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Trump "desapontado" admite agir junto do Departamento de Justiça

por Carlos Santos Neves - RTP
“Estou muito desapontado com o meu Departamento de Justiça”, queixou-se o Presidente dos Estados Unidos em entrevista à Fox News Olivier Douliery - EPA

Donald Trump quis esta quinta-feira capitalizar uma entrevista à Fox News para martelar críticas ao Departamento de Justiça e ao FBI, que acusou de “caça às bruxas”. Depois de alegar que tem evitado interferir nas investigações em curso, a começar pelas diligências sobre as suspeitas de conluio com a Rússia, o Presidente dos Estados Unidos deu a entender que “em algum momento” poderá começar a agir de outro modo.

Na entrevista à estação televisiva norte-americana mais conotada com a ala conservadora, Trump não vai ao ponto de ameaçar diretamente com um travão à investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller. Mas as suas palavras acabam por alimentar os receios de quem, nos corredores da política dos Estados Unidos, teme tal comportamento a partir da Sala Oval da Casa Branca.

“Por causa do facto de eles terem esta caça às bruxas a acontecer, com pessoas no Departamento de Justiça que não deveriam estar lá, eles têm em curso uma caça às bruxas contra o Presidente dos Estados Unidos, tomei a posição – e não tenho de a tomar e talvez a mude – de não me envolver com o Departamento de Justiça”, afirmou Donald Trump.Várias vozes democratas expressaram já o receio de que o 45.º Presidente possa tentar afastar o procurador especial Robert Mueller ou o seu supervisor, o vice-procurador-geral Rod Rosenstein.


“Estou muito desapontado com o meu Departamento de Justiça. Posso mudar de ideias em algum momento, porque o que está a suceder é uma vergonha. É uma vergonha absoluta”, insistiu o Presidente norte-americano, em tom de ameaça.

Nestas declarações à Fox News, Trump voltou a responsabilizar o ex-diretor do FBI James Comey, a quem chamou de “mentiroso” e “bufo” - leaker foi a expressão original - pelo que considerou ser uma fuga ilegal de informações sobre o Presidente. Algo, advogou, que deveria levar o Departamento de Justiça a atuar, para lá do escrutínio sobre o alegado conluio da sua campanha presidencial com agentes russos para desacreditar Hillary Clinton.

“O nosso Departamento de Justiça deveria olhar para estas coisas, não para o disparate do conluio com a Rússia. Não há conluio com a Rússia e toda a gente sabe disso”, vincou.

Trump acusou mesmo Comey de ter passado memorandos classificados como secretos a um amigo - Daniel Richman, professor de direito na Universidade de Columbia - para forçar a investigação do dossier Rússia.

“Os memorandos eram sobre mim e ele não os escreveu rigorosamente. Ele escreveu muita coisa falsa. Ele é culpado de crimes”, disparou.

“Eu amo o FBI e o FBI ama-me. Mas as pessoas de topo no FBI foram patifes. Olhamos para a corrupção no topo do FBI, é uma vergonha”, carregou o Presidente dos Estados Unidos.

A par de James Comey, por si despedido, Trump tem repartido críticas pelo procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, por causa da decisão de se manter distante da investigação ao alegado conluio com os russos, pelo procurador especial Robert Mueller e pelo vice-procurador-geral Rod Rosenstein, que supervisiona as diligências.
E Cohen?

Questionado sobre outro ramo das investigações - aquele que envolve o seu advogado Michael Cohen e a alegada compra do silêncio de uma atriz pornográfica com quem Donald Trump teria mantido uma relação -, o Presidente norte-americano procurou mostrar-se tranquilo. Disse mesmo ter recebido a informação de que “não está envolvido”.

“Michael representava-me em algumas coisas, como este assunto louco da Stormy Daniels, e pelo que vejo ele não fez nada de errado. Não houve fundos de campanha a irem para isto”, defendeu-se.

Em causa, recorda a edição online da Fox News, está um pagamento de 130 mil dólares, pela mão de Michael Cohen, a Stephanie Clifford, conhecida como Stormy Daniels na indústria dos filmes para adultos. O dinheiro foi entregue nas semanas que antecederam a eleição presidencial de 2016 e visaria garantir que a atriz nada dissesse sobre um encontro de cariz sexual, dez anos antes, com o magnata do imobiliário.

Na mesma entrevista, o Presidente dos Estados Unidos abordou os preparativos para a possível cimeira com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Evasivo, disse estar a ponderar três ou quatro datas e pelo menos cinco locais para o encontro, cuja realização não é ainda um dado adquirido.

“Pode acontecer que eu saia rapidamente, com respeito, mas pode ser que o encontro nem chegue a acontecer. Quem sabe. Mas posso dizer-vos desde já que eles querem a reunião”, disse.

c/ agências internacionais
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