O presidente do PSD não excluiu hoje vir a aceitar um mecanismo de delação premiada, mas considerou que é preciso "muito cuidado" e "habilidade" ao legislar, manifestando dúvidas de que se consiga encontrar a solução legal correta.
"Eu não fecho a porta, mas não quero criar novos problemas à sociedade, com a condenação de inocentes, com uma negociação quase das penas antes de chegar ao juiz. É preciso ter, muito, muito, muito cuidado, porque presta-se facilmente a medidas populistas, e isso eu não quero", declarou Rui Rio aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.
O presidente do PSD foi questionado sobre este assunto no final de uma reunião com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2020, e na resposta começou por dizer que partilha das opiniões "que admitem pegar no tema, pensar no tema e se ele tem viabilidade".
"Agora, eu reconheço que para que se possa andar num caminho próximo disso é preciso ter uma habilidade para fazer a lei muito, muito grande, que eu ainda não conseguir ver qual é, porque isso também traz problemas seriíssimos", acrescentou.
Dirigindo-se para o jornalista que lhe fez a pergunta, Rui Rio observou: "Não queira estar na situação de, de repente, alguém o acusar, dizer que lhe entregou dinheiro e não lhe entregou dinheiro nenhum e o senhor, de repente, está num problema seriíssimo".
"Portanto, é um tema delicado, temos de ter muito, muito cuidado. E eu tenho dúvidas se alguma vez vamos conseguir redigi-lo de tal maneira que acautele esses aspetos", concluiu, reiterando: "Não ponho logo de lado, estou disponível para ouvir, mas não sei qual a solução que me podem dar de modo a fechar a porta a essas situações".
Numa entrevista publicada hoje no jornal Público, o primeiro-ministro, António Costa, declarou apoio ao aperfeiçoamento do mecanismo de colaboração premiada na aplicação de penas.
"A colaboração premiada já existe, detetou-se que uma das razões pela qual é pouco utilizada é que o prazo dado para arrependimento é de um mês. Se uma pessoa se arrepender dois meses, já não pode negociar. Faz sentido alargar este prazo, de forma a que possa haver maior colaboração", considerou.
António Costa defendeu que "se possa avançar em mecanismos mais negociais de aplicação de penas", argumentando que isso é fundamental para a credibilização da justiça.
Quanto às críticas à possibilidade da consagração legal de um mecanismo como o que está instituído no Brasil, designado por delação premiada, o primeiro-ministro relativizou essas considerações.
Costa argumentou que "no partido da liberdade só por acaso é que não há críticas relativamente a alguma medida" e que "houve talvez mais atenção aos títulos dos jornais do que propriamente à análise da medida que é proposta", numa referência implícita ao uso da palavra delação.