Donald Trump nunca aceitou a derrota na eleição presidencial de 2020 frente a Joe Biden. E passados dois anos continua em negação e a exigir que o nomeiem presidente dos Estados Unidos. No sábado, voltou a apelar à anulação das eleições, a referir a alegada "fraude eleitoral" e, desta vez, acenou com a extinção da Constituição.
O republicano acrescentou que os fundadores da Constituição norte-americana “não queriam e não tolerariam eleições falsas e fraudulentas”.
Os comentários de Trump surgem depois da decisão do novo proprietário da rede social Twitter, Elon Musk, de revelar deliberações internas de 2020 da companhia sobre a divulgação de uma história do jornal New York Post, a partir de ficheiros alegadamente pertencentes ao computador pessoal de Hunter Biden. O filho do atual presidente norte-americano foi anteriormente visado pelo campo de Trump por alegadas suspeitas de ilegalidades cometidas na Ucrânia.
Musk andava a anunciar que iria divulgar informações censuradas com base em documentos internos do Twitter que, segundo o mesmo, revelariam o “que realmente aconteceu” quando a empresa decidiu suspender temporariamente uma publicação do New York Post, em 2020, sobre Hunter Biden. Mas na sexta-feira a grande revelação do novo dono do Twitter foi uma série de publicações do jornalista Matt Taibbi.
Depois de divulgar as várias publicações de Taibbi, Musk admitiu que a empresa censurou a divulgação da informação sobre o computador pessoal do filho do atual presidente exposta no New York Post e defendeu que esta fuga de informação seria necessária "para restaurar a confiança das pessoas". De acordo com o Politico, quando o Post se recusou a apagar um tweet sobre a história, a rede social suspendeu a conta do meio de comunicação durante mais de duas semanas, antes de reverter a suspensão a 30 de outubro de 2020. O então presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, indicou mais tarde que lamentava a decisão da plataforma de censurar a história.
Numa sucessão de publicações, Taibbi revelou ainda que ambas as campanhas presidenciais de 2020, tanto de Trump como de Biden, solicitaram ao Twitter a remoção de mensagens publicadas naquela rede social.
A verdade é que Hunter Biden, cujo estilo de vida errático foi denunciado durante meses por apoiantes do ex-presidente, continua a ser objeto de uma investigação criminal pelo Departamento de Justiça que se tem concentrado nos seus assuntos fiscais e nas suas operações económicas no estrangeiro, em particular na Ucrânia.
Trump é “inimigo” da Constituição
As novas declarações e teorias da conspiração do ex-presidente dos EUA já motivaram uma reação da Casa Branca, com o porta-voz Andrew Bates a criticar as declarações como um “anátema sobre a alma da nação”, apelando para que Trump seja “universalmente condenado” por estas afirmações.
“Não se pode amar a América apenas quando se ganha. A Constituição dos EUA é um documento sacrossanto que há mais de 200 anos assegura que a liberdade e o Estado de Direito prevaleçam no nosso grande país. A Constituição une o povo norte-americano, independentemente do partido, e os líderes eleitos fazem o juramento de a defender", afirmou Bates.
Também a deputada republicana Liz Cheney, de Wyoming, uma crítica assumida de Trump, denunciou a declaração Truth Social do ex-presidente no domingo. A também vice-presidente da comissão que investiga o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos , teewtou que a declaração de Trump prova que o republicano “é um inimigo da Constituição”.
Donald Trump believes we should terminate “all rules, regulations and articles, even those found in the Constitution” to overturn the 2020 election. That was his view on 1/6 and remains his view today. No honest person can now deny that Trump is an enemy of the Constitution.
— Liz Cheney (@Liz_Cheney) December 4, 2022
No domingo, congressistas democratas e republicanos criticaram o comentário do ex-presidente, que recentemente anunciou que vai concorrer à eleição presidencial de 2024.
"Na semana passada ele jantou com antissemitas. Agora, pede o fim da democracia constitucional nos Estados Unidos", tweetou o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, em referência ao jantar na residência de Donald Trump na Flórida no qual participou Nick Fuentes, um supremacista branco e proeminente negacionista e Kanye West.
Trump "está fora de controlo e é um perigo para a nossa democracia", acrescentou Schumer. "Todos devem condenar este ataque à nossa democracia”.
Já o ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, o ultraconservador John Bolton, expressou o desagrado com a sugestão do ex-presidente.
"Todos os verdadeiros conservadores deveriam opor-se à sua campanha para a eleição presidencial de 2024", escreveu.