Suspeitas da morte de meio-irmão do líder norte-coreano devem iniciar defesa - juiz

por Lusa

Um juiz da Malásia decidiu hoje que duas mulheres acusadas de assassinar o meio-irmão do líder norte-coreano, Kim Jong-un, devem iniciar a defesa e considerou existirem fortes indícios de uma "conspiração bem planeada".

O juiz do Supremo Tribunal, Azmi Ariffin, disse ser possível inferir-se das provas apresentadas em tribunal que havia uma "conspiração bem planeada" entre as duas mulheres e quatro suspeitos norte-coreanos para matar Kim Jong-nam, que vivia exilado em Macau.

Azmi Ariffin admitiu que não podia "descartar a hipótese de ser um assassínio político", mas sublinhou não existirem provas concretas que fundamentem essa possibilidade.

O juiz pediu que as duas mulheres iniciassem a defesa depois da leitura da decisão, que demorou mais de duas horas. No final da leitura, as duas mulheres disseram que vão testemunhar na fase de defesa, que deverá estender-se por vários meses.

A indonésia Siti Aisyah, de 25 anos, e a vietnamita Don Thi Houng, de 29, as únicas suspeitas detidas, começaram a ser julgadas a 02 de outubro no Tribunal Superior de Shah Alam, um distrito nos arredores de Kuala Lumpur, perto do aeroporto onde Kim Jong-nam foi atacado em fevereiro de 2017 com VX, um agente neurotóxico, uma versão altamente letal do gás sarin, considerado uma arma de destruição em massa.

As duas mulheres, que se declararam inocentes no início do julgamento, podem ser condenadas à pena de morte por enforcamento caso sejam consideradas culpadas.

O Ministério Público acusou também quatro homens norte-coreanos, que fugiram da Malásia no dia do assassínio e continuam em liberdade, de planear com as duas mulheres a morte do meio-irmão de Kim Jong-un.

"Somos capazes de estabelecer que não é um simples assassínio. Existem muitas conotações políticas. Todos os suspeitos são norte-coreanos e a embaixada da Coreia do Norte não quis cooperar com a polícia", afirmou o advogado de Siti Aisyah, Gooi Soon Seng, em declarações aos jornalistas após a sessão do julgamento.

"Neste caso, o motivo parece ser mais político do que outra coisa qualquer (...) e as raparigas não teriam nenhum motivo político", reforçou o representante.

O caso ocorreu a 13 de fevereiro de 2017 num terminal de partidas do aeroporto de Kuala Lumpur.

Alegadamente, uma das mulheres distraíu a vítima, enquanto esta imprimia um cartão de embarque, enquanto a outra mulher se aproximou pelas costas e tapou o rosto de Kim Jong-nam com um pano ensopado com o potente produto tóxico.

Depois disto, as mulheres puseram-se em fuga, mas foram captadas pelas câmaras de vigilância do aeroporto. No local, Kim Jong-nam pediu assistência médica antes de desmaiar, na sequência de uma paragem cardíaca. O norte-coreano foi transportado para um hospital.

Quando foram detidas, dias após o incidente, as duas mulheres garantiram ser vítimas de um engano e disseram que pensavam estar a participar num programa de apanhados para a televisão.

Posteriormente, as acusadas disseram às autoridades que toda a situação tinha sido orquestrada por um grupo de quatro homens, todos cidadãos norte-coreanos.

Desde o primeiro momento que os serviços de informação da Coreia do Sul e dos Estados Unidos atribuíram o assassínio a agentes norte-coreanos, mas o regime de Pyongyang argumentou que a morte foi provocada por um ataque cardíaco e acusou as autoridades da Malásia de conspirarem com os seus inimigos.

Kim Jong-nam, que viajava com um passaporte com o nome de Kim Chol, ia viajar para Macau, onde vivia exilado.

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