Seis vítimas mortais e transmissão entre humanos fazem disparar receios do coronavírus

por RTP
Reuters

São já seis os mortos associados ao coronavírus que surgiu em Wuhan, China. Com a informação de que o vírus é transmitido entre humanos, crescem os receios mundiais sobre a propagação deste vírus, que já chegou a quatro países. A Organização Mundial de Saúde vai reunir-se.

Esta terça-feira, o presidente da cidade de Wuhan, Zhou Xianwang, revelou na televisão estatal que são já seis os casos de vítimas mortais pela pneumonia viral.

O último balanço das autoridades chinesas aponta para 291 pessoas infetadas com o novo tipo de coronavírus desde 20 de janeiro, um aumento de 77 casos. A maioria, 258, foi registada na província de Hubei, província em que a cidade de Wuhan se insere. Os restantes verificaram-se em Pequim, Xangai e na província de Guangdong e agora também na província de Zhejiang. 15 elementos das equipas de saúde foram infetados.

Os números não param de crescer, tal como a contabilização das vítimas mortais. São já quatro as pessoas que perderam a vida com a pneumonia viral.

A doença coincide com o período de viagens mais movimentado na China, já que milhões de pessoas viajam nesta altura por ocasião do Ano Novo Lunar, a festa das famílias chinesas.

A confirmação de que o vírus tem transmissão entre humanos fez aumentar os receios mundiais, enquanto a Organização Mundial de Saúde vai agora discutir se vai ou não declarar emergência de saúde internacional.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, convocou o Comité de Emergência da organização para que avalie esta possibilidade e as recomendações a seguir se for declarada a emergência de saúde pública internacional, aplicável às epidemias mais graves.

“Informação sobre novas infeções registadas sugerem que sustentam que a transmissão esteja a ser feita de humanos para humanos”, argumentou o diretor regional do Pacífico ocidental da OMS, Takeshi Kasai.

A emergência de saúde pública internacional foi declarada para as epidemias da gripe suína, em 2009, do vírus Zika, em 2016, e do vírus Ébola, que atingiu uma parte da África Ocidental, de 2014 a 2016, e a República Democrática do Congo, desde 2018.
Quatro países com casos registados
O medo traz memórias da pandemia global em 2002/2003 que provocou quase 800 mortos e que teve origem num outro coronavírus que surgiu na China, o SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome).

Há dois casos identificados na Tailândia, um no Japão e um outro na Coreia do Sul. Na Austrália, está a ser investigada uma suspeita. Um pouco por todo o lado, as autoridades de saúde estão a aumentar a monitorização de quem vem da China e, mais concretamente, da região de Wuhan, uma cidade de 11 milhões de pessoas.

A origem do vírus ainda não foi determinada, mas a fonte primária é, provavelmente, animal, de acordo com a Organização Mundial de Saúde que ligou os casos com um mercado de marisco em Wuhan.

Até agora, a OMS ainda não recomendou restrições ao comércio ou às viagens, mas essas medidas podem ser equacionadas na reunião de emergência esta quarta-feira.

As autoridades aeroportuárias dos EUA, tal como de muitas nações asiáticas, estão a monitorizar a temperatura corporal dos passageiros vindos de Wuhan.

"Como a Austrália tem um grande número de viajantes internacionais de Wuhan e [de outras cidades da] China, estamos a implementar medidas preventivas", disse o chefe dos serviços médicos do Governo australiano, Brendan Murphy, em conferência de imprensa.

Os funcionários de fronteiras e de biossegurança farão inspeções médicas aos passageiros que chegarem à Austrália nos três voos semanais de Wuhan para Sydney, além de fornecerem aos visitantes panfletos com informações sobre os sintomas desta doença.

"Não podemos impedir completamente a entrada desta doença no país", alertou Murphy, horas antes de ser registado um caso de possível contágio de um cidadão australiano que voltou de Wuhan há poucos dias.

As autoridades do Ministério da Saúde do estado de Queensland disseram à agência de notícias espanhola EFE que colocaram em quarentena um homem que apresentava sintomas desta doença respiratória.

"Como esse homem viajou para Wuhan, passou por uma série de testes de coronavírus e permanecerá isolado até que os seus sintomas melhorem", disse um porta-voz do Ministério.

Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e outros locais com vários voos diretos para a China também estão a adotar medidas mais rigorosas de triagem. Pelo menos três aeroportos nos Estados Unidos começaram a rastrear passageiros de companhias aéreas oriundas do centro da China.

"Precisamos de aumentar o nível de alerta, pois o número de pacientes continua a aumentar na China", disse o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.
Macau cria centro de contingência
O Governo de Macau criou hoje um centro de contingência para reforçar a resposta ao novo tipo de coronavírus e alargou o controlo da temperatura corporal a todos os turistas provenientes da China.

O centro visa "orientar e coordenar as ações das entidades públicas e privadas no âmbito da prevenção, controlo e tratamento das infeções por novo tipo de coronavírus", afirmou a secretária para os Assuntos e Sociais, Ao Ieong U, em conferência de imprensa.

Não existe até ao momento qualquer caso confirmado em Macau e o alerta mantém-se no nível 3, relativo a um risco médio que exige um acompanhamento mais apertado e que já está em vigor desde 05 de janeiro.

Criado por despacho do chefe do Executivo, o centro de contingência vai funcionar 24 horas por dia e é responsável por "todas as medidas preventivas e de controlo necessárias, conforme a intensidade da propagação das infeções por novo tipo de coronavírus", acrescentou Ao Ieong U.

O novo coronavírus é semelhante ao que provoca a Síndrome Respiratória Aguda Grave, mais conhecida como pneumonia atípica, que infetou os primeiros doentes no sul da China em 2002 e se espalhou a mais de 20 países, matando quase 800 pessoas, e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente, que foi identificada pela primeira vez em 2012 na Arábia Saudita, estendendo-se a 27 países e que causou mais de 850 mortos.

De acordo com um especialista em doenças respiratórias da Comissão Nacional de Saúde da China Zhong Nanshan, o coronavírus transmite-se por contágio humano.
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