Senadores vão à Casa Branca ouvir planos de Trump para a Coreia do Norte

por Andreia Martins - RTP
Exército sul-coreano num exercício militar conjunto com os Estados Unidos, conduzido na semana passada na região de Pocheon, junto à fronteira com a Coreia do Norte. Kim Hong-Ji - Reuters

O encontro pouco habitual com senadores do Congresso acontece esta quarta-feira e serve para transmitir informação sobre as intenções da atual Administração com a Coreia do Norte. Esta reunião acontece num contexto de tensão em crescendo na península norte-coreana e apenas dois dias depois de Pyongyang ter detido mais um cidadão norte-americano.

No encontro desta quarta-feira na Casa Branca vão estar, além dos 100 senadores que compõem a câmara alta do Congresso norte-americano, o secretário de Estado Rex Tillerson e o secretário da Defesa Jim Matiis, acompanhados por vários responsáveis dos serviços de inteligência.

É mais um indicador que deixa adivinhar que a “era da paciência estratégica” com a Coreia do Norte poderá ter chegado ao fim, como anunciava o vice-presidente Mike Pence, numa visita a Seul na semana passada.

De assinalar que uma eventual ação militar no terreno ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos não tem obrigatoriamente de ser aprovada pelo Senado, como aconteceu com a intervenção ordenada por Barack Obama na Líbia, em 2011.

Na segunda-feira, o Presidente norte-americano referia que a questão da Coreia do Norte se arrasta há vários anos. “As pessoas fecharam os olhos à situação durante décadas, agora é hora de resolver o problema”, declarou o Presidente, que pedia há dias que os responsáveis do reino eremita "se comportassem".

Também no início da semana, Donald Trump esteve reunido com os embaixadores dos Estados Unidos na ONU, a quem apelou à imposição de novas sanções económicas a Pyongyang. Na próxima sexta-feira, o secretário de Estado Rex Tillerson vai conduzir um encontro nas Nações Unidas focado na questão norte-coreana.
"Ridículas e imprudentes"
Não só a nível diplomático, mas também no terreno, a evolução dos acontecimentos traça uma escalada de tensão militar entre os países envolvidos. Na terça-feira, Pyongyang assinalou o aniversário da fundação do exército do país à boa maneira norte-coreana, com o desfile de tropas e do arsenal balístico na região de Wonsan, sem detalhar que tipo de armas e unidades militares foram deslocados.

Em comunicado, a Coreia do Norte disse também na terça-feira que as recentes declarações dos mais altos responsáveis norte-americanos são “ridículas e imprudentes”, uma vez que colocam os dois países “muito perto de uma guerra total”.

A declaração, atribuída ao Ministério norte-coreano dos Negócios Estrangeiros, explica que as causas que levaram a Coreia do Norte a procurar desenvolver o arsenal nuclear foram precisamente as tentativas por parte dos Estados Unidos de isolarem o país a nível internacional, bem como a “ameaça nuclear” que Washington representa para Pyongyang “há mais de meio século”.

De lembrar que este comunicado foi revelado um dia depois da detenção de Kim Sang Duk, um professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pyongyang e detentor de cidadania norte-americana. O homem foi detido no Aeroporto Internacional da capital do país e tornou-se no terceiro cidadão norte-americano a estar sob custódia das autoridades norte-coreanas.

A juntar a estes focos de tensão está ainda a aproximação do porta-aviões USS Carl Vinson à península coreana e a chegada à Coreia do Sul de um dos mais poderosos submarinos que constituem o arsenal militar norte-americano, a juntar aos vários exercícios que os sul-coreanos e os militares norte-americanos estacionados no país têm levado a cabo em conjunto.

Entretanto, os Estados Unidos continuam a patrocionar a construção do sistema antimíssil Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) em território sul-coreano. A operação de instalação está a irritar as autoridades em Pequim, que vêem esta ação como uma intromissão de Washington nos assuntos da região onde a China se insere.

Os próprios sul-coreanos estão a receber este sistema em protesto contra as autoridades norte-americanos, considerando que o mecanismo de proteção - com algumas lacunas a nível de proteção - só vai expor ainda mais o país à ameaça do vizinho a norte.

Quando instalado, o THAAD só conseguirá conter até oito mísseis ao mesmo tempo. É uma autêntica proteção a meio termo, uma vez que também não será capaz de intercetar misseis intercontinentais e de longo alcance, ou mísseis lançados por submarinos no mar ao largo da Coreia do Sul.
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