São Tomé. Patrice Trovoada pede entendimento alargado e admite afastar-se do poder

por Lusa

Lisboa, 19 out (Lusa) -- O atual primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe defendeu hoje a necessidade de um "maior entendimento" entre os partidos para governar o país e disse encarar "tranquilamente" a possibilidade de não liderar um próximo executivo.

"Temos que, como são-tomenses, encontrar uma plataforma de entendimento. 27-28 deputados é muito instável", disse hoje Patrice Trovoada, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, onde se encontra para contactos políticos e com uma agenda privada.

O Tribunal Constitucional são-tomense proclamou hoje os resultados oficiais das eleições de 07 de outubro, confirmando os 25 assentos para a ADI (Ação Democrática Independente, liderada por Patrice Trovoada), 23 para o MLSTP-PSD (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata), cinco para a coligação PCD-UDD-MDFM e dois para Movimento de Cidadãos Independentes.

Num cenário de coligação pós-eleitoral, ADI e independentes, eleitos pelo distrito de Caué, ficariam com 27 dos 55 lugares na Assembleia Nacional, enquanto a oposição consegue, junta, maioria absoluta, com 28 mandatos.

"A situação económica, financeira e social do país requer muita atenção. Os problemas que são os nossos, como governo, serão os problemas do próximo governo", afirmou o líder do executivo cessante, avançando: "Nós iremos, porque somos responsáveis, depois deste período de euforia, falar com a oposição e não só".

"Se a oposição não concorda, pode ser que o partido [ADI] avance com um governo minoritário e depois veremos no parlamento como é que as coisas vão acontecer", referiu, desdramatizando a existência de um governo minoritário, ao recordar que "não é novidade" em São Tomé e Príncipe ter executivos em minoria, e que já foram liderados pelo MLSTP, coligação e o ADI, cenário que obrigaria a acordos pontuais.

Questionado sobre se admite um Governo de unidade nacional, respondeu afirmativamente.

"A situação atual requer muita calma. Eu acho que o nível de violência que nós assistimos nestes últimos dias, nós chegámos a um patamar que não é desejável. A convivência democrática em São Tomé e Príncipe nunca teve esse tipo de situações e convém baixar um pouco a tensão", referiu.

Patrice Trovoada sublinhou que "está tudo em aberto", mas reiterou que o Presidente da República, Evaristo Carvalho, é "profundamente legalista e irá, no momento da formação da Assembleia Nacional, chamar o ADI a formar Governo".

"O ADI tem algumas semanas para trabalhar no sentido de criar as condições de formar ou um governo minoritário ou um governo de base alargada ou não formar governo. Isso é algo que será decidido nas próximas semanas", comentou.

Qualquer que seja o cenário, Patrice Trovoada admitiu que apresentar-se como candidato a primeiro-ministro "poderá complicar o relacionamento".

"Mesmo no cenário de formação do governo, qualquer conhecedor da situação política são-tomense sabe que há uma grande fixação sobre a pessoa do Patrice Trovoada. A própria oposição, de maneira insistente e repetida, foi sempre direcionando os seus ataques contra a minha pessoa", considerou.

"Eu terei de equacionar também, como naturalmente o presidente do partido é o candidato a posto do primeiro-ministro, se essa minha designação facilita ou complica a situação. Nós veremos", comentou, acrescentando: "Hoje, no estado de espírito que estão as forças da oposição, provavelmente o ADI apresentar o Patrice Trovoada como candidato a primeiro-ministro, poderá complicar ainda mais o relacionamento".

Questionado se admite então não liderar o governo que será indigitado nas próximas semanas, respondeu ser "uma possibilidade" que disse encarar "muito tranquilamente".

"Estamos à busca de um clima para que o país conheça a maior estabilidade possível. Está tudo em aberto", disse.

Questionado se esse eventual afastamento do poder é uma derrota pessoal, rejeitou.

"Eu tenho os resultados do meu lado. É preciso perceber que - qualquer observador neutro sabe - São Tomé e Príncipe mudou para melhor. Já não estamos no grupo dos países menos avançados, os indicadores sociais melhoraram, os indicadores em termos das instituições melhoraram, a luta contra a corrupção melhorou, as reformas foram feitas", sublinhou.

Trovoada afirmou que o seu Governo pedia, nestas eleições, "mais trabalho, mais esforço" para prosseguir as reformas, enquanto a oposição dizia que "a vida estava difícil, que era preciso baixar as coisas".

"As pessoas não quiseram, uma boa parte, continuar nessa via de austeridade, de reforma, de trabalho, mas é a única via de momento para chegarmos a transformar para melhor a economia são-tomense. Creio que a muito curto-prazo, a maioria dos são-tomenses dará razão àquilo que tem sido a postura do ADI", sustentou.

Apesar de poder deixar de ser primeiro-ministro, Patrice Trovoada garante que continuará à frente da ADI, pelo menos até 2022, como já tinha anunciado no último congresso do partido.

"Se o ADI não formar governo agora, tem de se preparar para formar o próximo governo, quer seja daqui a um ano ou quatro anos", sublinhou, referindo ter a "preocupação de formar as próximas gerações, para que estejam mais bem preparadas que a nossa e preparadas para o futuro".

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