O embaixador norte-americano em Berlim, Richard Grenell, já conhecido pelas suas ameaças às empresas alemãs que não acatassem as sanções contra o Irão, ameaçou agora as que participassem no gasoduto Nord Stream 2 - um projecto que envolve entre outros interesses alemães e russos.
O diário alemão Handelsblatt publicou entretanto o original em língua inglesa da carta em que Grenell ameaça as empresas alemãs que participem no Nord Stream 2. A carta foi dirigida, entre outros, ao presidente da BASF Martin Brudermüller, em Ludwigshafen, e à direcção da empresa do sector da energia Uniper, de Düsseldorf.
Outras empresas envolvidas são Wintershall (filial da BASF), a anglo-holandesa Shell, a francesa Engie e a austríaca OMV.
Na carta afirma Grenell, categoricamente: "Empresas que se envolvam com a exportação de energia russa estão a participar em algo que implica um elevado risco de sanções".
Isto porque, explica no mesmo documento, "firmas que apoiem a construção dos dois pipelines estão a minar activamente a segurança da Ucrânia e da Europa". Segundo o embaixador, o gasoduto tornaria a União Europeia dependente do fornecimento de gás russo.
O Nord Stream 2 destina-se a transportar gás directamente da Rússia para a Alemanha, num trajecto de 1200 quilómetros. A construção do troço em território alemão já está iniciada.
Reacções alemãs contra Grenell
Já na semana passada, ainda antes de ser conhecida a carta, o chefe da diplomacia alemã Heiko Maas advertira secamente Grenell: "As questões da política europeia de energia têm de ser decididas na Europa e não nos EUA".
O dirigente dos Verdes Jürgen Trittin, por seu lado, comentou que "os americanos querem esgotaar economicamente a Rússia". O vice-presidente da bancada do Partido da Esquerda no Bundestag, Fabio De Masi, reclamou que o Governo Federal convocasse Grenell para apresentar explicações: "Aparentemente o embaixador dos EUA convenceu-se de que é na Alemanha o mandatário de um imperador de Washington".
Com uma alusão semelhante, o vice-presidente do SPD Ralf Stegner perguntou "se o sr. Grenell sabe que já passou o tempo dos Altos Comissários na Alemanha".
Mesmo Jürgen Hardt, porta-voz para a política externa da bancada da CDU/CSU no Bundestag, classificou as ameaças contra empresas alemãs como "uma nova e inaceitável radicalização unilateral do tom nas relações transatlânticas". E sugeriu que o Governo de Merkel apresentasse um protesto.
Artigos de opinião em vários órgãos da imprensa alemã não poupam Grenell, tratando-o de "pequeno Trump que ficou fora de jogo".