Sudão. Representante da ONU recusa pensar em guerra civil mas militares controlam o país

por Lusa

O representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para o Sudão, Volker Perthes, declarou hoje que a ONU tudo fará para impedir qualquer risco de guerra civil, mas reconheceu que os militares "estão em controlo".

Em conferência virtual para jornalistas das Nações Unidas a partir de Cartum, capital do Sudão, onde hoje se deu um golpe militar, Volker Perthes recusou fazer especulações sobre a possibilidade de uma guerra civil, mas assegurou que o trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU) é impedir que isso aconteça.

"Deixo as previsões sobre o futuro para os peritos. O meu trabalho e o trabalho das Nações Unidas e de outros diplomatas é prevenir exatamente isso [guerra civil]", declarou o responsável, questionado duas vezes sobre a possibilidade de uma guerra civil.

"Se a sua pergunta é se parece que os militares estão em controlo, a minha resposta é sim, com todas as ressalvas de que não temos uma visão global, dada a falta de ligações telefónicas ou de Internet", respondeu Volker Perthes a uma outra questão.

O representante especial do secretário-geral, António Guterres, disse que "as Nações Unidas podem oferecer-se para mediar e juntar as partes em conflito, que terá de acontecer quando a situação acalmar", acrescentando que o esforço depende das contribuições dos Estados-membros.

Perthes, chefe da missão de assistência da ONU à transição no Sudão (Unitams), frisou que o conflito é "entre partes" no Sudão, mas não um conflito com intervenientes internacionais e expressou ainda esperança de que o momento vivido no país seja de "transição".

O presidente do Conselho Soberano, o mais alto órgão de poder no processo de transição do Sudão, general Abdel-Fattah al-Burhan, dissolveu hoje o Governo e o próprio conselho, horas depois de os militares prenderem o primeiro-ministro.

Volker Perthes citou promessas do general Al-Burhan de que "um gabinete tecnocrático será estabelecido e outras instituições principais serão ajustadas até fim de novembro" e que os "militares irão entregar o poder a um Governo civil eleito e que eleições serão realizadas em julho de 2023".

Volker Perthes disse ter tido, no domingo, conversações com os representantes militares, que se mostraram a favor de terem diálogos mediados pela ONU, mas também "indicaram que as forças armadas poderiam fazer uso da força".

"Obviamente, as nossas tentativas de levar toda a gente para o diálogo não foram bem-sucedidas", considerou.

Volker Perthes afirmou que hoje se realizou uma reunião da Comissão de Cessar-Fogo em Darfur, região do Sudão, com presença de representantes das forças armadas e representantes de signatários do Acordo de Paz de Juba (acordo assinado em outubro de 2020 para a estabilização do Sudão), visto como "um facto tranquilizador" pelo responsável.

Em relação à pobre situação humanitária no país, o representante especial considerou ser "muito cedo para prever" como a situação se poderá agravar, mas adiantou que mais de metade de 43 milhões de habitantes do Sudão estão em necessidade de assistência humanitária de várias formas, nomeadamente alimentar.

O representante especial recordou que o responsável pelo golpe militar, o general Al-Burhan, justificou a "necessidade de agir" com a situação humanitária, que terá sido "severamente afetada nas últimas quatro semanas", segundo Pethers, "pelo fecho da cidade portuária Port Sudan e da estrada principal de ligação com Cartum e resto do país".

O corte de ligações com Port Sudan é um bloqueio imposto desde 04 de outubro por seis tribos da parte leste do país, com liderança do líder tribal Sayed Tirik, como forma de protesto contra o governo central.

O líder tribal Sayed Tirik já se mostrou a favor do golpe militar de hoje, com a promessa de reabrir as ligações, que poderá trazer "algum alívio económico" para o resto do país segundo a ONU.

O secretário-geral da ONU condenou hoje o "golpe militar em curso" no Sudão e apelou à libertação "imediata" do primeiro-ministro, Abdallah Hamdok, detido esta manhã pelos militares e que se encontra em paradeiro desconhecido.

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