Salvini insiste em impedir desembarque do Open Arms apesar de acordo europeu

por RTP
Open Arms, perto da costa de Lampedusa Reuters

O ministro do Interior continua a impedir o desembarque de migrantes do navio da ONG espanhola Open Arms, desafiando o primeiro-ministro e apesar de seis países europeus, incluindo Portugal, terem acordado receber os 134 migrantes que permanecem a bordo do navio, há já 15 dias.

Em pano de fundo, uma batalha entre os até agora aliados de poder em Roma. Matteo Salvini emitiu nova ordem a impedir o desembarque de migrantes do navio Open Arms, que permanece a cerca de um quilómetro da costa italiana, depois de, na quarta-feira, um tribunal ter autorizado a sua entrada em águas territoriais de Itália com base numa “situação de gravidade e urgência excecionais”.

Na última noite, mais três pessoas e tiveram de ser retiradas de urgência do navio, por complicações médicas. “Todas as pessoas a bordo têm de ser retiradas com urgência. Por humanidade”, pode ler-se numa publicação da conta do Open Arms no Twitter, que acrescenta que, ao dia 15, se vive a bordo uma agonia insuportável. Numa publicação ao início da manhã desta sexta-feira, podia ler-se: “Terra à vista, mas nenhuma solução. Os direitos de 134 pessoas são violados a cada minuto que passa. Se a política europeia é incapaz de colocar limites, o que nos resta?”.


Esta quinta-feira, o primeiro-ministro Giuseppe Conte enviava uma missiva a Matteo Salvini, revelando haver um acordo de países europeus para acolher os migrantes. Portugal, Espanha, França, Alemanha, Roménia e Luxemburgo disponibilizavam-se a receber os migrantes a bordo. Conte pedia cooperação a Salvini, mas a resposta negativa do ministro do Interior gerou críticas duras de “deslealdade” e de “obsessão” pelos “portos encerrados” por parte do primeiro-ministro.

A nova diretiva de Salvini para impedir o desembarque esbarrou na recusa por parte dos ministros dos Transportes e da ministra da Defesa, Elisabetta Trenta, que argumentou com uma questão de “humanidade”. Salvini contrapõe que foi graças a este conceito de humanidade que “durante anos dos governos PD, a Itália se tornou o campo de refugiados na Europa”, criticando, uma vez mais, as ONG’s ao serviço dos traficantes. Para Salvini, a sua “obsessão”, como acusou o primeiro-ministro, permitiu diminuir em 80 por cento os desembarques de migrantes em Itália.



O impasse no caso do Open Arms espelha as fissuras na coligação de poder em Itália. A imigração tem, de acordo com analistas, o centro de uma estratégia de Salvini para retirar o seu partido Liga do Governo e assim arrastar o país para eleições, numa jogada para chegar depois ao poder como primeiro-ministro.

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