“Trolls” russos difundiram desinformação sobre vacinas nos EUA

por RTP
Entre os tweets analisados, encontraram várias contas que utilizavam a hashtag #VaccinateUS para espalhar informação falsa sobre as vacinas Karoly Arvai - Reuters

Um estudo publicado esta quinta-feira descobriu que contas no Twitter de hackers russos usaram a rede social para promover a discórdia acerca das vacinas nos Estados Unidos. As contas falsas pertencem ao mesmo grupo de envolvido na polémica acerca da intervenção russa nas eleições americanas de 2016.

O objetivo era entender como as redes sociais influenciam a opinião pública sobre as vacinas, e acabaram por obter resultados inesperados. Um estudo publicado esta quinta-feira na Revista Americana de Saúde Pública revelou que trolls russos difundiram desinformação acerca das vacinas no Twitter.

O grupo de cientistas, liderado pela Universidade George Washington, apurou ainda que vários tweets pertenciam à Internet Research Agency, o mesmo grupo de hackers envolvido na polémica acerca da intervenção russa nas eleições presidenciais americanas de 2016.

A equipa de George Washington afirma que desde julho de 2014 a setembro de 2017 recolheram mais de 1,7 milhões de publicações no Twitter. Encontraram várias contas que utilizavam a hashtag #VaccinateUS para espalhar informação falsa sobre as vacinas.

Muita dessa desinformação era propagada por bots – programas informáticos que simulam o comportamento humano – e por trolls – indivíduos que deturpam as suas identidades com o objetivo de promover a discórdia. A maioria das contas pertencia ao grupo hacker russo.

“Começamos a ver estes tweets e imediatamente pensamos ‘Estes são um pouco estranhos’”, disse o professor auxiliar na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade George Washington e autor principal do estudo, David Broniatowski.
Mensagens associadas a questões controversas
“Uma das coisas sobre os tweets que causou estranheza foi que eles tentaram – ou pareciam tentar – relacionar as vacinas a questões controversas americanas, como disparidades raciais ou desigualdades de classes que não são tradicionalmente associadas à vacinação”, observou Broniatowski.

Mensagens como “Sabiam que vacinas causam autismo?”, “Não se vacinem, os Illuminati estão por detrás disso”, “Sabem que há uma base de dados governamental secreta de crianças danificadas pelas vacinas?” e “Aparentemente apenas a elite obtém vacinas ‘limpas’. E o que nós, pessoas normais, recebemos?”, foram alguns dos exemplos enumerados no estudo.

Outro dado interessante revelado pela investigação é o facto de a informação difundida pelos agentes de desinformação defender posições contra mas também a favor da vacinação. Segundo os dados recolhidos, 253 tweets com a hashtag #VaccinateUS foram publicados pelos trolls russos. Entre esses tweets, 43 por cento eram a favor das vacinas, 38 por cento contra e 19 por centro eram neutros.

O objetivo era promover a discórdia entre ambos os grupos, nos EUA e também noutros países. “As comunicações de saúde tornaram-se uma arma. Questões de saúde pública, como a vacinação, fazem parte das tentativas de potências estrangeiras gerarem conflitos ao espalhar informação falsa", diz o estudo.
Consequências da desinformação
O estudo alerta para a quantidade de desinformação relacionada com a saúde que é difundida nas redes sociais, representando uma ameaça à saúde pública. O grupo de cientistas explica que tais informações “reduzem potencialmente a taxa de vacinação e aumentam os riscos de epidemias globais, particularmente entre grupos mais vulneráveis”.

Acrescentam que a exposição a informações falsas tem consequências, como o aumento da hesitação e do atraso relativamente à vacinação.

“Pais hesitantes em relação às vacinas são mais propensos a procurar informações na internet e menos propensos a confiar em profissionais de saúde e especialistas em saúde pública acerca do assunto”, dizem os cientistas no estudo.

O estudo surge numa altura em que a Europa registou um número histórico de casos de sarampo no primeiro semestre deste ano e um aumento do número de doenças para as quais existe vacinação, como a gripe e a pneumonia. Os cientistas alertam, por isso, para a importância do combate à desinformação online acerca das vacinas.
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