Seis casos de cólera registados na cidade da Beira

por RTP
O autarca Daviz Slmango confirmou à RTP a existência de um surto de cólera que já terá causado seis vítimas mortais. Tiago Petinga - Reuters

Após a passagem do ciclone Idai, a preocupação é agora a de evitar um “segundo desastre”. Esta terça-feira, o presidente da Câmara da Beira, Daviz Slmango, confirmou à RTP a existência de um surto de cólera que, segundo o autarca, já fez seis vítimas mortais na Beira. Uma informação que é, para já, desmentida pelos responsáveis de saúde.

De acordo com Daviz Slmango, presidente da Câmara da Beira, existe neste momento um surto de cólera ativo naquela cidade. Em declarações à RTP, o autarca diz que este surto já provocou seis vítimas mortais entre segunda e terça-feira. 

"Ontem morreram aqui na Munhava cinco pessoas, vítimas de cólera, no centro de saúde. Ainda hoje, esta manhã, saiu mais um corpo", refere Daviz Slmango.

O presidente da Câmara da Beira disse ainda que teve conhecimento destes casos porque está a acompanhar de perto a situação.

"O município tem as ambulâncias a atuarem, temos a agência funerária que está a retirar pessoas, a casa mortuária está sob gestão do município. Quando chega um corpo, nós vemos que aquela pessoa morreu de cólera", afirmou.

Por outro lado, os responsáveis de um centro de acolhimento de deslocados do bairro de Munhava, que a RTP visitou, desmentem para já a existência de casos confirmados de cólera.  



O espectro da cólera e da malária paira sobre a Beira e a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou esta terça-feira o envio de cerca de 900 mil vacinas para evitar a propagação da doença, e ainda 900 mil mosquiteiros, que deverão chegar nos próximos dias a Moçambique.  

“A OMS está a preparar suprimentos para tratar doenças diarreicas, nomeadamente fluidos intravenosos e testes de diagnóstico.

Estão já a caminho 900 mil doses de vacinas orais para a cólera, retiradas do stock global de emergência”, informou Djamila Cabral, representante da organização em Moçambique.  

A responsável admitiu que existe um “risco extremamente alto” de ocorrência de doenças diarreicas como a cólera após a catástrofe provocada pelo ciclone Idai.  

Por isso, a organização vai apoiar a instalação de três centros de tratamento de cólera – o maior na cidade da Beira, com 80 camas - para fazer face a uma previsível escalada de casos desta doença, mas também da malária.

A OMS está ainda a criar uma equipa de 40 elementos especialistas em logística, epidemiologia, prevenção e resposta a surtos.
 
“As próximas semanas serão cruciais. O setor da saúde precisa de pelo menos 38 milhões de dólares nos próximos meses para a resposta a esta crise humanitária”, assinala.  
“Condições horríficas”  

Djamila Cabral relata que as condições no terreno são tudo menos favoráveis. Famílias, grávidas e bebés estão a viver em “condições horrificas” mesmo nos centros de acolhimento, onde faltam alimentos, água potável e não existem condições de higiene.  

“Não podemos deixar que estas pessoas sofram com um segundo desastre com doenças ou com a falta de serviços de saúde básicos. Já sofreram o suficiente”, disse a responsável.  

De acordo com a agência Reuters, ainda não foi confirmado qualquer surto de cólera em Moçambique, ainda que vários responsáveis de saúde no terreno tenham registado um aumento significativo nos casos de diarreia, um dos principais sintomas da doença.

A cólera dissemina-se através das fezes, em água ou alimentos que tenham sido contaminados pela bactéria. Os surtos podem desenvolver-se rapidamente, ainda mais quando os sistemas de saneamento são afetados, e é uma doença que pode matar em apenas algumas horas, se não for tratada.

“Há uma enorme densidade populacional aqui na Beira. É claro que a disseminação de qualquer tipo de epidemia será muito mais rápida aqui”, afirmou Gert Verdonck, coordenador de emergências dos Médicos Sem Fronteiras, citado pela agência Reuters.

A passagem do ciclone Idai no dia 14 de março fez pelo menos 786 mortos em Moçambique. Zimbábue e Malawi. Moçambique foi o país mais afetado, onde se registaram, até ao momento, 786 vítimas mortais e 1.522 feridos.  

Neste momento, há cerca de 127 mil pessoas a viver em mais de 150 centros de acolhimento, situados sobretudo na região da Beira.

O número de pessoas afetadas pelo ciclone subiu para 797 mil, sendo que este total de pessoas afetadas não significa que estejam em risco de vida, tratando-se por exemplo de casos em que as pessoas perderam as casas ou que estão em zonas isoladas a precisar de assistência.  

Soube-se esta terça-feira que o número de portugueses ainda por localizar após o desastre desceu de 30 para sete, segundo indicou o secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves.

O governante admite a possibilidade de estes portugueses ainda não terem acedido a meios de contacto permanente, nomeadamente telemóveis. 
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