Síria. Theresa May passa à ofensiva no Parlamento

por RTP
Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, segunda-feira 16 de abril de 2018 Reuters

A primeira-ministra britânica prepara-se esta segunda-feira para novos ataques, desta vez políticos e internos. O Parlamento reabre após as férias da Páscoa e o Governo pediu uma sessão parlamentar de urgência.

O Reino Unido participou ao lado dos Estados Unidos e da França no ataque a alvos sírios específicos alegadamente ligados ao armazenamento e produção de armas químicas.

Theresa May quer explicar aos deputados a sua decisão de envolver o país nos ataques à Síria, na madrugada de sábado passado, sem lhes pedir autorização.
Perante a lei britânica, a autorização parlamentar não é obrigatória para este tipo de operação militar mas é hábito ser pedida.
May deverá explicar aos deputados que os bombardeamentos aéreos foram "do interesse nacional britânico" e visavam evitar mais sofrimento devido à utilização de armas químicas.

Deverá também sublinhar que tiveram um apoio generalizado da comunidade internacional.

A exigência de que os deputados confirmem que a participação britânica se justificou será outro passo importante, sobretudo em caso de novos ataques.
Na corda-bamba
O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, pronunciou-se veementemente contra os ataques, classificando-os como "ilegais" e afirmando que nunca se deveriam ter realizado sem a aprovação das Nações Unidas - e da Rússia.

Já tinha também exigido a consulta parlamentar sobre a decisão de envolver o Reino Unido nas ações militares contra a Síria.

A primeira-ministra limitou-se a convocar quinta-feira de urgência o seu gabinete para dar parte aos ministros dos planos que se desenvolviam, e avançou após receber o seu apoio.

O debate deverá durar seis horas mas o mecanismo parlamentar não prevê qualquer votação vinculativa. Os deputados poderão no máximo confirmar a sua oposição às decisões de May, referindo apenas que o Parlamento "considerou a questão".

May pretende pedir aos deputados para votar sobre se foi ou não correto da parte do Reino Unido envolver as suas forças militares.

Esta segunda-feira, a secretária para o Desenvolvimento Internacional, Penny Mordaunt, referiu que teria sido uma "loucura" alargar aos deputados a decisãom, quando estes não podiam aceder a informações classificadas.

Um argumento que May poderá retomar no debate.
Pedir anuência ao Parlamento
A primeira-ministra britânica tem sustentado que os ataques não visaram reverter o Governo de Assad e que, em caso de reincidência, poderão realizar-se novas operações militares na Síria.

Por isso, poderá ser importante ter a anuência dos deputados de que as operações tripartidas de sábado foram justificadas.

May tem justificado a sua decisão de se aliar aos Estados Unidos e a França, dizendo que era necessário dar um sinal inequívoco ao Presidente sírio Bashar al-Assad, acusado de utilizar armas químicas na sua ofensiva contra os grupos armados de Ghouta Oriental, de que estas armas não serão toleradas.

Durante as suas explicações, a líder do Governo britânico deverá igualmente lançar mão do recente envenenamento com armas químicas do ex-espião Serguei Skripal e da sua filha Yulia, para defender a erradicação de tais substâncias.

Tanto o Governo sírio como a Rússia, o seu grande aliado na cena internacional, têm negado o uso de arsenais químicos.
Johnson no Luxemburgo
Esta segunda-feira, à chegada ao Luxemburgo para a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, que terá em agenda o ataque tripartido, Boris Johnson sublinhou precisamente que a "guerra na Síria vai prosseguir" sem alterações devido aos ataques.

"É muito importante sublinhar que esta não foi uma tentativa de alterar o curso da guerra na Síria ou de provocar uma mudança de regime", disse o responsável pela diplomacia do Reino Unido. "Receio que a guerra síria vá prosseguir o seu caminho horrível e miserável", acrescentou.

Jonhson referiu-se aos ataques como sendo "o mundo a dizer que está farto destas armas químicas".

O Governo sírio do Presidente sírio Bashar al-Assad negou sempre a autoria de ataques químicos e os seus maiores apoiantes externos, a Rússia e o Irão, recusam igualmente responsabilidades no ataque químico alegadamente registado no passado dia 7 de abril em Douma, uma cidade de Ghouta Oriental às portas de Damasco.
Laboratório em Ghouta Oriental
De acordo com a agência de notícias iraniana Fars, o exército sírio descobriu este domingo em Ghouta Oriental um laboratório sofisticado de produção de armas químicas em Aftaris, numa área até há poucos dias controlada por grupos armados hostis a Assad.

Além de uma grande quantidade de materiais tóxicos e químicos, incluindo gás de cloro, terão sido encontrados uniformes de segurança, um grande número de mísseis, artilharia, granadas de morteiro e bombas.

Esta segunda-feira, a Rússia deverá participar da reunião da Organização internacional para a Proibição de Armas Químicas, a OPAQ, que enviou inspetores à Síria para confirmar o ataque de dia 7 de abril e identificar o tipo e a proveniência das armas químicas que terão sido utilizadas.
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