Trump fecha portas a embaixador britânico e arrasa May

por Carlos Santos Neves - RTP
Donald Trump e Theresa May a conversar durante a sessão de encerramento da última cimeira do G20, a 29 de junho, em Osaka, no Japão Reuters

Uma brecha nas comunicações entre a embaixada do Reino Unido em Washington e Londres expôs uma avaliação diplomática que cilindra a Administração Trump, classificando-a de “inepta” e “desastrada”. Às considerações do embaixador britânico Kim Darroch, o Presidente dos Estados Unidos reagiu esta segunda-feira com um duro contra-ataque. Theresa May, de saída, é o alvo.

“Tenho sido muito crítico da forma como o Reino Unido e a primeira-ministra Theresa May lidaram com o Brexit. Que confusão que ela e os seus representantes criaram. Eu disse-lhe como deveria fazer, mas ela decidiu ir por outro caminho. Não conheço o embaixador, mas ele não é apreciado ou bem visto nos Estados Unidos”, escreveu o Presidente norte-americano no Twitter.

“Deixaremos de lidar com ele. A boa notícia para o maravilhoso Reino Unido é que eles em breve terão um novo primeiro-ministro”, acrescenta Donald Trump, antes de concluir: “Embora tenha gostado profundamente da magnífica visita de Estado do mês passado, foi com a Rainha que fiquei mais impressionado”.


Parecem assim condenados ao fracasso os esforços de controlo de danos empreendidos ao longo do último domingo pelos canais diplomáticos de Londres, na sequência da divulgação de mensagens do embaixador britânico nos Estados Unidos particularmente críticas para com o desempenho da atual Administração republicana.

Na letra dos memorandos de Kim Darroch, noticiados pelo tabloide britânico Daily Mail, a Casa Branca de Trump é descrita como uma instituição tomada pela inépcia. O embaixador adverte mesmo o seu Governo para a possibilidade de a “carreira” do 45.º Presidente “acabar em desgraça”. Descreve também os diferendos no seio da Administração como “lutas de facas”.

“Não acreditamos realmente que esta Administração vá tornar-se substancialmente mais normal, menos disfuncional, menos imprevisível, menos facciosa, menos desastrada na diplomacia e inepta”, escreveu o diplomata.

A viver os últimos dias do seu mandato no Número 10 de Downing Street, sem ter conseguido levar a bom porto o processo da saída do Reino Unido da União Europeia, Theresa May vê-se agora no centro do alvo da diatribe de Donald Trump. O staff da primeira-ministra cessante voltou esta segunda-feira a procurar deitar água sobre a fervura em Washington. Sem êxito.

“Contactámos a Administração Trump para esclarecer que consideramos esta fuga de informação inaceitável”, enfatizou um porta-voz de May. “É, claramente, lamentável que isto tenha acontecido”, acentuou.
Inquérito no Foreign Office
Jeremy Hunt, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros e adversário de Boris Johnson na corrida conservadora à sucessão de Theresa May, expressou, tal como o Número 10, desacordo com as considerações do embaixador Darroch, mas considerou, simultaneamente, “muito importante” que os representantes diplomáticos do país possam “continuar a dar as suas apreciações francas”.
O gabinete da ainda primeira-ministra britânica afirmou que Theresa May mantém “plena confiança” no embaixador em Washington, embora não concorde com o teor dos memorandos.

“Temos de ser capazes de ter um debate dentro destes edifícios [do Governo], temos de poder discordar”, afirmou Hunt em conferência de imprensa, durante a qual anunciou um inquérito para apurar responsabilidades na fuga dos memorandos para a imprensa.

Natural de South Stanley, no Condado de Durham, Kim Darroch, de 65 anos, está há mais de quatro décadas na carreira diplomática, tendo-se especializado em temas de segurança nacional e da União Europeia – em 2007 foi mesmo representante permanente do Reino Unido na União, em Bruxelas.

O embaixador em Washington, agora a um passo de ser oficialmente declarado persona non grata, foi conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro de 2012 a 2015. Nestas funções, lê-se na edição online da BBC, geriu dossiês como a ascensão do Estado Islâmico, a anexação russa da Crimeia, o colapso das instituições de governo na Líbia ou o programa nuclear do Irão.

Darroch é embaixador nos Estados Unidos desde janeiro de 2016.
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