Seca arrastou um milhão de pessoas para a fome em Madagáscar

por Lusa
Madagáscar enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos. A região Sul do país vive uma situação crítica EPA

A crise climática global intensificou a seca devastadora que se prolonga há cinco anos no sul de Madagáscar e colocou um milhão de pessoas no nível de fome aguda, alerta um relatório divulgado pela Amnistia Internacional.

O relatório "Será demasiado tarde para nos ajudarem quando já estivermos mortos" documenta o impacto da seca nos direitos humanos das pessoas na região do "sul profundo" de Madagáscar, onde 91% da população vive abaixo do limiar da pobreza, e serve de argumento à Amnistia Internacional (AI) para apelar à tomada "urgente" de medidas por parte da comunidade internacional, que se prepara para se reunir no final do mês em Glasgow na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).

"Madagáscar está na linha da frente da crise climática. Para um milhão de pessoas, significa uma seca de proporções catastróficas, e violações dos seus direitos à vida, saúde, alimentação e água. Pode significar a morte por fome. Isto está a acontecer agora", alerta Agnès Callamard, secretária-geral da AI, numa nota de divulgação do relatório.

"As atuais projeções das alterações climáticas indicam que as secas deverão tornar-se mais graves e afetar desproporcionadamente as pessoas nos países em desenvolvimento. Antes das negociações climáticas da ONU na COP26, este é um alerta para que os líderes mundiais deixem de arrastar os pés na questão da crise climática", acrescenta a ativista.

"No futuro, os países que mais contribuíram para as alterações climáticas e aqueles com mais recursos disponíveis devem também fornecer apoio financeiro e técnico adicional para ajudar a população de Madagáscar a adaptar-se melhor aos impactos das alterações climáticas, tais como secas cada vez mais severas e prolongadas", defende ainda a organização não-governamental.

Madagáscar, país vizinho de Moçambique, no oceano Índico, está entre os países mais vulneráveis às alterações climáticas - é o quarto no ranking das Nações Unidas - e as evidências científicas demonstram que as mesmas contribuíram para o aumento da temperatura e a diminuição das chuvas no semiárido sul profundo do país, que vem a registar precipitações abaixo da média há cinco anos consecutivos.

Segundo as Nações Unidas, Madagáscar está à beira de sofrer a primeira grande fome provocada pelas alterações climáticas em todo o mundo.

O Programa Mundial Alimentar das Nações Unidas (PAM) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alertaram em maio deste ano que cerca de 1,14 milhões de pessoas enfrentavam elevados níveis de insegurança alimentar aguda no sul de Madagáscar, e que quase 14.000 pessoas se encontravam então num estado de "catástrofe" - o nível mais elevado de insegurança alimentar numa escala de cinco etapas da Classificação da Fase Integrada da Segurança Alimentar (IPC).
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