Telefone vermelho liga líderes da Coreia do Norte e do Sul

por Christopher Marques - RTP
Em mais uma etapa de preparação para a cimeira das Coreias de dia 27 de abril, Seul e Pyongyang abriram esta sexta-feira um telefone vermelho que liga as duas capitais KCNA

A uma semana da cimeira entre os líderes das duas Coreias, um telefone vermelho foi instalado para que Kim Jong-un e Moon Jae-in possam contactar-se diretamente. Realizada a proeza técnica, espera-se que uma primeira conversa entre os dois dirigentes aconteça nos próximos dias. Seul já disse que espera converter o armistício de 1953 num tratado de paz. Donald Trump já anunciou a sua “bênção” a um passo que oficializaria o fim de uma guerra que começou em 1950.

Em mais uma etapa de preparação para a cimeira das Coreias de dia 27 de abril, Seul e Pyongyang abriram esta sexta-feira um telefone vermelho que liga as duas capitais. O telefone irá permitir que o presidente sul-coreano Moon Jae-in e o líder norte-coreano Kim Jong-un comuniquem antes do primeiro encontro entre os dirigentes dos dois países em uma década.

A linha telefónica agora instalada une a Casa Azul, residência oficial do presidente da Coreia do Sul, à Comissão dos Assuntos de Estado da Coreia do Norte, uma das mais importantes do país e que é presidida por Kim Jong-un. A presidência sul-coreana anunciou que a linha foi testada numa conversa entre responsáveis dos dois países que durou quatro minutos e 19 segundos.

Segundo a imprensa sul-coreana, Kim Jong-un e Moon Jae-in deverão conversar por telefone nos próximos dias, num diálogo que irá anteceder a cimeira marcada para sexta-feira, dia 27 de abril.

Este encontro será mais um passo dado na tentativa de reaproximação entre Norte e Sul. Depois de um 2017 marcado pelo aumento da tensão entre os dois países, as relações entre Pyongyang e Seul entraram numa nova fase no início deste ano.

A Coreia do Norte participou mesmo nos Jogos Olímpicos de Inverno que se realizaram na cidade sul-coreana de PyongChang, tendo sido enviada uma delegação liderada pela irmã de Kim Jong-un. Pyongyang convidou depois o presidente da Coreia do Sul para uma cimeira entre os dois, tendo endereçado um convite semelhante ao presidente dos Estados Unidos. Ambos foram aceites.

O encontro entre Kim Jong-un e Moon Jae-in realiza-se já na próxima sexta-feira na zona desmilitarizada que separa as duas nações. A Coreia do Sul mostra-se otimista com este encontro e espera que os dois países possam avançar para a assinatura de um tratado de paz que termine formalmente com a Guerra das Coreias. Trump já disse dar a sua “bênção” a esta ambição.
O preço da paz
Apesar da vontade apresentada pelas partes em avançar para a paz, o caminho para se lá chegar ainda se apresenta longo. Um dos temas em cima da mesa será desde logo a desnuclearização da Coreia do Norte e o fim do seu programa balístico que tanta tensão provocou ao longo de 2017.

Seul anunciou na quinta-feira que Pyongyang se mostrou disponível para avançar com uma “completa desnuclearização” sem impor aquela que tem sido uma das suas grandes reivindicações ao longo das últimas décadas: a saída das tropas norte-americanas situadas na Coreia do Sul.

“Não estão a apresentar qualquer condição que os Estados Unidos não possam aceitar tal como a retirada das tropas norte-americanas da Coreia do Sul. A Coreia do Norte apenas tem falado do fim da política de hostilidade e de ser garantida a segurança do país”, afirmou o presidente sul-coreano.

A Coreia do Norte não confirmou a revelação feita por Moon Jae-in. Os argumentos e reivindicações de Kim Jong-un são ainda desconhecidos mas a estratégia poderá começar a ser revelada esta sexta-feira, durante a sessão plenária do comité central do Partido dos Trabalhadores.

Do lado dos Estados Unidos, Donald Trump mantém o seu otimismo quanto à nova fase na relação com a Coreia do Norte mas também deixa avisos. O Presidente dos Estados Unidos já garantiu que está disposto a cancelar ou a abandonar o seu encontro com Kim Jong-un se o mesmo caminhar para o fracasso.

Um dos conceitos que promete ser amplamente discutido ao longo das próximas semanas é o da desnuclearização. O que significa para a Coreia do Norte e que implicações terá para a Coreia do Sul e os Estados Unidos?

A CNN nota que Pyongyang e Washington poderão não ter a mesma interpretação do conceito. Os Estados Unidos as Nações Unidas têm insistido que o processo terá de assegurar o fim total do programa nuclear, bem como a impossibilidade prática de o mesmo ser retomado. Este fim teria ainda de ser asseverado por observadores independentes.

A Coreia do Norte poderá exigir que a desnuclearização passe pela redução ou fim da presença militar norte-americana a Sul. Apesar de Washington não possuir armamento nuclear no território, Pyongyang tem classificado a presença de tropas norte-americanas como uma “ameaça nuclear”.
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