Sri Lanka. Navio com químicos ameaça causar desastre ambiental

por Inês Moreira Santos - RTP
Força Aérea do Sri Lanka | Reuters

Está a afundar-se o navio porta-contentores danificado pelo fogo em Colombo, afirmou esta quarta-feira a Marinha do Sri Lanka. O MV X-Press Pearl contém toneladas de produtos químicos e o Governo receia que o naufrágio se torne num dos piores desastres ambientais de sempre.

As autoridades e os peritos no resgate estavam esta quarta-feira a tentar rebocar o navio, quando começou a afundar-se no porto principal do Sri Lanka, afirmou a Marinha e o Governo do Sri Lanka.

"O navio está em perigo iminente de afundamento", informou o porta-voz Indika de Silva, horas depois de o incêndio ter sido extinto e o MV X-Press Pearl, registado em Singapura, ter começado a ser rebocado para longe da costa de Colombo.

"A popa do navio está submersa, o nível da água está acima do convés. O navio está a afundar-se", afirmou ainda à BBC.

A empresa Smit, envolvida na operação de socorro ao MV X-Press Pearl indicou que "o navio está a afundar-se na localização atual", referiu também ao início da manhã o ministro das Pescas cingalês, Kanchana Wijesekera.


Horas depois, Indika de Silva afirmou à Al Jazeera que o barco já se tinha afundado e que as autoridades não o conseguiram rebocar.

"O navio está no fundo do mar agora. Não há como rebocar. Parámos de tentar rebocá-lo para fora das águas do Sri Lanka", disse. "Agora a nossa preocupação é com qualquer derramamento de combustíveis. Estamos a monitorizar de perto e até ao momento não detetamos nenhum derramamento", continuou.

"Será devastador se isso acontecer, mas estamos a tomar todas as precauções".

Desde que o incêndio do navio deflagrou, a 20 de maio, que já chegaram peixes e tartarugas mortas e partículas de microplásticos a muitas praias do Sri Lanka, também populares entre os turistas. Mas agora a ameaça de um desastre ambiental é ainda maior.

O MV X-Press Pearl transportava 1.486 contentores, incluindo 25 toneladas de ácido nítrico e vários outros produtos químicos e cosméticos que foram carregados no porto de Hazira, na Índia, a 15 de maio.

Muitos dos contentores foram destruídos pelo incêndio, que destruiu o navio ao longo de 13 dias. Uns quantos com granulado de polietileno acabaram por cair no mar. Mas agora, as 278 toneladas de petróleo e as 50 toneladas de combustível do navio ameaçam poluir o Oceano Índico.
Desastre ambiental com origem humana?

O Presidente cingalês, Gotabaya Rajapaksa, tinha ordenado que o navio fosse afastado da costa para minimizar potenciais danos, já que MV X-Press Peral transportava mais de 300 toneladas de combustível nos tanques.

As autoridades do Sri Lanka lançaram, entretanto, uma série de medidas de emergência para proteger a lagoa Negombo, centro turístico do país, e as áreas circundantes, e limitar os danos causados por quaisquer detritos ou derrame de petróleo. Mas toneladas de pequenos pedaços de plástico da carga do navio já cobrem 80 quilómetros da costa ocidental da ilha, naquele que já é considerado o pior desastre ambiental da sua história.

"Esta é provavelmente a maior poluição de praia na nossa história", disse Dharshani Lahandapura, presidente da Autoridade de Proteção Ambiental Marinha (MEPA), já na semana passada.

Os especialistas receiam ainda que os microplásticos possam poluir todo o meio ambiente.

Com o naufrágio do navio e o risco de poluição do Oceano Índico, Lahandapura afirma que este é um "desastre causado pelo Homem".

"É um incidente infeliz para o Sri Lanka. Isto afetou negativamente o país de várias maneiras. O que estamos a fazer agora é minimizar o impacto negativo", afirmou.

O presidente da MEPA explicou ainda, à imprensa local, que a maioria dos produtos químicos a bordo do porta-contentores são "altamente reativos" e emitidos por vapores e gases.

"Alguns até se dissolvem na água do mar", disse ainda. "Não há ainda sinais de derramamento de petróleo".

Nas últimas horas, o Governo proibiu a pesca ao longo de 80 quilómetros da costa, afetando 5.600 barcos de pesca, e enviou centenas de militares e especialistas para limpar as praias.
Chamila Karunarathne - EPA

O Sri Lanka é considerado um dos países com maior biodiversidade no sul da Ásia.

O incêndio, que deflagrou no passado dia 20 de maio a bordo do MV X-Press Pearl e que já foi classificado como um dos piores casos de poluição marítima da história do Sri Lanka, está a ser alvo, entretanto, de uma investigação criminal. O Departamento de Investigação Criminal do Sri Lanka quer apurar as causas do incêndio, assim como avaliar os danos causados ao meio ambiente por este incidente.

A investigação criminal foi, aliás, aberta após uma denúncia da Autoridade de Proteção Ambiental Marítima do Sri Lanka, segundo explicou a polícia local. De acordo com a MEPA, o capitão do navio detetou um vazamento de ácido nítrico, a 11 de maio, muito antes de entrar nas águas do Sri Lanka.

A X-Press Shipping - a empresa dona do navio - confirmou que a tripulação estava ciente do vazamento, mas disse que foi negada a permissão do Qatar e da Índia para deixar o navio antes do início do incêndio.

O facto de o Sri Lanka ter permitido que o navio entrasse nas suas águas depois de ter sido rejeitado por duas outras nações está a gerar indignação pública.
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