Trump acredita que a “ameaça” russa continua a visar os EUA

por Andreia Martins - RTP
Joshua Roberts - Reuters

Mais um dia, mais um esclarecimento. Agora foi a Casa Branca, que veio garantir esta quarta-feira que o Presidente norte-americano acredita na permanência da ameaça russa sobre a democracia norte-americana, mesmo depois das eleições presidenciais de 2016. Ao início da tarde, Donald Trump parecia ter afirmado precisamente o contrário durante uma conferência de imprensa.

Em Washington, a Administração Trump continua a tentar conter os efeitos nefastos da conferência de Helsínquia do Presidente norte-americano ao lado de Vladimir Putin. O novo esclarecimento surgiu esta quarta-feira em conferência de imprensa, com a porta-voz Sarah Sanders a fundamentar um comentário que tinha sido feito horas antes por Donald Trump. 

Sanders veio explicar que Trump foi mal interpretado e que o Presidente norte-americana acredita que a ameaça russa continua presente.  

Na conferência ao início da tarde, Donald Trump tinha respondido apenas “não”, quando questionado se acreditava que Moscovo continuava a representar uma ameaça à democracia norte-americana.  

“Eu falei com o Presidente e ele disse que não respondeu a essa questão”, explicou Sarah Sanders. A refutação do líder norte-americano perante os microfones pretendeu apenas informar que não responderia a mais questões dos jornalistas naquela conferência, refere a porta-voz.  

“O Presidente e a sua administração trabalham arduamente para assegurar que a Rússia não consiga interferir nas eleições como fez no passado. Acreditamos que a ameaça continua a existir”, acrescentou.   

Sarah Sanders voltou a confirmar que Vladimir Putin e Donald Trump discutiram o dossier da interferência nas eleições norte-americanas durante o encontro bilateral de Helsínquia, na passada segunda-feira.  

Nessa reunião, assegurou a porta-voz, o Presidente norte-americano “deixou claro” a Vladimir Putin que não pode haver mais interferência russa nas próximas eleições dos Estados Unidos.
Problemas de linguagem

Este é já o segundo problema de interpretação relacionado com a alegada interferência russa nas eleições norte-americanas que a Casa Branca se vê obrigada a clarificar no espaço de apenas dois dias.  

Ainda na terça-feira, o Presidente norte-americano deu uma conferência de imprensa a esclarecer que não se explicou da melhor forma na conferência conjunta com Vladimir Putin, após a cimeira realizada com o Presidente russo na última segunda-feira.  

Donald Trump garantiu ontem ter "plena fé" nos serviços secretos e nas agências norte-americanas. Acrescentou que "aceita" as conclusões que estas já tornaram públicas sobre a alegada ingerência da Rússia nas eleições presidenciais, uma ação no sentido de prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton, adversária de Trump nas eleições de 2016.

Na segunda-feira, em resposta aos jornalistas presentes, o Presidente norte-americano tinha dito que não estava convencido relativamente à influência de Moscovo nas eleições norte-americanas, ainda que os seus serviços de informações tenham apresentado muito recentemente conclusões que vão no sentido contrário.  

"Não vejo nenhuma razão para que tenha sido a Rússia. O Presidente Putin foi extremamente forte e poderoso nas suas negações", disse na segunda-feira o Presidente norte-americano, ao lado de Vladimir Putin.  

No entanto, após 24 horas de críticas em uníssono de vários quadrantes políticos e de personalidades relevantes do próprio Partido Republicano, o Presidente norte-americano veio esclarecer que pronunciou mal uma das frases-chave captadas pela imprensa, esquecendo-se de adicionar uma "partícula negativa" e acabando por enviar uma mensagem no sentido contrário ao desejado.

“A frase deveria ter sido 'Não vejo nenhuma razão para que não tenha sido a Rússia', uma espécie de frase com negativa dupla", explicou ontem o líder norte-americano. 
“Doença mental anti-Trump”

Os dois esclarecimentos oferecidos pela Casa Branca nas últimas 24 horas surgem depois de várias personalidades do espectro político norte-americano terem desferido fortes críticas contra o Presidente pelas palavras proferidas ao lado de Vladimir Putin.  

Perante a reprovação de democratas, republicanos e mesmo de responsáveis ligados aos serviços de informações norte-americanos, incluindo John O. Brennan, antigo diretor da CIA, que acusou o atual Presidente de “traição”, e o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Rand Paul, que lembrou a Trump que a Rússia “não é um país aliado”.

Por sua vez, o diretor nacional dos serviços de informações, Dan Coats, veio confirmar que as agências norte-americanas “têm sido claras” na questão da interferência russa. Hoje, Trump fez o diagnóstico dos seus críticos.  

“Algumas pessoas ODIARAM o facto de eu me ter dado bem com o Presidente russo, Vladimir Putin. Preferiam ir para a guerra a ver isso. Chama-se doença mental anti-Trump”, escreveu esta quarta-feira o Presidente norte-americano no Twitter.


O neologismo na sua forma anglo-saxónica (Trump Derangement Syndrome) está a ser amplamente usado por políticos mais próximos de Donald Trump para contra-atacar os críticos do Presidente, tendo surgido pela primeira vez numa entrevista recente do senador republicano Rand Paul à televisão Fox News. 
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