Trump invoca "progresso imenso" da NATO mas exige mais

por Andreia Martins - RTP
A conferência de imprensa de Donald Trump decorreu no segundo dia da cimeira da NATO, em Bruxelas Reinhard Krause - Reuters

Em conferência de imprensa unilateral, no encerramento da cimeira em Bruxelas, o Presidente norte-americano sublinhou que os Estados-membros “aumentaram o seu empenho de forma substancial” e que a Aliança Atlântica “está muito mais forte do que estava há dois dias”. Voltou ainda assim a apelar ao reforço do investimento em defesa, considerando que os Estados Unidos "continuam a pagar demasiado" pela NATO em relação aos restantes países. Donald Trump abordou ainda alguns dos temas que serão discutidos durante o encontro com Vladimir Putin na próxima segunda-feira, enfatizando que prefere olhar para o homólogo russo “como um concorrente, não como um inimigo”.

Ao segundo dia de cimeira da Aliança Atlântica, Donald Trump lançou o caos. Logo no início dos trabalhos, o Presidente norte-americano decidiu voltar ao tema dos gastos com a defesa, pressionando a Alemanha e outros países europeus a comprometerem-se com um maior investimento.

A agenda não previa que esse assunto voltasse a estar em cima da mesa. O dia estava reservado para a discussão do envolvimento da NATO no Afeganistão, bem como para as conversações com a Geórgia e a Ucrânia, que pretendem integrar a Aliança Atlântica.

No entanto, quando o tema dos gastos com defesa foi abordado de forma espontânea pelo líder norte-americano, os presidentes dos três países externos à organização foram convidados a sair da sala, uma vez que se tratava de um assunto de cariz interno.

Segundo a agência Reuters, Donald Trump rompeu mesmo o protocolo diplomático e chocou os restantes líderes presentes na reunião, ao tratar a chanceler alemã pelo primeiro nome. "Angela, tens de fazer algo sobre isto", terá dito o Presidente norte-americano, citado por vários responsáveis presentes no encontro.

O improviso norte-americano obrigou Theresa May e Angela Merkel a cancelarem as respetivas conferências de imprensa. Ora, o momento de perguntas e respostas aos jornalistas protagonizado por Donald Trump, que não estava previsto na agenda do Presidente, voltou a criar desordem a partir do momento em que Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, anunciou a conferência no Twitter.


Já durante a conferência de imprensa, o Presidente norte-americano tocou nos mais variados temas, com especial ênfase nos resultados que retirou da própria cimeira que decorreu em Bruxelas nos últimos dois dias. Donald Trump faz uma leitura positiva e viu mesmo um "progresso imenso" no encontro de líderes, uma vez que todos se comprometeram a "aumentar os gastos" com defesa.

"Ontem disse-lhes que estava muito descontente com o que estava a acontecer e eles aumentaram o seu empenho de forma substancial. Agora estamos muito felizes. Temos uma NATO muito poderosa e muito forte. Está muito mais forte do que estava há dois dias", concluiu o Presidente norte-americano. 

Donald Trump assegurou ainda que o empenho dos Estados Unidos com a organização "continua muito forte" e assinalou o "nível de espírito" que encontrou nas reuniões de trabalho com os restantes líderes.

Nas contas da Administração norte-americana, os restantes 28 países da aliança atlântica "angariaram desde o ano passado mais 33 mil milhões dólares" e comprometeram-se a aumentar esforços para atingir mais rapidamente a meta dos dois por cento do PIB em gastos com a defesa.

Neste ponto, Trump voltou a assinalar que os gastos em defesa obrigatórios a cada país se deveriam situar nos quatro por cento, ou seja, o dobro daquilo que a esmagadora maioria dos países ainda não consegue despender. "Os números [do investimento] subiram como um foguete, e vão continuar a crescer", acrescentou.



Questionado pelos jornalistas sobre uma potencial ameaça de saída dos Estados Unidos da organização, o Presidente norte-americano não ofereceu uma resposta direta, referindo apenas que "teria ficado muito infeliz" se os países não se demonstrassem dispostos a aumentar as respetivas despesas e que, enquanto Presidente dos Estados Unidos, poderia retirar o país da Aliança Atlântica sem o aval do Congresso. "Penso que poderia, mas isso não é necessário", disse.

Segundo o jornal The Guardian, vários responsáveis europeus, incluindo o Presidente francês, contrariaram as afirmações do líder norte-americano, esclarecendo que os Estados Unidos não conseguiram novos compromissos significativos. Os planos de investimento de cada país permaneciam praticamente os mesmos que vigoravam antes da cimeira.

Em declarações às agências internacionais, Emmanuel Macron garantiu que a França vai cumprir o objetivo dos dois por cento até 2024, realçando ainda que a organização transatlântica só pode funcionar de forma coesa se o "fardo for partilhado", uma ideia repetida exaustivamente pelo homólogo norte-americano.

No final dos trabalhos, Angela Merkel referiu que esta foi uma cimeira "muito intensa". A declaração surge um dia depois da contenda entre a chanceler alemã e o Presidente norte-americano, com os Estados Unidos a considerarem como "muito inapropriado" o envolvimento da Alemanha no novo gasoduto Nord Stream 2. Horas depois, Merkel garantia a independência de Berlim em relação a Moscovo.

Na conferência de imprensa, Trump assegurou que tem "um grande respeito pela Alemanha", mas avisou que o projeto do gasoduto que liga a Rússia à Alemanha "está a dividir a Europa".
Putin "não é um inimigo"

Nos quase 40 minutos de conferência da imprensa, o Presidente norte-americano teve tempo de tocar em várias temáticas que foram além da cimeira da NATO. O encontro com Vladimir Putin, marcado para a próxima segunda-feira em Helsínquia, na Finlândia, foi alvo da curiosidade dos jornalistas presentes, que tentaram perceber o teor e as prioridades da reunião bilateral.

Nesse dossier, Donald Trump fez questão de esclarecer que o Presidente russo "não representa uma ameaça, é para isso que temos a NATO", e também que "não é um inimigo".

"Ele é um concorrente, não é meu inimigo. Espero que um dia venha a ser um amigo. Agora não o conheço assim tão bem", frisou.

O líder norte-americano desvalorizou a importância do encontro de segunda-feira, que muitos apontavam como potencial aniquilador de progressos alcançados duranta cimeira de Bruxelas.

Donald Trump esclareceu que vão estar em cima da mesa vários temas, incluindo a guerra na Síria, a situação na Ucrânia e a alegada interferência nas eleições presidenciais norte-americanas.

Ainda sobre o encontro que decorre dentro de poucos dias, o Presidente norte-americano referiu que o melhor acordo possível a alcançar com Vladimir Putin seria no âmbito do desarmamento nuclear.

"O melhor desfecho possível do encontro? Vejamos. O fim das armas nucleares em todo o mundo, o fim das guerras, o fim dos problemas e conflitos. Isso seria o melhor desfecho possível", disse Donald Trump.

Concluída a cimeira da NATO, o Presidente norte-americano viajou para Londres, onde se vai encontrar com a primeira-ministra britânica Theresa May, mas também com a rainha Isabel II e com potenciais manifestações nas ruas contra a sua presença. Desloca-se depois até à Escócia, onde vai passar o fim de semana num dos seus clubes privados de golfe. Por fim, na segunda-feira, Trump tem encontro marcado com Putin em Helsínquia.
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