Tajiquistão mobiliza todo o seu exército para exercícios surpresa

por Graça Andrade Ramos - RTP
Parada militar em Dushanbe, Tajiquistão, a 22 de julho de 2021 Reuters

Num aparente recado aos vizinhos afegãos, a braços com uma escalada militar provocada pelo avanço taliban, o Tajiquistão mobilizou 130 mil tropas da reserva além de 100 mil soldados no ativo, para exercícios militares, esta quinta-feira.

Foram os maiores exercícios militares jamais realizado no país e envolveram todas as forças armadas. O presidente Emomali Rakhmon, reeleito em outubro passado com 90 por cento dos votos, apelou ainda à vigilância, devido aos combates a sul das suas fronteiras.

O pessoal do exército, as forças de segurança e os militares na reserva foram colocados em estado de alerta cerca das 04h00 locais (23h00 GMT) em todo o país, no exercício intitulado Marz-2021.

Participaram mais de mil veículos, centenas de armas de artilharia, morteiros e dezenas de aviões, incluindo helicópteros, revelou o gabinete de Rakhmon em comunicado.

À hora designada, todos os soldados "se reuniram numa zona determinada onde verificaram a sua aptidão para o combate", revelou a imprensa tajique.
Prontidão para proteger a paz
Os exercícios concluíram-se com uma imensa parada militar em Dushanbe, junto à fronteira com o Afeganistão, onde discursou o presidente. As palavras foram transmitidas pela televisão a todo o país.

"A situação no Afeganistão, nomeadamente nas regiões do norte que fazem fronteira com o nosso país, permanece extremamente incerta, complica-se de dia para dia e mesmo de hora a hora", declarou Rakhmon.

"Uma situação tão complicada é uma novidade dos últimos 43 anos de luta contínua no Afeganistão", acrescentou, apontando o dedo à "ingerência externa" que dura "há 40 anos" e garantindo que o conflito no país vizinho só se resolverá "pela via pacífica".

"Devido à situação instável na região lembro de novo ao povo do Tajiquistão que deve estar pronto a proteger a paz e a estabilidade tão duramente alcançadas", frisou em seguida num recado claro.
Emomali Rakhmon, Presidente do Tajiquistão, preside à parada militar de 22 de julho de 2021 em Dushanbe Foto - Reuters
Rakhmon revelou ainda que foram enviadas 20 mil tropas da reserva para reforçar a fronteira sul do Tajiquistão com o Afeganistão.

No último mês, centenas de soldados leais ao Governo de Cabul entraram em território do Tajiquistão para fugir ao avanço taliban. O Tajiquistão devolveu-os à procedência, com Cabul a fretar aviões para repatriar os seus soldados.

Para agosto estão previstos exercícios conjuntos dos exércitos tajique e do vizinho Uzbequistão, com a participação russa. Moscovo mantém uma base militar em Dushanbe, onde tem estado a realizar manobras de treino. O Tajiquistão é uma antiga República Soviética da Ásia Central.
Aliados russos
A agência de notícias russa Interfax citou fontes militares russas para revelar que novos veículos de infantaria já estão a ser enviados para a base militar que Moscovo opera no Tajiquistão, para serem testados nos referidos exercícios, os quais terão lugar próximo da fronteira com o Afeganistão.

Depois do discurso em Dushanbe, o presidente Emomali Rakhmon falou ao telefone com o seu homólogo e aliado russo, Vladimir Putin, para abordar a situação do Afeganistão, referiu entretanto o Kremlin sem avançar detalhes. O Tajiquistão é um país pobre e montanhoso e partilha cerca de 1.200 quilómetros de fronteira com o Afeganistão, país onde os taliban lançaram uma ofensiva em inícios de maio, para recuperar território perdido com a ocupação militar ocidental há 20 anos, na sequência dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos da América.

A retirada das tropas norte-americanas e da NATO, iniciada há dois meses, deverá estar concluída até 31 de agosto.

Esta quinta-feira, um representante dos combatentes islamitas taliban, Zabioulla Moudjakhed, garantiu às agências noticiosas russas que as suas forças controlam 90 por cento dos postos fronteiriços afegãos.

A informação não pôde ser confirmada por fontes independentes.
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