Três vozes, três visões sobre o conflito israelo-palestiniano

por Paulo Alexandre Amaral, Pedro A. Pina, Nuno Patrício - RTP
Mussa Qawasma - Reuters

Nos últimos dois anos a RTP entrevistou três protagonistas com interesses particulares no conflito entre israelitas e palestinianos. Um deles, Miko Peled, é talvez o mais ambíguo destes personagens: sendo israelita é uma das vozes mais fortes da BDS (Boicote, Sanções e Desinvestimento), o mesmo movimento que no início dos anos 90 libertou Mandela. Mas há também Shahd Whadi, uma palestiniana refugiada que veio dar a Portugal, e Tamir Ginz, líder de um dos melhores grupos de dança contemporânea em Israel, um coreógrafo que diz nada ter a ver com política mas que não tem dúvidas em apresentar-se como um “judeu orgulhoso”.

Miko Peled, judeu israelita descendente de generais e fundadores do Estado de Israel, encontrou-se com a causa palestiniana depois da morte da sobrinha num ataque do Hamas, tornando-se numa das vozes mais singulares do movimento BDS.

Filha de refugiados palestinianos, Shahd Wadi nasceu no Egipto para entrar numa rota que a trouxe a Portugal. Jovem académica, integrou as listas do Bloco de Esquerda nas legislativas de 2015. Numa conversa contou-nos a sua ligação à Palestina, uma terra onde não lhe é fácil regressar.

Tamir Ginz é um coreógrafo premiado em Israel. Em Bersheeba fundou a Kamea Dance Company, de que é o atual diretor artístico e coreógrafo. Trouxe "Neverland" ao Festival de Almada, onde tinha à espera um protesto de ativistas pró-Palestina. O artista diz nada ter a ver com política, mas apresenta-se como um "judeu orgulhoso".
Miko Peled

É uma voz do movimento pró-Palestina que espalha a causa por todo o mundo. Nada de extraordinário no ativismo pró-Palestina, não fosse Miko Peled um israelita neto de um dos fundadores que assinou a Declaração de Independência do Estado de Israel. O seu pai, Mati Peled, foi um dos heróis da guerra de 1948, mais tarde general na guerra de 1967 - um oficial de elite que se tornou também ele num activista pela paz que defendia conversações com a OLP.

Na conversa que tivemos com ele, em 2015, Miko Peled dizia acreditar que o conflito israelo-palestiniano não duraria mais do que dez anos.



Shahd Wadi

Vem de uma família de refugiados palestinianos, nasceu no Egipto para entrar numa rota que a trouxe a Portugal. Jovem académica, investigadora e professora universitária, defendeu na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra a tese “Feminismos dos corpos ocupados: As mulheres palestinianas entre duas resistências”. É também militante do Bloco de Esquerda e membro do Comité de Solidariedade com a Palestina. Nasceu no Egipto, cresceu na Jordânia.

Chegou a Portugal há uma década e diz que se vê palestiniana e portuguesa. Por altura das últimas eleições, no dia em que as Nações Unidas deram luz verde para que a bandeira palestiniana fosse hasteada na sede da organização em Nova Iorque, contou-nos a sua ligação a uma terra a que não lhe é fácil regressar.


Tamir Ginz

É um coreógrafo premiado em Israel. Em Bersheeba fundou a Kamea Dance Company, de que é o atual diretor artístico e coreógrafo. Trouxe "Neverland" ao Festival de Almada, onde tinha à espera um protesto de ativistas pró-Palestina. Diz nada ter a ver com a política, mas apresenta-se como um "judeu orgulhoso".

Antes da estreia perante o público português, encontrámo-nos com ele no palco grande da Escola D. António da Costa, onde fazia um dos últimos ensaios de "Neverland". Disse-nos que o seu ofício é a arte, mas não esconde o amor por Israel, não tendo problemas em defender pátria e exército contra vozes como a BDS, que diz instigar a violência.

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