Síria aguarda implementação do cessar-fogo humanitário

por RTP
Em sete dias de bombardeamentos consecutivos terão morrido pelo menos 510 pessoas em Ghouta, na Síria Bassam Khabieh - Reuters

O cessar-fogo temporário foi decretado no sábado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, com o aval da Rússia, mas o acordo só deverá entrar em vigor na segunda-feira. No terreno, continuam os bombardeamentos e combates violentos. Ao telefone com Vladimir Putin, Angela Merkel e Emmanuel Macron pediram à Rússia "pressão máxima" com vista à aplicação "imediata" da resolução.

As imagens que chegam de Ghouta Oriental mostram que a zona situada nos arredores de Damasco continua ser alvo de bombardeamentos das forças do regime de Bashar al-Assad. Só este domingo terão morrido pelo menos nove civis e outras 31 pessoa ficaram feridas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança no sábado tinha, afinal, uma moratória de 72 horas. Mansour Ayyad Al-Otaibi, embaixador do Kuwait nas Nações Unidas, revelou este domingo que o cessar-fogo deve ser implementado só no início da semana, possivelmente segunda-feira.

"Continuamos a trabalhar no texto [da resolução], mas a intenção é adotar [o cessar-fogo] na segunda-feira de manhã", revelou o responsável. Suécia e Kuwait, dois membros não-permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, redigiram a proposta de resolução que foi aprovada no sábado.

Logo no sábado, poucas horas depois de ter sido aprovado o cessar fogo, continuavam os bombardeamentos sobre Ghouta. As agências internacionais deram ainda conta de violentos combates entre forças do regime sírio e os rebeldes que ainda resistem naquela cidade às portas de Damasco.
A resolução aprovada no sábado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas prevê um cessar-fogo humanitário no território sírio durante 30 dias.
As forças iranianas, aliadas do regime sírio, prometeram respeitar a resolução da ONU. No entanto, Teerão considera que as tréguas decretadas não incluem certas partes dos subúrbios de Damasco "controladas por terroristas", e por isso os ataques vão continuar referiu Mohammad Baqerium, general iraniano, citado pela agência Reuters.

De igual forma, a Turquia considera que o cessar-fogo não afeta a ofensiva de Ancara em Afrin, na Síria, contra combatentes curdos.

Enquanto os bombardeamentos continuam a violar a trégua decretada por unanimidade pelos 15 membros, permanentes e não-permanentes, continuam as movimentações diplomáticas na tentiva de resolver o impasse.

Numa conversa telefónica mantida este domingo com o Vladimir Putin, Angela Merkel e Emmanuel Macron, os três líderes consideraram "crucial que a resolução seja aplicada rapidamente e integralmente", segundo indicou uma fonte oficial alemã em comunicado.

A chanceler alemã e o chefe de Estado francês "pediram à Rússia para que neste contexto exerça uma pressão máxima sobre o regime sírio para obter uma suspensão imediata dos raides aéreos e dos combates", é indicado na mesma nota informativa.

O comunicado de Berlim salientou ainda que os três líderes saudaram a resolução aprovada por unanimidade no sábado no Conselho de Segurança da ONU para uma trégua de pelo menos de um mês "especialmente para permitir a chegada de ajuda humanitária".
Moscovo promete compactuar com resolução
Merkel e Macron salientaram ainda que um cessar-fogo poderá ser "a base para promover esforços para uma solução política no contexto das negociações de paz em Genebra, sob os auspícios das Nações Unidas".

"A Alemanha e a França continuam disponíveis para trabalhar com a Rússia e com os outros parceiros internacionais para esse objetivo", concluiu a nota informativa de Berlim.

Por seu lado, Vladimir Putin informou os seus interlocutores europeus das "medidas práticas" que foram tomadas pelo lado russo para a retirada de civis para transportar cargas humanitárias e para prestar assistência médica à população síria afetada, de acordo com um comunicado do Kremlin.

Putin enfatizou que a "suspensão das ações militares não se estende às operações contra grupos terroristas", segundo acrescentou o comunicado da Presidência russa. De facto, a resolução aprovada no sábado não incluiu a investida sobre terroristas do Estado Islâmico, al-Qaeda ou da frente al-Nusra.

O documento dos russos indica ainda que as partes concordaram em "ativar o intercâmbio de informações através de diferentes canais sobre a situação na Síria".

Nem o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo nem o Kremlin fizeram qualquer referência aos bombardeamentos deste domingo contra a região de Ghouta Oriental, ocorridos após a aprovação da resolução da ONU, apesar dessa área dos arredores de Damasco estar expressamente incluída no documento das Nações Unidas.

A trégua humanitária aprovada no sábado prevê incidir, entre outras áreas do território sírio, em Ghouta Oriental, o último grande bastião da oposição ao Presidente sírio, Bashar al-Assad, perto da capital síria de Damasco.

Desde domingo passado que esta cidade em particular tem sido alvo de intensos bombardeamentos por parte das forças governamentais sírias, uma das ofensivas mais mortíferas registadas desde o início da guerra. Mais de 500 civis, incluindo uma centena de crianças, terão morrido ao longo de sete dias de consecutivos ataques.

Ghouta, o último enclave rebelde perto da capital síria, está sitiado pelas forças do regime de Bashar al-Assad desde 2013. Enclausurada há cinco anos, a cidade enfrenta uma grave crise humanitária, marcada pela escassez de alimentos, medicamentos e combustível.

A aprovação deste cessar-fogo acontece quando se assinalam sete anos desde o início da guerra civil na Síria, desencadeada em março de 2011. Na altura, a violenta repressão de manifestações pacíficas contra Assad transformou-se num conflito complexo de várias frentes de combate e influências externas de vários países, desde Rússia, Estados Unidos, Turquia ou Irão.

Foi também no contexto deste conflito que emergiram grupos terroristas jihadistas, entre eles o autoproclamado Estado Islâmico.

Em sete anos, o conflito provocou pelo menos 350 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados.

c/ Lusa
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