Terrorismo. "Estado Islâmico" rapta 20 crianças no nordeste da Nigéria

por RTP
Este ataque aconteceu perto da localidade de Chibok, cujo nome está associado ao rapto de mais de 270 raparigas pelo grupo islâmico Boko Haram. Reuters

Os combatentes do "Estado Islâmico" na África Ocidental entraram na localidade de Piyemi e raptaram 13 raparigas e 7 rapazes, com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos. Os jihadistas vestiam uniformes parecidos com os do exército e assaltaram lojas e casas à sua passagem. É o terceiro ataque dos últimos dias. As Nações Unidas alertam que o nordeste da Nigéria enfrenta uma crise “muito, muito perigosa e ameaçadora”.

"Mataram duas pessoas e apoderaram-se de 13 meninas e 7 meninos, com idades entre 12 e 15 anos", contou um dos moradores via telefone. “Carregaram as 20 crianças num camião e levaram-nas para a floresta”, acrescentou outro.

Os habitantes fugiram da cidade e passaram a noite fora, tendo regressado a casa esta sexta-feira.

"Este é o terceiro ataque dos últimos dias, o que acentua ainda mais as ameaças que pairam sobre os habitantes das aldeias ao redor de Chibok", disse um responsável comunitário daquela parte da Nigéria, que confirmou os factos relatados pelos moradores. Este responsável nota que o Estado de Borno é o epicentro da insurreição jihadista.

O ataque aconteceu perto da localidade de Chibok, cujo nome está associado ao rapto de 276 alunas pelo grupo islâmico Boko Haram. Tinham entre 12 e 17 anos. O rapto suscitou uma onda de indignação. Estiveram cativas durante sete anos, mas 100 das estudantes raptadas continuam desaparecidas.

Insurreição jihadista

O Estado Islâmico da África Ocidental apareceu em 2016 e resulta de uma cisão do grupo terrorista Boko Haram. Tornou-se no grupo terrorista dominante do nordeste da Nigéria, onde realiza ataques contra o exército, e consolidou o poder desde a morte do líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, em maio.

O conflito nesta zona da Nigéria já provocou cerca 40 mil mortes desde 2009 e fez mais de dois milhões de deslocados.

Por cada baixa, "mais nove pessoas, principalmente crianças, perderam a vida devido à falta de alimentos e recursos", refere um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, divulgado em junho do ano passado.

O terrorismo islâmico no nordeste da Nigéria é uma crise "muito, muito perigosa (e) ameaçadora", disse o responsável das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários.

"Este é um tipo de operação muito diferente e muito difícil também de dissuadir... um perigo grave e claro e presente, obviamente, para o povo, e uma prioridade para o Governo", afirmou Martin Griffiths, em entrevista à agência de notícias Associated Press, em Abuja, a capital da Nigéria.
 
"O mundo precisa de se lembrar que esta é uma tragédia que tem de ser resolvida", acrescentou.

O grupo terrorista divulgou esta semana um vídeo no qual mostrava dezenas de crianças combatentes a treinar em campos abertos e a serem ensinadas em salas de aula.
 
O vídeo mostra que os extremistas "estão aqui para ficar" e "uma nova geração está a chegar", aponta Vincent Foucher, do Grupo Internacional de Crise.

A ONU pretende que as populações deslocadas regressem a casa ou que, pelo menos, tenham esperança "de que talvez não se trate de um exílio indefinido das suas aldeias".

Para este ano, a ONU estima que o nordeste da Nigéria precisa de mais de mil milhões de dólares (880,2 mil milhões de euros). Estes fundos visam alimentar e garantir cuidados de saúde aos milhões de pessoas deslocadas e aos que, permanecendo nas suas casas, estão vulneráveis a ataques.
 
Os responsáveis nigerianos "compreendem que isto não é uma solução rápida", disse Martin Griffiths, após reuniões com representantes do Governo.

A luta da Nigéria contra os extremistas islâmicos "não pode ser ganha no campo de batalha". "Vence-se guerras civis na mente das pessoas que lá vivem", acrescentou Martin Griffiths. "Se não tivermos as comunidades do nosso lado, não importa quanto mais temos do nosso lado. Não faremos a paz", explicou.

Constituído por extremistas islâmicos da Nigéria, o grupo rebelde Boko Haram lançou uma insurreição no nordeste do país, em 2009, para lutar contra a educação ocidental e estabelecer a lei islâmica Sharia no mais populoso país de África. O seu raio de ação inclui também os países vizinhos da África Ocidental, como Camarões, Níger e Chade.

Além da região nordeste, o noroeste e o centro da Nigéria também estão a sofrer ataques violentos levados a cabo por grupos armados, que, tradicionalmente, trabalhavam como pastores de gado nómadas, e que estão envolvidos num conflito de décadas com as comunidades agrícolas Hausa sobre o acesso à água e à terra de pastagem.
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