Terrorismo deixa de ser prioridade estratégica dos Estados Unidos

por Graça Andrade Ramos - RTP
A nova estratégia não inclui uma linha sequer sobre as alterações climáticas, que o anterior Presidente Barack Obama considerava um verdadeiro desafio à segurança nacional Reuters

As "ameaças crescentes" por parte da China e da Rússia são a principal ameaça à sobrevivência dos Estados Unidos, considerou o secretário da Defesa Jim Mattis, ao apresentar esta tarde em Washington a sua "estratégia de defesa nacional".

Mattis caracterizou ambas como "potências revisionistas" que "tentam criar um mundo conforme aos seus modelos autoritários" e ameaçam por isso o modelo de democracia seguido pelos Estados Unidos da América.O exército norte-americano terá de responder ao desafio tornando-se menos previsível. O objetivo agora é aumentar a operacionalidade em caso de grandes conflitos e aprender a ouvir os aliados.

O mês passado, Trump apresentou a sua "estratégia de segurança nacional" e esta é a sua face militar, e como tal apresentada por Jim Mattis.

Já na ocasião, o Presidente sublinhava que "as potências rivais, a Rússia e a China, tentam pôr em causa a influência, os valores e a riqueza da América".

É a concorrência entre potências que que volta a tornar-se prioridade. Sobretudo na defesa da "democracia".

"Se vocês nos desafiarem, será o vosso pior dia e o mais longo", avisou. Questão de concorrência
A nova estratégia de defesa norte-americana, a primeira apresentada em dez anos, "reconhece que a China e a Rússia em particular têm trabalhado assiduamente desde há vários anos no desenvolvimento das suas capacidades militares", explicou aos jornalistas o sub-secretário da Defesa para a estratégia, Elbridge Colby.

Nesse período , sublinhou, os Estados Unidos consagraram esforços na "luta contra o terrorismo e os estados párias".

Colby referiu contudo que agora "não se trata de desenvolver uma estratégia de confronto mas uma que reconhece a realidade de uma concorrência" militar acrescida por parte destas duas potências.

Já o Irão e a Coreia do Norte, classificados como Estados párias por Washington, "desestabilizam as suas regiões, procurando adquirir armas nucleares e apoiando o terrorismo", referiu ainda Colby.
Operacionalmente imprevisíveis
Mas a luta contra o terrorismo, apesar de se manter "importante", deixou de ser prioridade. China e Rússia ultrapassaram (de novo) as ameaças colocadas por grupos como a al Qaeda ou o Estado Islâmico.

Os Estados Unidos sentem-se confrontados com um ambiente de incerteza e querem procurar ser menos previsíveis e menos rígidos nas suas respostas.

No novo paradigma, o exército norte-americano tem de ter os meios para se modernizar pois a sua "vantagem competitiva diminui em todos os domínios - terrestre, marinho, aéreo, espacial e ciber-espacial - e não deixa de diminuir", acrescentou em Washington o secretário da Defesa de Donald Trump, ao apresentar o documento.

"Ao alterar a postura das nossas forças, iremos dar prioridade à preparação para o combate em grandes conflitos, o que nos tornará estrategicamente previsíveis para os nossos aliados mas operacionalmente imprevisíveis para os nossos adversários", explicou Mattis.

Esta semana, o Pentágono assumiu as suas grandes preocupações com as ciberameaças, tanto na vertente de ataque viral contra estruturas civis como no apetrechamento de armas autónomas, sobretudo num quadro de armamento e arsenais nucleares.

De forma particular, o documento apresentado para revisão à Casa Branca, aborda o desenvolvimento, já iniciado sob Barack Obama, de bombas nucleares de pequena dimensão, e uma nova arma autónoma nuclear que estará a ser desenvolvida por Moscovo.Aumento do orçamento
Preocupações que levam Mattis a apelar ao Congresso para que financie de forma adequada os militares e se abstenha de "cortes indiscriminados e automáticos" no orçamento federal norte-americano. Os quais, nos últimos anos, têm prejudicado mais as Forças Armadas norte-americanas do que qualquer inimigo externo, referiu.

"Nenhuma estratégia consegue sobreviver sem financiamentos previsíveis. Tão difíceis como foram os últimos 16 anos [ou seja desde os ataque de 11 de setembro de 2011], nenhum inimigo fez tanto mal às forças armadas como os tectos aos gastos de Defesa e as cativações", afirmou, num recado ao Senado que está a debater aditamentos orçamentais essenciais para manter o Estado Federal a funcionar.

Mattis afirmou mesmo que, se o dinheiro não chegar, muitas operações militares terão de encerrar.

"A nossas atividades de manutenção terão de provavelmente necerrar em cerca de 50 por cento, a maioria da minha força de trabalho civil será dispensada", afirmou. "Temos uma série de operações de informações em todo omundo e isso custa dinheiro. estas teriam obviamente de parar", acrescentou.

Donald Trump pretende aumentar os gastos com a defesa em dez por cento, ou 54 mil milhões de dólares, no orçamento para 2018 e espera recuperar o financiamento com cortes noutras áreas.

Mas, referem os analistas americanos, mais do que atirar dinheiro para cima dos problemas é necessária uma verdadeira modernização que faça o armamento americano recuperar vantagens.
Acusações incómodas
O documento, de 50 páginas, do qual foi tornado público apenas um resumo de uma dezena, acusa nomeadamente a China de ter utilizado "táticas económicas predatórias para intimidar os seus vizinhos ao mesmo tempo que militarizava o Mar da China".

Quanto à Rússia, é denunciada por ter "violado as fronteiras de países vizinhos", uma alusão à anexação da Península da Crimeia por Moscovo em 2014 a que se seguiu o conflito no leste da Ucrânia entre separatistas pró-russos e o Governo pró-ocidental de Kiev.

Acusações que deverão provocar reações fortes por parte de Moscovo e de Pequim, que têm denunciado por seu lado o carater "imperialista" e a "mentalidade de Guerra Fria" da estratégia de Donald Trump.
NATO. Está a correr "melhor"
Washington quer também ter uma maior "partilha do fardo" quanto ao reforço da Aliança Atlântica ou Nato.

"Esperamos dos nossos aliados europeus que sejam capazes de respeitar a sua promessa de aumentar os seus orçamentos e Defesa e modernização para reforçar a Aliança face as nossas preocupações de segurança comuns", sublinhou o secretário da Defesa.

Mattis afirmou ainda estar "encorajado" pelas respostas dos aliados neste campo. "está a correr melhor do que eu esperava", disse aos jornalistas, admitindo ainda que o Pentágono também tem de aprender a ouvir os seus aliados.

"Não somente a escutar", referiu, mas também a "deixar-se persuadir", referiu. "As boas ideias não vêm somente do país que tem mais porta-aviões".

A nova estratégia não inclui uma linha sequer sobre as alterações climáticas, que o anterior Presidente Barack Obama considerava um verdadeiro desafio à segurança nacional.
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