Lituânia (3), Espanha (2), Itália (2), Holanda (2), Noruega (1), Suécia (1) e Finlândia (1).

A Rússia anunciou que estão a ser estudadas novas medidas de retaliação contra Bélgica, Hungria, Geórgia e Montenegro, depois de anunciarem medidas para a expulsão de diplomatas russos.

"Não foi a Rússia que se envolveu numa guerra diplomática, não foi a Rússia que iniciou uma troca de sanções ou uma expulsão de diplomatas", disse esta sexta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em declarações aos jornalistas.

Às declarações juntou-se o desfile de vários Embaixadores europeus junto ao Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, que receberam pessoalmente as medidas de retaliação ordenadas por Moscovo.

"A 30 de março, os chefes das missões diplomáticas de vários países acreditados na Federação Russa que tomaram ações não amigáveis contra a Rússia «em solidariedade» com o Reino Unido no caso Skripal foram convocados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Os embaixadores vão receber notas de protesto e serão informados sobre as medidas recíproca", pode ler-se numa nota de imprensa disponível no site do MNE russo.

Para além desta ordem de expulsão em cadeia, comunicada diretamente a cada embaixador, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros exigiu a redução do contingente de diplomatas britânicos num mês. O objetivo de Moscovo é igualar o número de representantes do Reino Unido na Rússia ao número de representantes russos em território britânico. 

"O lado britânico deve, dentro de um mês, através de uma redução apropriada do seu pessoal, baixar o número total dos seus empregados na embaixada britânica em Moscovo e dos consulados britânicos na Rússia para o mesmo número de diplomatas, pessoal técnico e administrativos russos que fiquem no Reino Unido", lê-se num comunicado do Governo russo, citado pela agência France Presse.

O anúncio de novas medidas surge um dia depois de Moscovo ter dado ordem de expulsão de 60 diplomatas norte-americanos e ordenado o encerramento do consulado norte-americano em São Petersburgo. 

Em reação a esta medida, o Governo britânico considerou que a decisão da Rússia de equiparar o número de diplomatas britânicos em Moscovo ao número dos russos expulsos de Londres "é lamentável".

"É lamentável, mas à luz do comportamento anterior da Rússia, já antecipávamos uma resposta", referia um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico.

"No entanto, isto não muda os fatos em causa: a tentativa de homicídio de duas pessoas em solo britânico, para a qual não há uma conclusão alternativa que não seja a de que a Rússia era culpada", acrescentou a porta-voz.

A responsável vincou ainda que a Rússia "está em flagrante violação da lei internacional e da Convenção sobre Armas Químicas e as ações dos países em todo o mundo demonstraram a profundidade das preocupações internacionais".

Ainda antes da decisão hoje anunciada, a Rússia e o Reino Unido tinham ordenado a expulsão de 23 diplomatas britânicos e 23 diplomatas russos, respetivamente.

Na origem desta crise internacional está o caso do envenenamento de Serguei Skripal, e da filha, Yulia Skripal, a 4 de março. Ambos encontrados inconscientes em Salsbury, uma cidade no sul de Inglaterra, depois de terem sido envenenados com Novichok, um componente químico que ataca o sistema nervoso. O ex-espião continua em estado crítico, enquanto a filha vai dando sinais de algumas melhorias.

O Reino Unido aponta o dedo à Rússia, considerando que o país está envolvido neste caso. Por sua vez, Moscovo tem desmentido todas as acusações. Desde então, vários países decidiram expulsar elementos diplomáticos dos respetivos países, em solidariedade com o Governo britânico. Portugal não expulsou qualquer diplomata russo do território, mas chamou a Lisboa o embaixador português em Moscovo para consultas.
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